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14 mil negócios abertos por pessoas depois dos 60 anos no ES

14 mil negócios abertos por pessoas depois dos 60 anos no ES

Aposentados se tornam empresários e garantem dinheiro extra

Publicado em 9 de dezembro de 2018 às 00:40

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Bento Ramos, de 70 anos, abriu uma tapiocaria em Jardim Camburi há três. ( Marcelo Prest )

Aposentar-se é só o recomeço para um grupo que vem ganhando força no Estado: o dos sessentões empreendedores. Seja para não ficar parado, seja para realizar um sonho de vida, seja para garantir um dinheiro extra no período em que a renda cai drasticamente, abrir o próprio negócio tem se tornado opção recorrente para quem chegou à casa dos 60 anos.

Nos últimos quatro anos, foram abertas 14.403 micro e pequenas empresas em terras capixabas com sócios com idade a partir de 60 anos, segundo dados da Junta Comercial do Estado do Espírito Santo (Jucees) levantados a pedido de A GAZETA. Só neste ano, até outubro, foram 3.088 novas constituições de negócios com esse perfil de empreendedor.

Entre eles está Maria Lúcia Frisso Montarroyos, que, após se aposentar aos 54 anos, decidiu se tornar empresária aos 60. Em um sítio que já era seu, na zona rural de Vila Velha, ela abriu um cerimonial onde promove eventos e presta serviço de bufê.

Depois de se aposentar, Maria Lúcia Frisso abriu um cerimonial e bufê em um sítio em Vila Velha. ( Ricardo Medeiros )

SONHO

“Foi um pouco de sonho e de vontade pessoal. É claro que tinha necessidade financeira, mas ela não era o motivo central. Eu já trabalhava com eventos e tinha essa área. Então resolvi abrir para partilhar o lugar com as pessoas, para que elas tenham um local que seja aconchegante, bonito, saudável, próximo da natureza, rural e ainda próximo a cidade”, conta a proprietária do Sítio Nona Lu.

Após abrir o primeiro empreendimento e ver ele dando certo, Maria Lúcia, hoje com 66 anos, já se prepara para abrir um novo negócio: um restaurante voltado para alimentação saudável, que deve ser inaugurado em março do ano que vem. Para isso, ela tem se especializado e realizado cursos, além de buscar o acompanhamento do Sebrae.

“Como o sítio tem me proporcionado uma boa experiência, eu tenho me capacitado, e ainda estou na ativa, resolvi aproveitar outro espaço que tenho, em Itapoã, para abrir um restaurante e cerimonial, com a mesma marca. E além desse ainda tenho outro projeto, de comida natural congelada, que também deve ir para o mercado em março”, adianta.

MOVIMENTO

Os motivos para essa volta ao mercado como empresário após a aposentadoria variam, segundo o analista de atendimento do Sebrae no Espírito Santo Marcondes Caldeira Júnior, que conta que esse movimento tem sido crescente.

“A gente atende vários casos de pessoas que acabaram de aposentar e que querem empreender. Os motivos variam. Alguns são para realizar um sonho agora nesta nova etapa, outros querem aumentar a renda, e tem até aquelas pessoas que falam que não conseguem ficar parados e precisam fazer alguma coisa”, explica.

O economista e professor da UVV Mário Vasconcelos lembra ainda que muitas pessoas passam a vida com um sonho de atuar ou empreender em alguma área, mas não conseguem por falta de oportunidade. “Em muitos casos as pessoas acabaram de sair de um empresa e têm uma indenização para receber, um saldo do FGTS para sacar, e com esse recurso já dá o pontapé inicial para um pequeno negócio a fim de complementar a renda familiar”, ressalta.

NECESSIDADE DE AMPLIAR A RENDA PESA NA DECISÃO

Se por um lado há aqueles que não querem ficar parados ou que acalentaram durante toda a vida o sonho de ter seu próprio negócio, do outro há uma maioria de pessoas que só trocam o sossego da aposentadoria pelo dia a dia puxado à frente de uma empresa depois dos 60 anos pela necessidade.

Nesse caso os motivos para se tornar um empreendedor podem ser muitos. “Pode ser porque após a aposentadoria a renda caiu muito, já que a remuneração é menor e é preciso manter um certo padrão de vida; pode ser para complementar a renda familiar; ou mesmo porque há pessoas na família desempregadas, sobretudo nesse momento difícil na economia, e é preciso auxiliar”, afirma o economista e professor da Universidade Vila Velha (UVV) Mário Vasconcelos.

Esse é o chamado “empreendedorismo por necessidade”, conforme explica o analista de atendimento do Sebrae Marcondes Caldeira Júnior. “É quando empreender fica sendo a única alternativa para essa pessoa, seja lá por qual motivo. Essa busca por um negócio para aumentar a renda é o que mais a gente vê”, diz.

Marcondes comenta que não há um perfil de empresa preferido ou mais procurado por esse público para investir tempo e dinheiro. “Isso varia muito. Tem gente que trabalhou a vida toda com uma coisa, só sabe fazer aquilo, e quer continuar na área pela expertise que tem. Por outro lado, há outros que querem mudar totalmente o rumo do que já tinham feito, partindo para novos segmentos”.

CHANCE

A necessidade foi um dos pontos que pesaram para o capixaba Bento Ramos Paresqui, hoje com 70 anos, na decisão de abrir o próprio negócio. Ele já era aposentado, mas continuava no mercado de trabalho. Após ser demitido, teve a oportunidade de poder ajudar as netas, que estavam na faculdade e ao mesmo tempo realizar um sonho: ter uma empresa para chamar de sua. Com isso ele abriu uma tapiocaria há três anos em Jardim Camburi, já aos 67 anos de idade.

“Quando eu saí do meu último emprego, eu recebi uma indenização que me permitiu abrir a empresa. Então eu fiz uma ótima coisa: a piscina que eu tinha nos fundos de casa eu fechei e naquele espaço abri o ponto comercial, onde coloquei a tapiocaria, que foi uma ideia das minhas netas e da minha nora. E foi uma boa coisa porque, com isso, eu posso ajudar minhas netas, que ainda estão na faculdade”, conta o dono da Tapiocaria Nordeste Capixaba.

Ele lembra que durante toda sua vida sempre quis ter um comércio. “É um sonho que eu tenho desde novo. Já tinha pensado em colocar uma farmácia, uma loja de materiais de construção, várias coisas. Aí quando tive a oportunidade eu e minha família pesquisamos o mercado e escolhemos a tapiocaria porque era um tipo de negócio que ainda não tinha em Jardim Camburi. Esse planejamento foi fundamental para o negócio dar certo”, comenta Bento ao lembrar que ainda tem força para trabalhar por mais tempo. “Eu tenho 70 anos mas ainda me sinto bem, sinto que eu posso trabalhar mais. Eu não quero ficar parado. Pelo menos não por agora”.

"É UM PÚBLICO COM MENOS CHANCES PARA ERRAR"

Eles saem na frente. Para os especialistas, os empresários tardios têm vantagens competitivas que podem ser exploradas no empreendedorismo: tendem a dar certo por causa da experiência e maturidade. No entanto, passar do status de trabalhador ou de aposentado para o de patrão depois dos 60 anos exige ainda mais cuidado e planejamento.

Isso porque, de acordo com o analista de atendimento do Sebrae ES Marcondes Caldeira Júnior, não se trata de substituir um possível ócio da aposentadoria por uma atividade que garanta distração e espante o tédio. Não há muito espaço para erros.

“É um público que tem menos chances para poder errar. É preciso ter um bom planejamento para ser o mais assertivo possível por causa da idade. Não se pode perder três, quatro ou até cinco anos testando um negócio que pode trazer prejuízos e fracassar. Já os mais novos, em tese, têm condições de realizar novos investimentos, caso as primeiras tentativas não deem certo, o que é mais restrito no caso do público mais velho”, explica.

Essa diferença entre mais novos e mais velhos no empreendedorismo, segundo Marcondes, pode ser superada na elaboração de um bom plano de negócios, feito com apoio de um profissional, como os analistas do Sebrae.

Outro ponto que o especialista aponta é a necessidade de compreensão do aposentado de como aquele empreendimento pode mudar seu estilo de vida.

“Tem que pensar se aquele negócio se encaixa no perfil, na dedicação que precisará empregar para ele dar certo, do trabalho que vai gerar, do tempo que vai consumir, e até do estilo de vida que pode ter uma mudança radical. É preciso estar ciente e disposto a essas mudanças”, frisa.

Para além dessas dicas para empreender particulares para os sessentões, há aquelas orientações que são comuns para qualquer negócio ou pessoa. “As principais são buscar informações sobre o tipo de negócio, estudar o mercado e a concorrência e fazer um bom planejamento financeiro”, aconselha Marcondes.

NÚMEROS

Micro e pequenas empresas abertas no estado com sócios com mais de 60 anos

2015

3.988

2016

3.761

2017

3.566

2018 (até outubro)

3.088

Total em quatro anos

14.403 aberturas

* Microempresas são aquelas com receita anual até R$ 360 mil. Já as empresas de pequeno porte (EPPs) possuem renda entre R$ 360 mil e R$ 4,8 milhões.

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Fonte: Junta Comercial

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