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Advogada sofre constrangimento pelo seu peso em programa de TV

No programa Mulheres, Sandra Daniotti foi constrangida ao vivo, por uma médica, por conta de seu peso. O raciocínio enraizado da sociedade é de que uma mulher gorda nunca estará satisfeita consigo mesma e precisará de ajuda para alcançar o corpo padrão que todos esperam que ela tenha

Publicado em 11/06/2020 às 08h00
Atualizado em 11/06/2020 às 12h44
 Advogada Sandra Daniotti
Advogada Sandra Daniotti. Crédito: Reprodução

Não temos um minuto de descanso.

Até quando iremos debater sobre o respeito que corpo gordo merece? Até quando a sociedade entender que um corpo gordo é só um corpo, logo só diz respeito a pessoa que o habita.

O programa Mulheres, da TV Gazeta SP, apresentado por  Regina Voltado, realizou uma pauta jurídica a respeito dos "Direitos de Família e da Violência Doméstica" em tempos de pandemia. O programa fluiu perfeitamente e muitas pautas jurídicas de extrema importância foram esclarecidas pela advogada Sandra Daniotti, convidada do programa.

Até que outra profissional, médica, aparece ao vivo através de vídeo, e antes de iniciar suas indagações relacionadas a pauta do dia, se dirigiu a advogada e sugeriu que ela emagrecesse. Dizendo que a emissora estava querendo ajudá-la a emagrecer, isso ao vivo. A advogada visivelmente constrangida com a abordagem, ainda repreendeu o comentário de sua colega dizendo que a pauta do programa era jurídica.

O fato tomou conta das redes de diversos profissionais da área jurídica, do jornalismo e também dos ativistas.

A influenciadora e microempresária cearense Carol Zacarias, referência em seus posicionamentos antigordofobia, foi uma das primeiras a questionarem a conduta inadequada do programa Mulheres.  “Quero ressaltar a gravidade do que aconteceu! Uma mulher competente e profissional que se dispõe em compartilhar seus conhecimentos jurídicos em um programa, sofrer tamanho constrangimento publicamente desta maneira”, disse Carol. 

Fica evidente que o corpo e o peso da advogada se torna pauta aonde não deveria. E a partir disso percebemos o quanto a gordofobia acontece de maneira muitas vezes “normal”, pois o raciocínio enraizado da sociedade é de que uma mulher gorda nunca estará satisfeita consigo mesma e precisará de ajuda para alcançar o corpo padrão que todos esperam que ela tenha.

Outro ponto que podemos analisar da situação é a conduta irresponsável que a direção do programa teve, e isso se aplica a postura da apresentadora Regina Volpato ao rir da situação e ter sido completamente conivente e inerte na mediação. Em relação a isso, a jornalista baiana Naiana Ribeiro se posicionou alertando sobre a necessidade dos veículos de comunicação serem “ferramentas de promoção de diversidade e de luta contra o preconceito através da informação, e que o episódio lamentável acabou reforçando esteriótipos, mostrando o emagrecimento como prêmio”. 

"A principal questão, do ponto de vista jornalístico, é que a advogada Sandra Daniotti estava lá para falar de direito da família. Quando você tem uma fonte em televisão ao vivo, qualquer coisa que vá acontecer ali precisa ser pré-acordada com a fonte/convidada, para que ela não seja pega de surpresa e esteja preparada para responder o que foi pedido. E não foi o que aconteceu", diz Naiana Ribeiro. 

Nas redes sociais mulheres discutem as possibilidades jurídicas cabíveis, caso a advogada Sandra Daniotti decida questionar seus direitos após o constrangimento sofrido. A advogada capixaba e ativista Mariana Vieira Oliveira é co-fundadora do projeto “Gorda na Lei” que traz como pauta a prática processual na luta contra a gordofobia. "Em casos como este é necessário realizar uma representação junto ao Conselho Regional de Nutrição, posto que a conduta da profissional de saúde fere o código de ética e conduta do nutricionista. Ainda, não existe lei específica que se refira a gordofobia como crime, porém, caso a pessoa se sinta ofendida tal conduta pode ser caracterizada como injúria, que é um crime contra a honra". 

É lamentável admitir, mas não é a primeira vez que o corpo gordo é constrangido publicamente. Propor emagrecimento ao outro, e colocar o corpo gordo em pauta acima de outras questões, continua sendo o reflexo de uma sociedade preconceituosa e gordofóbica.

Quantas mulheres gordas são atacadas em suas profissões e presenciam sua competência serem resumidas a sua imagem? Não podemos deixar de questionar e nem de levantar nossas bandeiras. 

A advogada Sandra aceitou o desafio do emagrecimento após o constrangimento, e mesmo que essa decisão tenha sido tomada diante de uma pressão midiática, o fato a fez se justificar sobre seu peso mesmo que isso não seja da conta de ninguém. Mais uma vítima da pressão estética e da gordofobia.

A direção do programa Mulheres ainda não se posicionou! A apresentadora Regina Volpato se retratou em suas redes sociais, mas ainda aguardamos a retratação do programa e da profissional autora do constrangimento.

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