Crítico de cinema e colunista de cultura de A Gazeta

"A Maldição da Mansão Bly", da Netflix, é excelente terror gótico

"A Maldição da Mansão Bly" é a segunda parte da antologia de maldições da Netflix que teve início com a ótima "A Maldição da Residência Hill"

Publicado em 08/10/2020 às 06h00
Atualizado em 08/10/2020 às 06h00
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Série "A Maldição da Mansão Bly", da Netflix. Crédito: Eike Schroter/Netflix

“A Maldição da Residência Hill” é um dos melhores originais na Netflix. Lançada em 2018, a série criada e dirigida na íntegra por Mike Flanagan tem personagens carismáticos e bem desenvolvidos inseridos numa pegada que mistura terror moderno a elementos psicológicos das obras de Stephen King. A história, porém, tem início, meio e fim, o que tornava impossível uma segunda temporada após o sucesso. A solução foi criar uma antologia de maldições - depois da residência Hill, chega “A Maldição da Mansão Bly”, que estreia sexta-feira (9) na Netflix.

Baseada no livro “A Outra Volta do Parafuso”, de James Henry, a nova série de terror da Netflix tem o desafio de expandir o universo de terror da antologia e agradar aos fãs da primeira série sem se repetir, uma tarefa não muito fácil. Como o livro de Henry é curto, pouco mais de 100 páginas, Flanagan, que agora assina como criador e dirige o primeiro episódio, utilizou trechos de outras obras de Henry (principalmente “The Jolly Corner” e “The Romance of Certain Old Clothes”) para dar estofo à trama.

Mais ou menos como no livro, tudo começa com uma história sendo contada; é a história de Dani Clayton (Victoria Pedretti, a Nell de “Residência Hill”), uma jovem americana em busca de emprego em Londres. Após certa insistência, ela acaba contratada para cuidar de duas crianças órfãs na tal Mansão Bly, Flora (Amelie Bea Smith) e Miles (Benjamin Evan Ainsworth).

Desde a chegada de Dani ao local, percebe-se que as coisas por ali estão fora do lugar. Além da morte dos pais, as crianças tiveram que lidar também com a morte da cuidadora que antecedeu Dani, e, por isso, vêm demonstrando comportamentos um tanto estranhos desde então. Flora é mais efusiva e logo se apressa a formar um vínculo com Dani. Miles, por sua vez, é assustador desde o início.

O primeiro episódio, dirigido por Mike Flanagan, guarda semelhanças com “Residência Hill”, mas elas logo vão se dissipando. “A Maldição da Mansão Bly” tem ares de terror gótico, de uma história contada de geração em geração, misturando elementos de fantasia que aproximam a série da obra de, por exemplo, Guillermo Del Toro (“Labirinto do Fauno”, “A Forma da Água”). Esses elementos góticos e fantásticos não significam que a série não tenha terror, apenas que a narrativa não será igual à de sua antecessora.

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Série "A Maldição da Mansão Bly", da Netflix. Crédito: Eike Schroter/Netflix

Os diretores brincam com as sombras e com elementos em segundo plano para criar tensão, provavelmente esperando que os espectadores que caçaram os fantasmas escondidos na residência Hill tenham alguma surpresa e satisfação. Os takes longos possibilitam o clima tenso, principalmente quando a câmera continua ligada continua mesmo após a saída dos personagens de cena.

Mesmo com a mudança de clima, “A Maldição da Mansão Bly” ainda é uma série assustadora, principalmente em seu início e no seu arco final. No meio do caminho, quando usa tempo para desenvolver todos os personagens, o texto ganha profundidade e os personagens, a simpatia do público. Há tempo desperdiçado e alguns sustos previsíveis, principalmente no arco sobre o passado de Dani, mas a série tem o mérito de não se tornar cansativa ou desinteressante mesmo quando não está em seu melhor momento.

“A Maldição da Mansão Bly” carece de adrenalina em alguns momentos, pois o espectador demora a perceber que não está acompanhando uma história unicamente de terror - assim como “Residência Hill” tinha uma subtrama psicológica, de cicatrizes, “Mansão Bly” é uma grande (e excelente) história de amor e memória. É interessante perceber que essa virada vem de forma sutil, e, quando ela se torna mais clara e as teorias que criamos se esvaem, percebemos que a trama central esteve ali o tempo todo.

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Série "A Maldição da Mansão Bly", da Netflix. Crédito: Eike Schroter/Netflix

A narrativa gasta tempo demais com idas e vindas ao passado, mas tudo se encontra no meio, justamente no quinto episódio, que confere um ar mais grandioso à série e faz o espectador perceber que de fato não verá uma repetição de tudo o que deu certo em “Residência Hill”.

Victoria Pedretti está ótima, dando vida a uma Dani no limite de explodir, mas sempre mantendo a compostura com as crianças. A química do resto do elenco também funciona muito bem, principalmente entre Owen (Rahul Kohli) e Hannah (T'Nia Miller). Henry Thomas passa a maior parte do tempo mais ou menos sozinho em tela, mas seu personagem guarda um rancor importante para o desenvolver da trama. As crianças também se destacam com atuações mais voltadas para o macabro do que para o fofo.

“A Maldição da Mansão Bly” assume riscos ao não repetir sua antecessora, mas funciona para expandir um universo de terror e fantasia. É justamente quando tenta se aproximar da “Residência Hill”, com jump scares e sustos previsíveis, que a série perde um pouco de seu encanto e foco. Apesar disso, Mike Flanagan entende que é possível causar medo sem assustar, e mesmo que sua ausência seja sentida em alguns momentos, é fácil identificar sua assinatura nos acertos.

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