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Trabalho nas alturas: capixabas contam a rotina como comissário de voo

Trabalho nas alturas: capixabas contam a rotina como comissário de voo

Eles optaram por não seguir a profissão da faculdade para alçar voos mais altos... e bem mais longe!

Publicado em 23 de outubro de 2018 às 18:57

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"Eu nem desfaço a mala mais. Na verdade, a gente tem que estar sempre com a mala arrumada. E tem que ter de tudo nela: casaco, roupa de calor, tênis para academia, regata, bermuda". Essa fala é do comissário de voo Lucas Nascimento, de 25 anos, que desde os 21 tem como profissão voar de um destino a outro. Hoje ele trabalha em viagens internacionais e mesmo com a pouca idade já conseguiu ter independência financeira e se orgulha por ter se encontrado profissionalmente.

A rotina pode ser para muitos um tanto inconveniente, porque as escalas, assim como em vários outros setores, nem sempre respeitam finais de semana e feriados. E é por isso que Rafael Cerqueira, 28 anos, também comissário de voo, afirma ao dizer que "é um serviço para quem ama a profissão". "Se você não gosta, certamente não vai aguentar esse tipo de trabalho", conta. No entanto, ele também lista grandes vantagens.

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É um trabalho que você consegue ter um plano de carreira. Meu desejo é conseguir ser piloto de avião um dia

Rafael Cerqueira, comissário de voo
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"Eu comecei trabalhando na equipe de solo, no Aeroporto de Vitória. Depois de um processo seletivo fui para base de Confins, em Minas Gerais, para ser comissário de voo. Geralmente fazemos quatro voos curtos por dia. Não podemos trabalhar mais de seis dias seguidos e temos adicionais de insalubridade, periculosidade, de trabalho noturno, de fim de semana, hora extra, tem o vale-alimentação, hospedagem quando estamos em trânsito, além da alimentação no próprio avião".

Rafael deixou a faculdade de jornalismo para seguir uma profissão totalmente diferente. No entanto, ele não se arrepende de ter dado um outro rumo na sua vida.

Rafael Cerqueira . (Reprodução Instagram)

"Eu não penso em fazer outra coisa. Pelo contrário, meu desejo é ir conseguindo evoluir no meu cargo, que tem vários degraus para subir, para depois fazer o curso para ser piloto. Financeiramente é um trabalho que a meu ver compensa. Depende do mês, mas eu chego a ganhar R$ 7 mil, R$ 8 mil. Outro mês ganha menos, mas nunca menos de R$ 5 mil. Os valores vão depender muito de quantos dias você trabalha e dos adicionais também", descreve.

O site Love Mondays, que calcula médias salariais no Brasil, define que o salário médio de um comissário de voo é de mais de R$ 5 mil, com máximo de R$ 12,3 mil. O salário varia em função das horas voadas ou cargos de chefia, além de outros benefícios como senioridade e compensação orgânica.

O capixaba Lucas Nascimento, que também deixou o curso de jornalista para investir nesta outra área, já está há quatro anos trabalhando como comissário de voo. Ele conta que sempre que possível, aproveita as viagens para ir a restaurantes, conhecer lugares e dar uma espairecida.

"Depende do tempo que você vai ficar no local, mas sempre que eu fico um pouco mais aproveito para conhecer os lugares, sair para comer, e até fazer academia. Por isso que a mala da gente tem que estar preparada para várias situações", acrescenta.

Lucas hoje mora no interior de São Paulo, já que sua base é no estado paulista. Além de ter conseguido bens materiais como carro e apartamento, ele ressalta que mudou seu estilo de vida, deixando de ser obeso para justamente trabalhar dentro do avião.

"Na época da faculdade eu fazia estágio e estudava. Minha saúde não ia bem, eu estava com 35 quilos a mais e por conta dessa obesidade eu resolvi emagrecer porque sabia que não conseguiria trabalhar em um avião do jeito que eu estava. Durante o curso preparatório para ser comissário de voo, fui fazendo dieta e exercícios. Então acabei emagrecendo durante o processo e agora venho mantendo meu peso", comenta.

Muita gente pode pensar que o comissário só precisa dar instruções de segurança antes da decolagem e ficar servindo lanches e café. No entanto, os profissionais passam por cursos preparatórios que os credenciam a lidar com diversas situações a bordo, como clientes com síndrome do pânico e turbulências.

"A gente tem a responsabilidade de cuidar da segurança do voo e dos passageiros. Temos que saber sobre primeiros socorros e também a conversar com os clientes que possam estar passando por algum problema dentro do avião. Certa vez uma passageira teve uma crise de pânico e se escondeu no final da aeronave. Eu fui tentar acalmá-la e ela segurou bem forte na minha perna. Depois conversamos e ela se acalmou. Hoje a gente é amigo e conta essa história para todo mundo quando estamos juntos", relembra. 

DO ES PARA DUBAI

Capixaba Rovana Souza é comissária de voo e mora em Dubai. (Arquivo Pessoal)

Assim como Lucas e Rafael, Rovana Souza decidiu que queria ser comissário de voo na época da faculdade. Ela cursava letras na Ufes, quando um amigo compartilhou com ela a ideia de ser piloto de avião da Emirates. Foi quando Rovana também se despertou para aquele sonho. Ela terminou o curso superior e foi atrás dessa missão.

"Eu fiquei quatro anos me preparando para ser comissária de voo. E eu queria a Emirates, não podia ser outra. Passei em uma seleção bem concorrida, tinham umas 500 pessoas no dia, com vários estágios. E hoje já estou há três anos e meio neste trabalho que eu amo. É uma vida sem rotina. Já cheguei a viajar para cinco continentes em um mês, fiquei dois anos sem vir no Brasil, mas sempre que dá a gente arruma um jeito e aproveita o tempo que tem nas viagens". 

Rovana fala isso porque neste último dia 31 ela completou 31 anos. Coincidentemente ela estava no Brasil a trabalho. Seguia para Buenos Aires na véspera e levou com ela sua mãe e irmã, para passarem uma noite na capital argentina, e comemorar, entre um voo e outro.

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Já cheguei a viajar para cinco continentes em um mês; fiquei dois anos sem vir no Brasil, mas sempre que dá a gente arruma um jeito e aproveita o tempo

Rovana Souza, comissária de voo
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Em Dubai, a capixaba consegue ter uma vida tranquila, apesar de ter que seguir algumas regras do islamismo. Na empresa, os funcionários também precisam seguir algumas normas, mas ela ressalta que o número de mulheres é ainda bem superior que os homens neste tipo de serviço.

"Claro que quando vou para empresa preciso me atentar ao tipo de roupa que visto. Não podemos ir com os ombros de fora, roupas curtas. Mas quando estou na rua uso shortinho, saia e vestido. Só não podemos nos vestir assim durante o mês sagrado. Aí temos que estar cobertos, não pode comer nem beber na rua, nem mascar chicletes. Deve-se respeitar o jejum deles. No mais, é muito tranquilo", descreve. 

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Para ser comissário, primeiramente é preciso fazer um curso preparatório. Depois dessa etapa é que a pessoa vai se candidatar para o processo seletivo das empresas aéreas. Selecionado pela companhia aérea, o candidato vai ser alocado de acordo com a necessidade de empresa. Alguns começam como atendentes de solo, outros já iniciam como comissários de voo. Cada caso é analisado separadamente.

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