Graduado em Economia pela Ufes, com MBA em Gestão Financeira e Controladoria pela FGV e MBA em Digital Business pela USP. Atua há 15 anos no mercado financeiro e atualmente é diretor do Banestes.

Como a inovação incremental impulsiona micro e pequenas empresas

Ao apostar em mudanças simples e constantes, micro e pequenas empresas constroem bases sólidas de prosperidade

Vitória
Publicado em 07/10/2025 às 08h53

A importância da inovação incremental para as micro e pequenas empresas (MPEs) reside em seu potencial de impulsionar a produtividade e o sucesso desses empreendimentos por meio de melhorias graduais e contínuas em produtos, processos, marketing e organização. Em um cenário em que as grandes inovações disruptivas costumam dominar as manchetes, as melhorias incrementais se mostram mais compatíveis com a realidade e os recursos das empresas de menor porte, representando, na prática, o caminho mais viável para seu crescimento sustentável.

Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, 2021), as inovações incrementais em MPEs são um motor silencioso de produtividade, especialmente quando associadas à digitalização gradual e à adoção de tecnologias acessíveis. Essa abordagem permite ganhos progressivos em eficiência e competitividade sem demandar altos investimentos ou mudanças estruturais radicais.

As MPEs respondem por mais de 90% das empresas formais do país e geram cerca de 55% dos empregos. Crédito: Imagem gerada pelo ChatGPT
As MPEs respondem por mais de 90% das empresas formais do país e geram cerca de 55% dos empregos. Crédito: Imagem gerada pelo ChatGPT

A inovação incremental consiste em ajustes evolutivos contínuos, que não alteram de forma drástica o modelo de negócio existente. Esses ajustes podem incluir melhorias de produtos, processos internos mais eficientes, adaptações de serviços e novas estratégias de marketing. Diferentemente da inovação disruptiva, que cria novos mercados e pode exigir capital elevado, a incremental é mais realista e segura para empresas com recursos limitados, conforme demonstram estudos do Massachusetts Institute of Technology (MIT, 2019) e do Banco Mundial (2022).

Pesquisas realizadas em diversos países reforçam esse impacto. Um estudo conduzido pelo Banco Mundial (2022) mostra que a adoção e adaptação de tecnologias existentes por pequenas empresas em países em desenvolvimento aumenta a produtividade e a oferta de emprego. De forma semelhante, um levantamento feito pela OCDE (2023) concluiu que as MPEs que implementam pequenas melhorias operacionais registram aumento médio de 20% na eficiência produtiva após dois anos de execução.

No Brasil, evidências do Sebrae (2023) e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) revelam que as inovações nas MPEs são predominantemente incrementais, em geral, “novas para a empresa”, mas não para o mercado. Um estudo com 110 micro e pequenas empresas participantes do Programa ALI (Agentes Locais de Inovação), em Ribeirão Preto (SP), demonstrou que 87% delas apresentaram melhora de desempenho e aumento de produtividade após implementar soluções simples, como a reorganização de processos internos e o uso de ferramentas digitais básicas.

Esses resultados são coerentes com análises internacionais. Um levantamento com pequenas empresas da Europa Central e Oriental, publicado na Research Policy (2024), aponta que tanto as inovações radicais quanto as incrementais estão associadas à melhor desempenho, porém as incrementais oferecem resultados mais estáveis e de menor risco, um fator essencial para negócios que operam com margens estreitas.

Os benefícios da inovação incremental incluem a redução de custos e riscos de implementação, a promoção de uma cultura de melhoria contínua, os efeitos cumulativos ao longo do tempo, a aquisição de conhecimento interno e a menor dependência de recursos externos. Um relatório da MIT Sloan Review (2025) destaca que pequenas mudanças repetidas ao longo do tempo podem gerar ganhos equivalentes a transformações disruptivas, mas com menor exposição financeira e maior controle do processo.

Contudo, as MPEs enfrentam desafios estruturais para inovar. Ainda persistem obstáculos como a falta de recursos financeiros, baixa cooperação com universidades e institutos e barreiras tecnológicas para digitalização. O IPEA (2018) observa que a informalidade e a ausência de processos documentados dificultam a identificação de oportunidades de melhoria e reduzem o impacto das inovações incrementais.

Mesmo diante desses desafios, o cenário brasileiro é promissor. As MPEs respondem por mais de 90% das empresas formais do país e geram cerca de 55% dos empregos, segundo o Sebrae (2023). Nesse contexto, cada avanço incremental, por menor que pareça, representa um ganho coletivo na economia nacional.

A inovação incremental, portanto, não é apenas uma estratégia de sobrevivência, mas uma ferramenta estratégica de prosperidade. Ao promover ajustes graduais e sustentáveis, as micro e pequenas empresas constroem uma base sólida de eficiência e competitividade. A experiência brasileira e internacional demonstra que a prosperidade das MPEs e, por consequência, de comunidades inteiras, pode florescer não em saltos revolucionários, mas no ritmo constante das pequenas melhorias diárias

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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