Richard Donner (1930 - 2021) era um dos bons sujeitos em Hollywood. O cineasta, morto aos 91 anos nesta segunda-feira (5) por causas não reveladas pela família, foi um dos grandes responsáveis pelo cinemão dos anos 1980 e 1990, época em que consagrou filmes com qualidade narrativa e apelo pop para encher as salas de cinema.
Após dirigir diversos episódios de séries nos anos 70, Donner teve seu primeiro grande sucesso com “A Profecia” (1976), o que o credenciou para um projeto maior, “Superman - O filme”, lançado em 1978 e responsável por uma de suas melhores histórias.
Ator de temperamento difícil e às vezes até “temido” por colegas, Gene Hackman havia sido contratado para viver o vilão Lex Luthor. Hackman estava em alta, já tendo sido indicado a três Oscar e vencido como Melhor Ator pelo ótimo “Operação França” (1971). Provavelmente sustentado por essa fama, o ator se recusou a tirar seu tradicional bigode e raspar a cabeça para viver o antagonista do herói vindo de Krypton.
Donner então se encontrou com o ator e falou que estava tudo bem permanecer com o cabelo, mas o bigode tinha que ser raspado. Hackman foi duro na resposta: “o bigode fica”. O cineasta, que chegou à reunião com um belo bigode, decidiu arriscar: “se você tirar o seu, eu tiro o meu”. O ator inicialmente se recusou, mas acabou convencido. Ciente do que estava por vir, Stuart, o barbeiro responsável, tremia, segundo gostava de contar Donner...
Já sem o bigode, Hackman falou com Donner: “agora é a sua vez. Stuart, tire o bigode dele”. O diretor então respondeu: “eu não preciso” e puxou o bigode falso que usava. “Hackman olhava pra mim e seu pescoço parecia umas quatro vezes mais largo, com veias prestes a estourar em suas têmporas. Ele era difícil, achei que fosse me bater contra a parede”, dizia Donner, antes de completar. “Aos poucos, um sorriso foi surgindo em seu rosto e ele começou a rir. A partir desse momento, ele foi um cavalheiro, deu ideias… Ele não me machucou e ainda se tornou um de meus melhores amigos”, finalizou o cineasta.
A parceria dos dois foi tamanha que Hackman brigou com os produtores de “Superman 2” quando eles demitiram Donner com a produção em andamento - o ator não voltou para o terceiro filme. O diretor foi substituído por Richard Lester, mas sua versão do filme foi lançada em 2006 e atualmente está disponível na HBO Max.
Mas Donner não viveu só do Homem de Aço. O diretor dirigiu clássicos da “Sessão da Tarde” como “O Feitiço de Áquila” (1985) e o inigualável “Os Goonies” (1985). O cineasta ainda foi o responsável por reinventar as comédias de ação de “buddy cops” com “Máquina Mortífera” (1987). Ele também assina como produtor executivo do primeiro “X-Men” (2000), filme que fez com que os heróis voltassem a ser levados a sério em Hollywood. Seu último filme como diretor foi “16 Quadras” (2006), com Bruce Willis. Sua esposa, Lauren Diane Shuller, é quem vem tocando a produtora.
Apesar de não conseguir repetir o sucesso em seus últimos trabalhos, Richard Donner será sempre lembrado como um dos grandes na indústria, como o cara que abraçou toda a revolução do cinema dos anos 1970 e levou para os anos 80 criando obras que ainda hoje influenciam boa parte do cinema pop produzido pela indústria.
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