Publicado em 1 de setembro de 2018 às 23:42
De um lado, sucessivos e crescentes casos de intoxicações pelo uso de agrotóxicos agrícolas, seja pelos próprios trabalhadores e até consumidores, e uma onda global de valorização das produções orgânicas e com menos defensivos. De outro, quase 200 novos produtos tóxicos tiveram aprovação para entrar no Brasil apenas no primeiro semestre deste ano, quase um agrotóxico liberado a cada dia útil.>
Esse cenário dúbio ainda se dá em um momento de intenso debate sobre a flexibilização do uso dos agrotóxicos. Tramita na Câmara dos Deputados um projeto de lei para acelerar a liberação desses produtos, reduzindo as proibições, facilitando o uso das substâncias que apresentem grau de risco aceitável.>
O texto do projeto prevê ainda a expedição de licenças temporárias, mudanças na fiscalização na comercialização e aplicação, e chega até a propor uma mudança de nome dos agrotóxicos para defensivos agrícolas e produtos fitossanitários.>
Isso em um cenário em que os trabalhos de fiscalizações não dão conta de garantir a mínima proteção a trabalhadores, o armazenamento e a aplicação devida desses produtos no campo. A utilização com proteção adequada, por exemplo, poderia ter evitado a intoxicação de um trabalhador rural de 26 anos, morador de Rio Bananal.>
>
No dia 26 de junho, ele aplicava um produto numa plantação de coco em cima de um trator quando sentiu por duas vezes o líquido pingando nos olhos, já que mirava o jato para o alto. Ele até usava uma máscara, mas não era a apropriada e de nada adiantou.>
Eu apliquei de manhã e quando cheguei em casa à tarde senti uma forte tontura, dor cabeça comecei a vomitar muito. Eu achei que ia morrer. Me levaram para o hospital e eu não sentia meu coração batendo, minha mão ficou branca e nem sentia as pernas, conta o trabalhador, que afirma manipular agrotóxicos desde os 14 anos.>
A coordenadora do Sinitox e pesquisadora da Fiocruz, Rosany Bochner, culpa a legislação atual e condena a proposta de maior flexibilização. Cada vez se usa mais agrotóxico no Brasil, ao invés de ser o contrário. Isso não pode ser visto como natural. Se um produto é proibido no resto do mundo, isso já diz que não pode ser usado.>
FISCALIZAÇÃO>
>
Responsável por monitorar a comercialização, aplicação e armazenamento dos defensivos no Estado, o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf) faz constantes ações de fiscalização, segundo o gerente de defesa sanitária e inspeção vegetal, Marcio Gama. Na semana passada, inclusive, o órgão interditou mais de oito mil litros de agrotóxicos produzidos clandestinamente em São Mateus. Ainda há muita resistência do produtor, que precisa entender que aquele produto que ele manipula é de alta periculosidade e se não for encarado dessa forma o risco aumenta.>
O PROJETO>
Entenda as propostas em discussão na câmara dos deputados>
Mudança de nome>
O projeto de Lei nº 6.299/2002 propunha mudar o nome agrotóxico para defensivo agrícola e produto fitossanitário. Ao ser aprovado na comissão, foi validado a mudança para pesticidas.>
Registro temporário>
É criada uma autorização temporária para produtos já registrados em outros três países da OCDE.>
Sem restrições>
Os Estados não poderão restringir a distribuição e comercialização de produtos já autorizados.>
Risco aceitável>
Apenas produtos de grau de risco inaceitável passaram a ser proibidos.>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta