Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Rua do Medo: 1994": terror da Netflix é diversão espetacular

Primeira parte de uma trilogia de filmes que chegam à Netflix nas próximas semanas, "Rua do Medo: 1994. Parte 1" homenageia o terror dos anos 1990

Vitória
Publicado em 01/07/2021 às 19h56
Filme
Filme "A Rua do Medo: 1994. Parte 1". Crédito: Netflix/Divulgação

Robert Lawrence Stine, o R. L. Stine, é um fenômeno literário com mais de 400 milhões de livros vendidos mundo afora. Considerado o "Stephen King do terror adolescente", Stine é o criador da série de livros “A Rua do Medo”, que já conta com 56 obras ambientadas na pequena cidade de Shadyside, onde coisas estranhas acontecem, maldições e assassinos atormentam os moradores.

Os livros de Kline sempre foram considerados um subgênero literário, obras “baratas”, descartáveis, e talvez justamente por isso tenham caído nas graças de adolescentes dispostos a não consumir o mesmo que seus pais - ler um “A Rua do Medo” era fazer parte de um grupo que não seguia os padrões impostos pelos adultos, um ato de rebeldia. Ajuda, no caso, os livros serem tão divertidos.

“A Rua do Medo: 1994. Parte 1”, que estreia nesta sexta (2), leva a obra de Kline para a Netflix não literalmente, pois não adapta nenhum dos livros, mas em essência. Escrito e dirigido por Leigh Janiak, o filme acompanha um grupo de jovens lidando com misteriosas e violentas mortes em Shadyside, o que pode estar conectado com uma maldição que atormenta a cidade há séculos ou pode ser apenas obra dos rivais da cidade vizinha, a próspera Sunnyvale.

Como referenciado no título, o filme é quase uma homenagem ao terror feito nos 1990, filmes como “Pânico”, “Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado”, “Premonição” e afins. O clima é de nostalgia, com diversas referências estéticas e principalmente musicais da época - algumas bem previsíveis, inclusive -, mas o “A Rua do Medo” não se sustenta sobre a nostalgia e tem nessa característica o seu grande acerto.

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Filme "A Rua do Medo: 1994. Parte 1". Crédito: Netflix/Divulgação

A ambientação do filme de Janiak é o que deixa tudo tão interessante. Na Shadyside de “A Rua do Medo” praticamente não há adultos, que estão sempre ocupados com outros afazeres. Os que têm tempo de tela estão sempre equivocados, prontos para morrer ou envolvidos em algo errado. Resta, assim, o protagonismo aos jovens como um grito de independência, uma mostra de que eles estão prontos não apenas para assumir responsabilidades, mas para salvarem o dia.

“A Rua do Medo: 1994” é aquele tipo de história que transmite ao espectador a impressão de que tudo pode acontecer. Logo após a ótima introdução protagonizada por Maya Hawke, em uma homenagem direta ao hoje clássico “Pânico”, conhecemos Deena (Kiana Madeira) e seu irmão, Josh (Benjamin Flores Jr.) - ela, triste com o fim de um relacionamento, tem que lidar com o que vem a seguir. Josh, por sua vez, vive na internet alimentando teorias da conspiração. É ele também que servirá quase como um oráculo para a narrativa, sempre com alguma teoria que movimenta o roteiro.

Conhecemos também a popular Kate (Julia Rehwald) e o divertido Simon (Fred Hechinger). É interessante ver como o texto de “A Rua do Medo: 1994”, mesmo se mantendo fiel ao estilo dos anos 1990, subverte vários clichês do gênero. Kate, por exemplo, é a líder de torcida queridinha de todos, mas vende drogas para colocar dinheiro em casa. Já Simon é aparentemente um bobão, descompromissado, mas é quem cuida da casa desde os 15 anos e garante que os irmãos tenham comida no prato, além de ser um ótimo funcionário no local onde trabalha. Todos os personagens do núcleo principal têm algum desenvolvimento e um charme à la John Hughes, o que garante a nossa simpatia por eles e faz com que tenhamos medo do que possa acontecer - e coisas acontecerão.

Sem vergonha nenhuma de assumir suas referências, que até são a alma do projeto “A Rua do Medo”, Jeniak consegue amarrar bem toda a narrativa. Há muita exposição nos diálogos, principalmente com Josh explicando para os amigos as ligações entre as ondas de crime e na explicação de cada plano, quando o texto narra literalmente o que estamos vendo em tela. Outro problema é acerca do mistério acerca de quem, afinal, está matando os cidadãos de Shadyside. O roteiro opta por revelar esse mistério sem muito segredo, deixando mais tempo para que os jovens tenham que lidar com ele. É uma escolha válida e que ajuda na fluidez do terceiro ato, mas que diminui o suspense.

Mais do que manter o texto amarrado, a diretora/roteirista consegue surpreender com algumas boas viradas que acabam conectando “A Rua do Medo: 1994. Parte 1” aos próximos dois filmes, que serão lançados em 9 e 16 de julho. A proximidade dos lançamentos é uma estratégia interessante para manter a audiência ligada nesse universo durante mais tempo.

“A Rua do Medo: 1994. Parte 1” é excepcional no que se propõe a fazer, um filme tenso, com bons sustos, bastante sangue e acima de tudo muito divertido. A diretora Leigh Janiak entende que de nada adianta um terror com personagens ruins e, por isso, cria um universo de angústias adolescentes e uma ambientação visualmente rica, um espetáculo para fãs do horror dos anos 1990, mas não apenas para eles - o filme funciona muito bem para qualquer um disposto a se aventurar ao lado dos jovens de Shadyside.

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Filme "A Rua do Medo: 1994. Parte 1". Crédito: Netflix/Divulgação

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