Nos últimos anos, os investimentos sustentáveis, conhecidos pela sigla ESG (Ambiental, Social e Governança, em inglês), ganharam destaque global como uma abordagem que alia retorno financeiro com impacto positivo na sociedade e no meio ambiente. Com uma base crescente de investidores preocupados com a responsabilidade corporativa, os critérios ESG passaram a ser incorporados na análise de riscos e oportunidades, impulsionando bilhões em ativos direcionados a empresas e projetos com boas práticas sustentáveis.
O que é ESG?
O conceito ESG avalia três dimensões principais. A dimensão Ambiental considera aspectos como emissões de gases de efeito estufa, uso de recursos naturais e políticas de redução de impactos ecológicos. A Social abrange relações com colaboradores, diversidade, direitos humanos e envolvimento com a comunidade. Já a Governança foca em transparência, composição dos conselhos, conduta ética e mecanismos de controle interno. A ideia central é que empresas bem avaliadas nesses critérios são mais resilientes a crises e mais bem posicionadas para o crescimento de longo prazo.
Crescimento global e nacional
Essa visão ganhou força após a pandemia de Covid-19, que ampliou o debate sobre desigualdades sociais e impactos ambientais. Globalmente, os investimentos ESG já ultrapassam os US$ 30 trilhões e, segundo projeções da Bloomberg Intelligence, poderiam alcançar US$ 53 trilhões até o final de 2025. No Brasil, o número de fundos com foco sustentável também cresceu exponencialmente nos últimos anos, com destaque para setores como energia renovável, saneamento e agricultura de baixo impacto ambiental.
O impacto da nova administração Trump
O cenário começa a mostrar sinais de tensão com o avanço de um movimento global contrário ao ESG, intensificado pela volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. A nova administração republicana tem promovido críticas abertas à agenda ESG, classificando-a como ideológica e prejudicial à competitividade das empresas. Isso gerou uma série de repercussões no mercado internacional.
Nos EUA, grandes fundos começaram a abandonar compromissos com metas ambientais, como a neutralidade de carbono. Instituições como JPMorgan, BlackRock e Goldman Sachs recuaram de alianças climáticas globais, como a Net-Zero Banking Alliance, sob pressão política para priorizar retornos financeiros imediatos. A coalizão Climate Action 100+, que reúne investidores globais comprometidos com a transição energética, também perdeu integrantes importantes após a posse de Trump.
Na Europa, a crise ganhou contornos mais concretos. No primeiro trimestre de 2025, os fundos ESG europeus registraram uma saída líquida de US$ 1,2 bilhão, segundo a Morningstar, e 116 fundos removeram referências ESG de seus nomes, em resposta à maior fiscalização regulatória contra o greenwashing. A retração do apetite por fundos sustentáveis foi acompanhada pela liquidação ou fusão de quase 100 fundos na região.
Fundamentos e oportunidades no Brasil
Apesar da resistência política e do enfraquecimento de compromissos públicos, os fundamentos econômicos dos investimentos sustentáveis permanecem sólidos. Grandes gestores, como o UBS, avaliam que os ativos ESG ainda oferecem boas oportunidades. A transição energética e as políticas climáticas seguem sendo consideradas vetores estruturais de valor, mesmo com os desafios conjunturais.
Especialistas ressaltam que a gestão de riscos ESG deve continuar no radar dos investidores e conselhos de administração, independentemente da pressão ideológica. Eventos climáticos extremos, escassez de recursos naturais e maior exigência regulatória permanecem como fatores de risco reais que afetam diretamente a rentabilidade e a perenidade dos negócios. Além disso, consumidores, talentos e parceiros comerciais continuam valorizando empresas com responsabilidade socioambiental.
No Brasil, apesar das influências externas, o mercado tende a seguir valorizando critérios ESG, especialmente em setores com vocação sustentável como o agronegócio, energia limpa e infraestrutura hídrica. A expectativa é que a regulamentação local, incluindo normas da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) previstas para 2026, promova maior padronização e transparência nas práticas ESG, fortalecendo a confiança dos investidores.
Em síntese, mesmo diante de turbulências políticas e ajustes regulatórios, os investimentos sustentáveis continuam relevantes e atraentes. A gestão responsável de riscos ambientais, sociais e de governança não é apenas uma escolha ética, mas uma exigência estratégica para empresas e investidores que buscam estabilidade, reputação e retorno no longo prazo.
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