Publicado em 25 de junho de 2024 às 14:37
Outro dia ele era um bebê. Agora, começa a ser alfabetizado. Daqui a pouco, embarca na primeira viagem escolar com os amigos. Em pouco tempo, estará se preparando para o Enem e escolhendo uma profissão para seguir. O tempo voa, filhos crescem e cada fase tem suas delícias e dissabores. Disso, todos os pais sabem.
O que nem sempre se discute, em casa ou na escola, é a importância dos ritos de passagem. Ou seja, dos processos que envolvem a mudança de uma fase para a outra e que podem, se devidamente entendidos e bem conduzidos, contribuir para uma adaptação tranquila, facilitando, inclusive, a aprendizagem e o amadurecimento.
“É claro que, muitas vezes, a vida nos surpreende e exige de nós mudanças não previstas. Mas, no caso da passagem de uma fase escolar para outra ou da escolha de uma nova escola – como acontece quando a criança deixa a creche e inicia a trajetória no ensino fundamental -, é possível e importante se organizar e se planejar com zelo e cuidado em busca do melhor para o desenvolvimento infantil”, afirma a diretora pedagógica da Escola Monteiro, Penha Tótola.
A mudança de escola nesta fase é um ponto que demanda atenção.
“O aluno está cursando o último ciclo da educação infantil e vai iniciar no ano seguinte o ensino fundamental. Pensar em família o que se espera desta nova etapa e dedicar tempo e planejamento à essa mudança, incluindo a escolha de uma nova escola se for o caso, pode tornar o processo mais tranquilo e positivo para todos”, pontua.
Na prática, isso significa não deixar a decisão para a última hora. Os processos de matrícula, em geral, se iniciam a partir dos meses de setembro ou outubro, mas as escolas recebem visitas ao longo de todo o ano letivo.
“Marcar uma visita com antecedência, conhecer a escola fora do período de férias e conversar com alunos e familiares que já fazem parte dessa comunidade escolar. Tudo isso pode ser bastante positivo na tomada de decisão. Além de fornecer elementos para fundamentar a escolha, é um processo que ajuda a criança a se familiarizar com a mudança, se ela for envolvida no processo”, destaca a diretora, que acumula experiência de quase 40 anos na área de educação.
Segundo Penha, o rito de passagem pode ser um marco que anuncia a mudança, como uma festa de formatura ou uma noite do pijama para fechar a etapa da educação infantil. Mas também pode ter uma continuidade ao longo de um período de adaptação.
“A criança de cinco ou seis anos que deixa a educação infantil e se inicia no ensino fundamental segue sendo criança. O ensino fundamental traz novos desafios relacionados à alfabetização e ao aprendizado, mas, de forma alguma, precisa significar abrir mão do lúdico, do brincar, do ser criança. O aluno vai entendendo que seguirá brincando, descobrindo e sendo feliz na escola. Isso é muito positivo para o desenvolvimento emocional e para a aprendizagem. Há muito estudos que comprovam que ser feliz garante melhores resultados na escola e no trabalho”, pondera Penha.
Ela explica que, na Monteiro, por exemplo, as crianças que começam a cursar o 1º ano do ensino fundamental, em geral, vêm de unidades de educação infantil. Muitos jantavam, tomavam banho e levavam brinquedos para a creche. Para tornar a mudança menos impactante, a escola adota medidas simples, mas eficazes.
As aulas para os alunos do 1º ano do ensino fundamental começam um dia antes do início das aulas das demais turmas. O objetivo é apresentá-los à equipe e ao ambiente escolar. No dia a dia, há um horário de recreio exclusivo para alunos dos 1º e 2º anos, não coincidindo com o período de recreio dos demais alunos do ensino fundamental 1 para que os mais novos tenham mais liberdade, espaço e autonomia para brincar.
Eles também lancham na sala antes de sair para o recreio para evitar que “esqueçam de comer” em meio a brincadeiras. Como muitos jantavam na creche, há ainda um segundo momento para mais um lanchinho antes do final da aula, realizado junto com outras atividades lúdicas. Além disso, em um dia pré-definido da semana, podem levar um brinquedo para a escola.
Penha explica que as regras existem e, em geral, são cumpridas com comprometimento e maturidade pelos alunos. “Neste caso, faz muita diferença uma prática desenvolvida em sala de aula para criar os ‘combinados’. Eles participam da discussão e da construção de uma espécie de cartaz com normas de boa convivência, respeito e estudo. Nossa experiência mostra que, ao se sentir parte do processo, a criança tende a respeitar melhor o que foi estabelecido e ainda cobra do colega o cumprimento dos acordos em prol do coletivo”, conta.
A alfabetização e a aprendizagem de forma geral são mais efetivos quando a criança experimenta uma vivência de acolhimento e afetividade.
“Trabalhamos com material didático de excelência, desenvolvemos projetos interrelacionando disciplinas, realizamos diagnósticos frequentes para avaliar eventuais lacunas de aprendizado e orientar metodologias de reforço, que se fizeram mais necessárias num contexto pós-pandemia. Mas tudo isso dentro de um trabalho também focado na formação do ser humano enquanto sujeito autônomo, criativo, protagonista, capaz de trabalhar em grupo e de lidar com as diferenças”, relata.
Quem viveu isso, na prática, também acredita que o processo é eficaz. Letícia Salles tem dois filhos que estudam na Monteiro, o Caio e Clara, no 3º e no 2º, respectivamente.
“Eles entraram na escola esse ano e a adaptação foi excelente. Em pouco tempo, os dois – cada um com suas especificidades – estavam totalmente integrados porque foram acolhidos de fato por coordenadores, professores e colegas de turma. Hoje, já têm vínculo criado, gostam da escola, amam os colegas", comenta.
Ela afirma que escolheu a Monteiro exatamente por trazer esse acolhimento como proposta.
"Eu me encantei com a metodologia pedagógica que prioriza a relação social ao meio e onde o aprendiz é entendido como um ser pensante em desenvolvimento na sua individualidade e inserção social. Consigo ver a aplicação da prática nas atividades e projetos escolares, no dia a dia das crianças e principalmente no desenvolvimento dos meus filhos, muito além da aquisição de conteúdo curricular”, conclui.
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