A Influencer Rayane Souza é uma das vozes no movimento Plus Size Capixaba. Já representou o Estado em diversos concursos de beleza plus size levando a bandeira do empoderamento e da auto estima da mulher plus

Dia oficial da luta contra a gordofobia: "sofri preconceito de uma médica"

Eu acreditei que tudo que estava sendo dito era pro meu bem e para melhoria da minha autoestima. Mas o aconteceu naquele consultório se chama abuso psicológico e gordofobia

Publicado em 10/09/2020 às 09h00
Rayane Souza
Rayane Souza sofreu gordofobia ao ir a uma consulta ginecológica para resolver uma questão de ovário policístico . Crédito: Divulgação

O dia 10 de setembro, conhecido como “Dia do Gordo”, passou a ser considerada a data que marca o “combate contra a gordofobia”. Tema bastante abordado por aqui, e que sem dúvidas temos aprendido a compreender os sentimentos e os preconceitos sofridos por um corpo gordo.

A gordofobia está presente em todos os lugares, seja no ambiente de trabalho, consultórios médicos, nas relação interpessoais, e principalmente dentro de casa. Na coluna de hoje vou falar um pouco sobre mim, e como a minha experiência me levou a abordar este assunto.

Em 2016, aos 26 anos, havia agendado uma consulta ginecológica para resolver uma questão de ovário policístico, problema que atinge muitas mulheres, de diversas idades. Cheguei ao consultório e fui atendida pela médica, que prontamente examinou os laudos e me passou o tratamento adequado, me deixando tranquila em relação à questão.

Até que, minutos depois da explicação médica, ela me pediu que levantasse da cadeira e me dirigi-se para frente do espelho. E nesse momento me disse: “Rayane, você possui outro problema além do ciclo desregulado. Olha esse vestido, esse cabelo, aos 26 anos parece uma velha. Você tem namorado?"

Rayane Souza

Colunista

"Você possui outro problema além do ciclo desregulado. Olha esse vestido, esse cabelo, aos 26 anos parece uma velha. Você tem namorado? Foi o que ouvi de uma médica"

Talvez agora ao ler o relato você já perceba o absurdo que foi dito por esta “profissional”. Mas naquele momento eu fiquei inerte sem entender o que estava acontecendo. E ela continuou, dizendo que meu peso era o meu maior problema, e eu sabendo claro, que o sobrepeso pode acarretar diversos problemas de saúde e que naquele momento ela estaria em sua total propriedade para falar disso, mas não da forma que foi abordado.

 NO CONSULTÓRIO

Quando disse a ela que eu tinha alguns relacionamentos, mas que não praticava atividade sexual, ela disse: “Mas é claro, com esse corpo! Sua autoestima é baixa. Por isso você vai emagrecer e daqui a 6 meses irá arrumar um namorado”. Eu acreditei que tudo que estava sendo dito era pro meu bem e para melhoria da minha autoestima. Mas o aconteceu naquele consultório se chama abuso psicológico, gordofobia, e uma demonstração clara de uma médica antiética.

Rayane Souza

Colunista

"O aconteceu naquele consultório se chama abuso psicológico, gordofobia, e uma demonstração clara de uma médica antiética"

Por anos, muitas pessoas não acreditaram em mim, que eu estava inventando aquela história toda pra chamar atenção ou “negligenciar” a minha saúde. Até que o assunto “Gordofobia médica” começou a ser trazido pros debates, e mais pessoas começaram a relatar seus traumas, percebendo o quão abusivo pode ser um atendimento a um paciente com sobrepeso.

Hoje eu sei como denunciar uma consulta quando me sinto lesada e constrangida, mas na época não havia abordagem a respeito disso, muito menos orientações jurídicas sobre como lidar com a gordofobia. Mas as coisas mudaram. E mudaram porque as pessoas cansaram de ficar caladas. Cansaram de serem invadidas e não buscarem seus direitos.

E é por isso que o dia 10 de setembro é um marco. Falar de gordofobia e combatê-la é necessário, é um assunto público. Eu celebro todos que vivem e trabalham por esse debate, que expõem seus pensamentos e suas lutas, correndo o risco das retaliações, das chacotas e dos ataques diários. Celebro este dia com a esperança de que a empatia tome conta dos corações daqueles que entendem, de que nada vale um corpo perfeito com uma alma vazia.

Respeito! Respeito a todos os corpos, todas as vidas e as vivências. E avante! Porque a luta contra a gordofobia não pode parar.

A Gazeta integra o

Saiba mais
Fique bem Gordofobia

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.