Crítico de cinema e colunista de cultura de A Gazeta

Eddie Van Halen foi o guitarrista mais influente de sua geração

Morto em virtude de um câncer na garganta, Eddie Van Halen deixa um legado de ter revolucionado o instrumento misturando técnica e precisão a melodias pop

Publicado em 06/10/2020 às 18h43
Guitarrista Eddie Van Halen
Guitarrista Eddie Van Halen. Crédito: Reprodução/Instagram

Eddie Van Halen, se não foi o melhor guitarrista de sua geração, foi o mais influente. E escrevo isso não de forma a menosprezar o guitarrista da banda que levava seu nome, mas para fugir de debates sobre virtuosos ou sobre quem tocava mais ou quem tocava menos.

O músico falecido na tarde desta terça-feira (06), aos 65 anos, em decorrência de um câncer na garganta, apareceu 29 vezes na capa da revista “Guitar World”, uma prova que ele definiu a guitarra dos anos oitenta da mesma forma que seus ídolos Eric Clapton, Jimmy Hendrix e Jimmy Page o fizeram nas décadas anteriores.

Nascido na Holanda, mas criado nos EUA, Eddie (que preferia ser chamado de Edward…) tocava como poucos, mas suas criações tinham apelo pop - um bom solo de guitarra, afinal, é aquele que pode ser cantarolado, não um que precisa ser decifrado por especialistas para ser entendido.

Isso não impedia, porém, que ele criasse algo como “Eruption”, um solo em que usa diversas técnicas e conclui com um tapping que se tornou uma marca registrada. “Eu aprendi a fazer isso porque não tinha dinheiro para comprar pedais de wah-wah ou de efeitos. Então eu experimentei”, explicou, em uma das entrevistas à “Guitar World”.

Seu apelo pop pode ser conferido até no clássico “Beat It”, de Michael Jackson, um solo que Eddie afirma ter gravado no improviso e em dois takes - segundo reza a lenda, um auto-falante chegou a explodir no estúdio enquanto o solo era gravado.

Já na banda que carregava seu nome e o do irmão, Alex, Eddie mostrou seu lado mais pop na única canção do grupo que chegou ao primeiro lugar na parada da Billboard; “Jump” foi rejeitada pelos companheiros de banda, que não viam sentido em ter um “guitar hero” tocando teclado. Ele bateu o pé e a música tem um dos riffs mais marcantes da história do rock.

Lançado em 1978, o disco de estreia do Van Halen é reconhecido por ter levado um pouco de “sol” e glamour à época em que o punk ganhava espaço. O Van Halen era tão explosivo quanto os punks, mas com uma pegada californiana de diversão e aquelas bases que serviriam de modelo para o hard rock da década seguinte, estilo que ajudaram a moldar.

O surgimento da banda também foi o surgimento da lenda de um guitar hero. Eddie tirava um som único de sua Frankestrat, uma Fender Stratocaster totalmente alterada por ele. No álbum de estreia da banda, o guitarrista já despeja um festival de harmônicas, arpejos e escalas pouco vistas no rock, que nunca mais seria o mesmo.

A banda desandou nos anos 1980 com uma eterna briga de egos - David Lee Roth, o vocalista sensual e performático acreditava merecer mais destaque. Os conflitos eram potencializados por montanhas de cocaína e álcool. Após a saída de Lee Roth, a entrada do vocalista Sammy Hagar deu uma sobrevida à banda, que lançou bons discos com seu segundo vocalista. Hagar, claro, acabou brigado com Eddie e a banda recrutou Gary Cherone, do Extreme, para lançar um disco. Mesmo sem o destaque de antes e com trabalhos irregulares, havia um consenso: Eddie Van Halen continuava tocando demais.

Lee Roth e Hagar, claro, não foram os únicos alvos da fúria e do ego de Eddie. No livro “Eruption in the Canyon: 212 Days and Nights with the Genius of Eddie Van Halen”, Andrew Bennet escreve sobre a vez que o guitarrista apontou uma arma na cabeça de Fred Durst, do Limp Bizkit.

Eddie vinha há algum tempo lidando com problemas de saúde. O consumo elevado de álcool e drogas o levou diversas vezes à reabilitação; Eddie estava sóbrio desde 2008. Além disso, o músico sofreu com várias lesões ligamentares devido a suas acrobacias e seus pulos durante os shows, ele chegou até a colocar uma prótese nos quadris para suportar as dores.

Em 2000, um câncer na língua fez com que ele tivesse um terço dela retirada em cirurgia. Curiosamente, ele declarava que o câncer não tinha a ver com cigarros, mas sim com palhetas de metal e ondas eletromagnéticas de estúdios. Foi só no ano passado, 2019, que o câncer de garganta foi tornado público, mas Eddie vinha lutando contra ele desde 2014.

Após a notícia da morte, músicos invadiram as redes sociais com mensagens de adeus:

Yngwie Malmsteen: "Soube agora das notícias devastadoras. Um dos absolutos gigantes se foi. Ele influenciou e inspirou uma geração inteira, incluindo a mim. Seu legado seguirá para sempre. Descanse em paz, Edward"

Geezer Butler (Black Sabbath): "Quando pensei que 2020 não poderia piorar, soube que Eddie Van Halen morreu. Chocante. Um dos caras mais legais e humildes que conheci e com o qual excursionei junto. Um grande gentleman e um grande gênio. Descanse em paz"

Tom Morello (Rage Against the Machine): "Descanse em paz, EVH. Um dos maiores, mais inventivos e verdadeiramente visionários músicos da história. Um titã sem paralelos nos anais do rock and roll. Agradecemos do fundo dos nossos corações por cada nota espetacular".

Flea (Red Hot Chili Peppers): "Droga. Eu te amo, Eddie Van Halen. Um verdadeiro roqueiro, um músico profundo, um coração ENORME, um garoto de Los Angeles por completo. Um inovador ousado e o rei indiscutível. Espero que você toque com Jimi Hendrix esta noite e voe livremente pelo cosmos. Uma parte vibrante da música deixou este planeta".

John Mayer: "Eddie Van Halen era um super-herói da guitarra. Um verdadeiro virtuoso. Um excelente músico e compositor. Olhar para ele quando era criança foi uma das forças motrizes na minha necessidade de pegar uma guitarra.

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