Crítico de cinema e apaixonado por cultura pop, Rafael Braz é Jornalista de A Gazeta desde 2008. Além disso é colunista de cultura, comentarista da Rádio CBN Vitória e comanda semanalmente o quadro Em Cartaz

"Bárbaros": série da Netflix estilo "Vikings" é constrangedora

Lançamento alemão na Netflix, "Bárbaros" recria a batalha da Floresta de Teutoburgo com péssimo roteiro, atuações ruins e diálogos constrangedores

Vitória
Publicado em 27/10/2020 às 20h00
Atualizado em 28/10/2020 às 19h02
Série alemã
Série alemã "Bárbaros", da Netflix. Crédito: Katalin Vermes/Netflix

Quando nos deparamos com obras como “Bárbaros”, lançada pela Netflix na última semana, fica mais fácil entender a revolta de fãs com os frequentes cancelamentos de boas séries que têm um público cativo - e nem coloco nessa conta séries como “Ozark”, “Dead to Me” ou “O Mundo Sombrio de Sabrina”, que foram canceladas, mas terão uma última temporada como oportunidade de fechar o arco, mas obras como “Mindhunter”, “The OA”, “Ninguém Tá Olhando”, “I’m Not Okay With This”, “Daybreak” e “GLOW”, que provavelmente nunca verão uma conclusão. Por que, afinal, investir em produtos de qualidade questionável e cancelar outros que já tinham seu público?

Produção alemã original Netlix, “Bárbaros” é uma atrocidade, uma série que mira em “Vikings”, “Rome” ou “The Last Kingdom”, mas acaba acertando em “Os Dez Mandamentos”, da Record.

Em seis episódios de 45 minutos (em média), a série recria a famosa batalha da floresta de Teutoburgo, na Germânia, onde hoje é a Alemanha, quando tribos locais se levantaram contra o avanço imperialista de Roma - essas tribos foram apelidadas de bárbaros pelos romanos. Líder dos germânicos na batalha, Armínio (vivido na série por Laurence Rupp) ainda hoje é considerado o “Pai Original dos Alemães", pois sua vitória reduziu a influência romana na região e ajudou na criação de uma identidade germânica.

Na teoria, “Bárbaros” tem um universo interessante a ser explorado, uma trama cheia de reviravoltas e traições políticas, mas o que é colocado em prática nem sequer chega perto disso. O roteiro da série é raso e deixa de lado diversas possibilidades para aproximar “Bárbaros” de “Vikings”. A série alemã tem em Thusnelda (Jeanne Goursaud), personagem histórica totalmente modificada pela série, uma líder feminina que faz as vezes de Lagertha, personagem de Katheryn Winnick em “Vikings”, e tenta transformá-la no corpo em volta do qual a série orbita, mas o roteiro é incapaz de dar essa profundidade.

Série alemã
Série alemã "Bárbaros", da Netflix. Crédito: Katalin Vermes/Netflix

O texto ainda despreza qualquer possibilidade de desenvolvimento dos personagens de maneira que pouco ou nada sabemos sobre Arminio, Thusnelda e Folkwin (David Schütter), o trio de protagonistas. Thusnelda ganha relevância de um momento para o outro e, de repente, passa a ser indispensável para a união das tribos, mas a tal “conexão com os deuses” que a torna tão importante nunca é explicada.

Outros personagens aparecem apenas para movimentar o roteiro ou para serem mortos de maneira “impactante” - “Bárbaros” segue a fórmula de “The Walking Dead” para mortes aleatórias, ou seja, se um personagem secundário ganha destaque, fala de sonhos, família ou ambições, ele morre em seguida; o texto apenas tenta fazer com que o espectador se interesse um mínimo pelo personagem, mas isso nunca acontece.

Série alemã
Série alemã "Bárbaros", da Netflix. Crédito: Katalin Vermes/Netflix

“Bárbaros” tem diálogos constrangedores e expositivos, sempre explicando o que acabou de ser mostrado em cena. A série carece de um peso que o roteiro dispensa com soluções simples para todos os conflitos - um, no final de um episódio, deixa um gancho para o próximo, mas quando o episódio seguinte tem início, o conflito já foi solucionado. O roteiro toma algumas liberdades históricas (nenhum problema com isso), como Armínio ser filho de Varo, para tentar forçar uma carga emocional, mas as relações são tão mal construídas que não fazem diferença.

A série ainda sofre com atuações abaixo da média de todo o elenco e com uma construção de época bem equivocada. “Bárbaros” tem um triângulo amoroso digno de “Malhação” e personagens adultos agindo como adolescentes. Além disso, a série tenta ser grandiosa, mas claramente não teve verba para isso; o resultado são aldeias pequenas e pouquíssimos figurantes, boa parte deles vestidos como se estivessem com uma fantasia do Carnaval de Vitória.

Série alemã
Série alemã "Bárbaros", da Netflix. Crédito: Katalin Vermes/Netflix

Para não parecer implicância, vale destacar alguns aspectos positivos: o dinheiro economizado nos cinco episódios iniciais parece ter sido investido na batalha final, que, mesmo não passando a impressão de ter durado dias como a batalha real, não é horrorosa. O núcleo romano também se sai melhor nas atuações e na fala do latim, idioma do Império Romano.

Ao fim, “Bárbaros” é um grande desperdício - um desperdício do tempo de quem assiste, de orçamento da Netflix, e, principalmente, de uma premissa que funcionaria bem na mão de produtores e roteiristas mais talentosos. A série alemã pode até ter boas intenções, mas elas não são suficiente para emprestar dignidade a um texto tão ruim.

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