Acompanhe os bastidores da folia, conheça os personagens que fazem a magia acontecer e descubra curiosidades da festa que enche a ilha de cor e som com Any Cometti, comentarista do Carnaval de Vitória

Por que faltam carnavalescos no Carnaval de Vitória?

Das sete escolas do Grupo Especial, a maioria tem carnavalescos de fora do Estado. Em comum: a maioria deles começou sendo aprendiz. Onde formaremos nossos aprendizes, se falta mão de obra básica nos barracões?

Vitória
Publicado em 19/01/2024 às 15h13
Comemoração do 8º título da MUG no Carnaval capixaba
O carnavalesco canela-verde Petterson Alves comemora o 8º título da MUG no Carnaval capixaba, em 2023. Crédito: Vitor Jubini

Faltam carnavalescos no mercado do Carnaval capixaba. E isso não é opinião da coluna, é conclusão de quem hoje ocupa altos cargos nas direções das escolas de samba. Muitos dos quais precisam correr atrás de profissionais de fora do Espírito Santo para dar conta de uma demanda que o próprio estado não qualifica - e aqui não falo só de carnavalescos.

Das sete escolas do Grupo Especial de Vitória, hoje, quatro têm carnavalescos de fora do Estado. Veja bem: não existe problema nenhum em trazer profissionais de fora. Pelo contrário, pontos de vista e formas de executar diferentes são sempre bem-vindas.

A questão escancara a falta de formação de carnavalescos capixabas. O que a maioria dos carnavalescos de fora de Vitória têm em comum? A resposta é simples: antes de comandarem e conceberem um desfile, começaram sendo aprendizes.

Cahê Rodrigues e Robson Goulart, hoje na Boa Vista, e Wagner Gonçalves, na Piedade, foram aprendizes do icônico Joãosinho Trinta. Já Puluker, que hoje está na Novo Império, foi aprendiz de Alexandre Louzada, hoje na Unidos da Tijuca.

Quantos, em terras capixabas, serão pupilos de Petterson Alves e de Osvaldo Garcia? E, daqui a alguns anos, será que teremos seguidores dos jovens Jorge Mayko e Vanderson Cesar?

A falta de nomes fabricados em terras capixabas para a concepção e criação dos desfiles escancara uma questão muito maior. Rodando barracões, a preocupação da maioria dos carnavalescos - capixabas ou não - é com a falta de mão de obra qualificada para o carnaval.

Ora, se não formamos quem possa ajudá-los na adereçagem, forragem, costura, acabamento, escultura e pintura, como queremos que surjam novos e bons nomes para comandar carnavais inteiros e colocar escolas de samba na avenida? Que possam pensar em soluções visuais para enredos complexos, em justificativas de uso de cores e formatos, em novos modelos de alegorias e destaques, em novos materiais para fantasias mais funcionais, leves e malemolentes?

Vejam bem: não se trata de não absorver pessoas de fora. Mas de receber pessoas de quaisquer origens que estejam dispostas a receber qualificação para trabalhar na nossa festa, serem aprendizes dos nossos carnavalescos e entenderem o fazer carnaval capixaba - que como eu já disse aqui, tantas e tantas vezes, é diferente de fazeres de Rio e de São Paulo.

Faltam aderecistas que deem conta do trabalho minucioso e detalhista de acabamento, usando as técnicas e materiais adequados, sugerindo soluções; faltam costureiras que saibam costurar para o samba, já que uma confecção de fantasia é completamente diferente de uma costura fina ou de facção; faltam escultores e pintores, uma demanda que acaba sendo suprida pelos (excelentes, aliás) profissionais que vêm do Festival de Parintins para ajudar a fazer a nossa festa.

Mais uma vez, digo: o problema não é trazer profissionais de fora. O problema é deixar de gerar emprego e renda no pedaço da maior festa do país que acontece aqui e que, aliás, começa em terras capixabas.

Só neste ano, a expectativa da Prefeitura de Vitória é de que o turismo movimente em torno de 12 a 15 mil pessoas, com o número de empregos diretos e indiretos chegando a 6 mil. Isso somente na cadeia de turismo. Enquanto isso, o último curso de aderecista aberto na capital foi em 2014.

Sabemos que, nas sete escolas do Grupo Especial, são criados mais de 500 empregos diretos e indiretos nos três meses que antecedem a folia.

Porém, ainda assim, algumas escolas estão penando para encontrar profissionais qualificados, e acabam trabalhando aquém da quantidade de trabalhadores necessários, porque não encontram pessoas que possam desempenhar trabalhos técnicos no padrão que demanda uma escola de samba campeã, vice-campeã, ou que almeja pelo menos ficar entre as maiores.

É difícil pensar em novos nomes que possam levar o Carnaval de Vitória à frente. Talvez Marcelo Braga, hoje na Andaraí. Talvez Vitor Vassale, diretor artístico da Piedade. Talvez Douglas Palluzzo, do Império de Fátima, ou até mesmo Cássio Carvalho, que vem se destacando com suas alegorias da Imperatriz do Forte, que é mineiro, mas que está realizando o sonho de ser carnavalesco em terras capixabas.

O Carnaval de Vitória precisa, com urgência, pensar em formar profissionais. É como o mercado de trabalho: abrir cursos de demandas que existem, para que pessoas ocupem vagas de trabalho, para termos cada vez menos desempregados, fazendo assim o tão almejado "giro da economia".

Nosso carnaval já cresceu, já somos grandes, as nossas escolas continuam crescendo, com desfiles grandiosos, técnica, número de desfilantes e fama. Ainda bem, somos reconhecidos dentro e fora do Estado como um dos maiores do país. O que falta é tratar a formação de pessoas com a grandeza merecida pelo nosso carnaval.

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