A importância da inovação incremental para as micro e pequenas empresas (MPEs) reside em seu potencial de impulsionar a produtividade e o sucesso desses empreendimentos por meio de melhorias graduais e contínuas em produtos, processos, marketing e organização. Em um cenário em que as grandes inovações disruptivas costumam dominar as manchetes, as melhorias incrementais se mostram mais compatíveis com a realidade e os recursos das empresas de menor porte, representando, na prática, o caminho mais viável para seu crescimento sustentável.
Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, 2021), as inovações incrementais em MPEs são um motor silencioso de produtividade, especialmente quando associadas à digitalização gradual e à adoção de tecnologias acessíveis. Essa abordagem permite ganhos progressivos em eficiência e competitividade sem demandar altos investimentos ou mudanças estruturais radicais.
A inovação incremental consiste em ajustes evolutivos contínuos, que não alteram de forma drástica o modelo de negócio existente. Esses ajustes podem incluir melhorias de produtos, processos internos mais eficientes, adaptações de serviços e novas estratégias de marketing. Diferentemente da inovação disruptiva, que cria novos mercados e pode exigir capital elevado, a incremental é mais realista e segura para empresas com recursos limitados, conforme demonstram estudos do Massachusetts Institute of Technology (MIT, 2019) e do Banco Mundial (2022).
Pesquisas realizadas em diversos países reforçam esse impacto. Um estudo conduzido pelo Banco Mundial (2022) mostra que a adoção e adaptação de tecnologias existentes por pequenas empresas em países em desenvolvimento aumenta a produtividade e a oferta de emprego. De forma semelhante, um levantamento feito pela OCDE (2023) concluiu que as MPEs que implementam pequenas melhorias operacionais registram aumento médio de 20% na eficiência produtiva após dois anos de execução.
No Brasil, evidências do Sebrae (2023) e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) revelam que as inovações nas MPEs são predominantemente incrementais, em geral, “novas para a empresa”, mas não para o mercado. Um estudo com 110 micro e pequenas empresas participantes do Programa ALI (Agentes Locais de Inovação), em Ribeirão Preto (SP), demonstrou que 87% delas apresentaram melhora de desempenho e aumento de produtividade após implementar soluções simples, como a reorganização de processos internos e o uso de ferramentas digitais básicas.
Esses resultados são coerentes com análises internacionais. Um levantamento com pequenas empresas da Europa Central e Oriental, publicado na Research Policy (2024), aponta que tanto as inovações radicais quanto as incrementais estão associadas à melhor desempenho, porém as incrementais oferecem resultados mais estáveis e de menor risco, um fator essencial para negócios que operam com margens estreitas.
Os benefícios da inovação incremental incluem a redução de custos e riscos de implementação, a promoção de uma cultura de melhoria contínua, os efeitos cumulativos ao longo do tempo, a aquisição de conhecimento interno e a menor dependência de recursos externos. Um relatório da MIT Sloan Review (2025) destaca que pequenas mudanças repetidas ao longo do tempo podem gerar ganhos equivalentes a transformações disruptivas, mas com menor exposição financeira e maior controle do processo.
Contudo, as MPEs enfrentam desafios estruturais para inovar. Ainda persistem obstáculos como a falta de recursos financeiros, baixa cooperação com universidades e institutos e barreiras tecnológicas para digitalização. O IPEA (2018) observa que a informalidade e a ausência de processos documentados dificultam a identificação de oportunidades de melhoria e reduzem o impacto das inovações incrementais.
Mesmo diante desses desafios, o cenário brasileiro é promissor. As MPEs respondem por mais de 90% das empresas formais do país e geram cerca de 55% dos empregos, segundo o Sebrae (2023). Nesse contexto, cada avanço incremental, por menor que pareça, representa um ganho coletivo na economia nacional.
A inovação incremental, portanto, não é apenas uma estratégia de sobrevivência, mas uma ferramenta estratégica de prosperidade. Ao promover ajustes graduais e sustentáveis, as micro e pequenas empresas constroem uma base sólida de eficiência e competitividade. A experiência brasileira e internacional demonstra que a prosperidade das MPEs e, por consequência, de comunidades inteiras, pode florescer não em saltos revolucionários, mas no ritmo constante das pequenas melhorias diárias
Este vídeo pode te interessar
LEIA MAIS COLUNAS DE VICENTE DUARTE
Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.
