Crítico de cinema e colunista de cultura de A Gazeta

"Bom Dia, Verônica": série da Netflix é um soco no estômago

Série brasileira "Bom Dia, Verônica" adapta para as telas da Netflix o livro de Ilana Casoy e Raphael Montes, um thriller policial cru e violento sobre violência contra a mulher

Publicado em 01/10/2020 às 05h00
Atualizado em 20/10/2020 às 17h29
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Série "Bom Dia, Verônica". Crédito: SUZANNA TIERIE/NETFLIX

Foi só em agosto de 2019 que Andrea Killmore se revelou. Autor(a) do romance policial “Bom Dia, Verônica”, lançado em 2016, Andrea foi um pseudônimo usado por Ilana Casoy e Raphael Montes. Criminóloga e escritora, Ilana Casoy se tornou uma grande autoridade em crimes no Brasil ao estudar perfis psicológicos de serial killers e publicar livros sobre o assunto. Já Raphael é um dos mais talentosos jovens escritores brasileiros - sério, leia “Dias Perfeitos” e “Suicidas” para conhecer seu trabalho.

O conhecimento real de Ilana e a narrativa fluida de Raphael transformaram “Bom Dia, Verônica” em um thriller policial tenso, ágil e cheio de reviravoltas, ou seja, uma obra praticamente pronta para ser levada para a televisão.

“Bom Dia, Verônica”, a série, chega em 1º de outubro à Netflix dividida em oito episódios de cerca de 40 minutos. A trama é a mesma: acompanhamos Verônica (Tainá Muller), escrivã da Delegacia de Homicídios de São Paulo que presencia um suicídio em seu local de trabalho e acaba se envolvendo com a história da jovem que se matou. À medida que ela se aprofunda na investigação, acaba cruzando seu caminho com o de Janete (Camila Morgado), uma mulher às voltas com um casamento abusivo e violento com Brandão (Eduardo Moscóvis).

A série segue a estrutura do livro, se alternando em acompanhar Verônica e Janete e aos poucos desenvolvendo as histórias das duas. O texto apresenta alguns novos personagens e muda algumas características de outros, mas, no geral, a série é bem fiel ao material original. O fato de Raphael estar diretamente envolvido na adaptação faz com que todas as mudanças sejam justificadas - a personagem Anita (Elisa Volpatto), por exemplo, mostra mais uma camada de machismo e tira um pouco da antipatia de Carvana (Antônio Grassi), personagem importantíssimo na trajetória da protagonista.

Desde o primeiro momento uma coisa fica clara: não há sutilezas. Tal qual a literatura do saudoso Rubem Fonseca (1925 - 2020), o estilo policial de “Bom Dia, Verônica” é cru, duro e violento. O conhecimento de Ilana ajuda a construir a escalada de violência de Brandão com a precisão de quem estudo o assunto e entende o comportamento de assassinos.

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Série "Bom Dia, Verônica". Crédito: SUZANNA TIERIE/NETFLIX

O desenvolvimento do personagem faz com que o público não apenas entenda a situação de Janete, mas divida com ela os momentos de angústia e dor. Eduardo Moscóvis e Camila Morgado vão bem individualmente, mas é quando estão juntos em cena que eles brilham. Janete é uma personagem sofrida, isolada, de pouco convívio social, e isso fica claro nos trejeitos de Camila Morgado, afinal, como você se comporta quando ninguém está vendo? Já Brandão é um predador de comportamento imprevisível, capaz de ir do afeto à violência em segundos.

A série, com apoio visual, torna o relacionamento dos dois até mais cruel do que o livro, acompanhando todo o ciclo da violência de Brandão e as consequências daquele relacionamento na cabeça da esposa, que se sente culpada e diz merecer o que se passa com ela.

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Série "Bom Dia, Verônica". Crédito: SUZANNA TIERIE/NETFLIX

Tainá Muller também se sai bem como Verônica tanto nos momentos mais dramáticos quanto nas cenas de ação. A personagem se divide entre a carinhosa mãe, a esposa nem sempre tão presente em função do trabalho e uma espécie de justiceira impulsiva e um até um pouco imprudente - mesmo sofrendo com o distanciamento da família, ela nem sequer cogita largar suas investigações. É interessante notar como a personagem já mostra uma personalidade mais dura, uma casca após tanto tempo em um ambiente dominado por homens; ela sabe lidar com eles e os encara como igual, independente de serem seus superiores.

“Bom Dia, Verônica” é um grito contra a violência contra a mulher e o abuso doméstico, é uma série que não romantiza as relações abusivas, pelo contrário, as expõe com o máximo de realidade para que o público entenda que o que vê em tela é ficção, mas o que acontece na casa do seu vizinho talvez não seja.

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