Crítico de cinema e colunista de cultura de A Gazeta

Cai o secretário, permanece sua ideia de higienização da arte

O secretário especial de cultura, Roberto Alvim, foi exonerado após copiar discurso do nazista Joseph Goebbels, mas seu plano de "bombardeio de arte conservadora" continua vivo

Publicado em 17/01/2020 às 13h12
Atualizado em 17/01/2020 às 15h30
Secretário de Cultura, Roberto Alvim. Crédito: Reprodução/Twitter
Secretário de Cultura, Roberto Alvim. Crédito: Reprodução/Twitter

Sim. Roberto Alvim, (ex?) secretário especial de cultura, copiou texto do ministro da comunicação nazista, Joseph Goebbels, em um vídeo de estética fascista com direito à ópera favorita de Hitler ao fundo. Não foi por acaso e não foi coincidência.

Em dezembro do ano passado, Alvim havia prometido ao presidente Jair Bolsonaro um "bombardeio de arte conservadora". A ideia do ex-secretário deixa o presidente eufórico - o Plano Nacional das Artes anunciado no tal vídeo tem o intuito de ser o fomentador desse bombardeio, ou seja, o governo somente apoiará obras com viés de direita, que exalte seus "heróis". Esqueça, assim, qualquer possibilidade de uma arte questionadora ser aprovada pela lei de incentivo. Mais preocupante que o discurso copiado é a ideia transmitida por ele, que continua viva.

Não cabe ao governo dizer o que é ou não arte e homogeneizá-la. O conceito higienista de Bolsonaro e seus aliados sobre o tema elimina a cultura popular, o funk, o samba, o hip hop, o grafite… Esqueça também qualquer possibilidade de uma arte plural, com representatividade de gêneros, raças, credos e classes. O que o governo quer é uma arte branca, cristã e heterossexual, seja lá o que signifique isso..

É impossível normalizar o vídeo de Alvim, que chega a ser assustador - até o surtado Olavo de Carvalho, mentor intelectual do secretário e do presidente, publicou nota de repulsa. É impossível também entender como pessoas ligadas a ele deixaram esse pronunciamento ser publicado; toda peça publicitária depende de aprovação do alto escalão. O governo reage, exonera o secretário, marca posição e diz ser inaceitável tal comportamento. Assim, Bolsonaro agrada a comunidade judaica, que o apoia desde a campanha, e se afasta, perante a opinião pública, das práticas fascistas de que é acusado.

O que vale ressaltar é: cai o secretário, permanece o plano de higienização da cultura nacional, plano apoiado pelo presidente durante uma live publicada pouco antes do discurso de Alvim.

E neste momento, em que todos escrevemos e falamos sobre Roberto Alvim e o seu discurso nazista, ninguém se lembra das graves acusações contra o Secretário Especial de Comunicação, Fábio Wajngarten, que detém 95% de uma empresa que recebe verbas de agências de publicidade e emissoras de televisão às quais o governo Bolsonaro destina verba publicitária. A denúncia foi trazida pelo jornal "Folha de São Paulo".

O governo vai afirmar que comportamentos como o de Alvim não serão tolerados, mas ele mesmo, ao fazer afirmações como "pessoas de esquerda não merecem ser tratadas como se fossem pessoas normais" ou "não tem essa de Estado laico, é Estado cristão", é um propagador do discurso fascista de opressão. Cai o secretário que copia um discurso nazista, mas permanece o governo que adota suas práticas.

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