Publicado em 5 de novembro de 2024 às 07:01
A arte contemporânea transcende espaços e muros e chega às comunidades periféricas de todo o Brasil como expressão de identidades e vivências plurais.
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Neste mapa da diversidade cultural, projetos traçam transformações de vidas. No Espírito Santo, Juh D’Lyra foi responsável por movimentar jovens de várias comunidades da Grande Vitória, mostrando que a poesia pode se tornar uma ferramenta de transformação social. É o grupo Slam Quimera mandando a letra.>
Em Recife, Pernambuco, a dança como forma de expressão da juventude foi registrada pelos olhares da dupla de realizadores de vídeos e videoinstalações Benjamin de Burca e Bárbara Wagner.>
No Rio de Janeiro, Hugo de Oliveira impulsiona o desenvolvimento dos jovens de sua comunidade, o Morro da Providência, por meio do Passinho nas Escolas, que ajuda jovens em evasão escolar a voltarem a estudar, conectando-se com a dança. O projeto foi documentado no curta “O Desafio do Passinho”.>
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Três frentes de trabalho, em três estados diferentes, que ganharam evidência em um mesmo palco no Espírito Santo. Bárbara Wagner, Benjamin de Burca e Hugo de Oliveira compuseram uma das três mesas da 7ª edição do Encontros com a Arte Contemporânea, realizado no Teatro Universitário Ufes pelo Museu Vale, em seu momento extramuros, nos dias 8 e 9 de outubro.>
Criado em 2017, o evento busca promover diálogos e cruzamentos entre diferentes disciplinas, sempre conectadas à arte e a cultura na sociedade brasileira contemporânea. A programação deste ano também contou com a participação do grupo Slam Quimera e de profissionais de diferentes áreas, como a médica de família e comunidade Andreia Beatriz e a artista multidisciplinar Rubiane Maia, que fizeram parte da Mesa 1. >
A Mesa 2 foi composta pelos representantes do Projeto Memória Xikrin: a bióloga e antropóloga Isabelle Vidal Giannini e os pesquisadores Bekroiti Xikrín e Bep-kó Xikrín. Além disso, o público conferiu de perto a feira de arte indígena, com representantes dos povos originários Guarani e Tupinikim.>
Confira a seguir mais detalhes sobre cada um desses trabalhos.>
Descrito como “onde as vozes se encontram e a poesia vive”, o grupo Slam Quimera surgiu em 2022 no bairro Terra Vermelha, Vila Velha.>
Slam, ou Poetry Slams, são batalhas de poesia falada que nasceram nos anos 1980 nos Estados Unidos, com textos sobre críticas sociais, política e identidade declamados pelas vozes dos jovens slammers.>
“Nosso objetivo é trazer a voz das comunidades. Nós somos a voz da periferia e da cultura contemporânea, nossos textos são ácidos, nossa performance e prosa são diferentes, mas atualmente podemos mostrar a valorização do slam”, destacou Juh D’Lyra, idealizadora do Quimera.>
Em Recife, Pernambuco, a dança como forma de expressão da juventude foi registrada pelos olhares da dupla de realizadores de vídeos e videoinstalações Benjamin de Burca e Bárbara Wagner.>
O filme autoral “Swinguerra” foi produzido em 2019 e gravado em duas telas para mostrar perspectivas diferentes de uma mesma história com ritmos como o axé, pagode baiano, pop brasileiro, brega, funk e a fusão destes dois últimos dois estilos, que criou o brega funk.>
“Essa é uma cultura frequentemente não vista ou apoiada pelo Estado, mas que se mantém pelas próprias pessoas que a fazem. A dança é uma expressão política do corpo”, disse Benjamin.>
O artista alemão e a artista recifense também são detentores de outras obras expostas em museus como Masp, MoMa e Inhotim.>
Cria do Morro da Providência, como se define, Hugo de Oliveira é artista da dança, educador, pesquisador, gestor cultural e Doutor em comunicação pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e movimenta a transformação nas vidas de jovens de sua comunidade carioca. >
Uma de suas iniciativas é o projeto Passinho nas Escolas, que ajuda jovens em evasão escolar a voltarem a estudar se conectando com a dança. O projeto foi documentado no curta “O Desafio do Passinho”.>
Outra ação foi a criação da Galeria Providência, museu de arte e história da Favela da Providência criado e construído pelos próprios moradores.>
“Me entendo enquanto artista como alguém sempre produzindo a partir dessa relação com a rua, entendendo que todas essas pessoas [da comunidade] são artistas que têm alguma experiência para compartilhar”, afirma. >
Nas comunidades como a Providência, a coletividade potencializa mudanças positivas na vida dos moradores. Hugo ressalta a importância dessa união.>
“Eu não vejo meu trabalho se não for no coletivo. O diferencial é quando se toma consciência que a arte que essas pessoas [da comunidade] estão produzindo é algo político, que o que nós estamos fazendo tem uma interferência na sociedade. O que é óbvio para alguns, o artista transforma em algo extraordinário”, concluiu o artista.>
Na mesa da 7ª edição do Encontros com a Arte Contemporânea, Bárbara Wagner, Benjamin de Burca e Hugo de Oliveira conquistaram reconhecimento pelas iniciativas. >
“Os trabalhos de vocês se encontram pelo reconhecimento do valor do trabalho dos que são invisibilizados por meio de expressões culturais e artísticas autênticas no nosso país”, afirmou o mediador Fernando Pessoa, professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) que organizou o evento ao lado da diretora do Museu Vale, Cláudia Afonso.>
O tema central da conversa, “A arte como escultura social”, descreve um conceito idealizado pelo artista alemão Joseph Beuys. “Beuys foi o primeiro artista a ser apresentado no Museu Vale, trazendo esse conceito expandido de que todos nós somos artistas com potencial transformador”, explicou Cláudia.>
Unindo o Recife ao Rio de Janeiro, os três artistas debateram como suas iniciativas atravessam o mesmo propósito de esculpir a arte como escultura social em comunidades e contextos diversificados.>
“O Hugo tem uma prática ‘vizinha’ à nossa, mas pela perspectiva de ser de fato um artista que articulou formas de solidificar expressões artísticas e conseguiu estabelecer em sua comunidade seu próprio palco. Enquanto isso, eu e Benjamin estamos tentando fazer um deslocamento, uma tradução de práticas de outros circuitos para dentro do Museu”, pontuou Bárbara Wagner.>
Carol Leal é aluna do 27º Curso de Residência em Jornalismo da Rede Gazeta. Este conteúdo foi produzido dentro do projeto Residente Sombra, uma das ações do programa de imersão, e teve orientação e edição da jornalista Andreia Pegoretti.>
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