Nessa coluna, Nanda Perim fala de sua experiência como psicóloga e educadora parental, dando seu parecer sobre questões atuais da educação infantil, trazendo dicas, humor e muita novidade boa!

Incerteza: a ansiedade é visita constante no isolamento social

A psicóloga Nanda Perim explica que uma das causas desse sentimento é a imprevisibilidade.  Ela pode nos deixar desanimados, depressivos, desesperançosos, e isso pode tornar seus dias cada vez mais difíceis

Publicado em 30/04/2020 às 11h18
Atualizado em 30/04/2020 às 11h18
Ansiedade
A ansiedade pode  causar outros sentimentos, porque nos leva ao medo, à tristeza e até mesmo à euforia. . Crédito: Divulgação

Muitas emoções mistas estão tomando conta de nós nessas semanas de quarentena: preocupação, estresse, euforia, tristeza, medo. Mas existe uma, em especial, que nos visita em meio à todas essas outras: a ansiedade. A ansiedade é constante porque ela pode estar presente até no mais feliz dos momentos. Ela pode ser a causa daqueles outros todos sentimentos, porque nos leva ao medo, à tristeza e até mesmo à euforia. Sabia que a ansiedade tem várias caras? Ela pode aparecer, em adultos e crianças, como uma organização excessiva, como a total falta de organização, pode aparecer em forma de energia acumulada e vontade de correr uma maratona ou uma total falta de vitalidade sem vontade de levantar da cama.

A ansiedade tem tantas caras que é difícil definir quais são os sintomas. Mas uma coisa é certa: uma das causas mais importantes de ansiedade é a imprevisibilidade. Não saber o que vai acontecer, quanto tempo vai durar a quarentena, como vamos dar conta da próxima semana, mês, ano. A total falta de controle sobre aspectos muito importantes da vida pode te levar a querer organizar excessivamente aquilo que pode controlar ou desistir de vez do controle. A ansiedade pode nos deixar desanimados, depressivos, desesperançosos, e isso pode tornar seus dias cada vez mais difíceis. E, isso sim, pode fazer esses incontáveis dias de quarentena parecerem cada vez mais longos e estressantes.

Nanda Perim

psicóloga

"Se as próximas semanas e meses não podem ser previsíveis, torne ao menos os seus dias mais ansiolíticos. Isso é muito saudável para adultos e no universo da criança é imprescindível: a criança precisa conseguir prever seu dia"

Então aqui vai uma dica que pode te ajudar demais a atravessar esse período: encontre o equilíbrio e retome o controle possível na sua vida. Ou seja, se as próximas semanas e meses não podem ser previsíveis, torne ao menos os seus dias mais ansiolíticos. Isso é muito saudável para adultos e no universo da criança é imprescindível: a criança precisa conseguir prever seu dia.

Se não temos uma rotina, um ritmo no dia a dia, uma sequência de eventos com horários para nos basear, passamos mais tempo analisando e descobrindo o que vamos fazer do que realmente fazendo algo. Já a criança passa mais tempo sem saber o que esperar do seu dia. Quando poderá comer, quando poderá brincar com os pais, quando vai ser pega de surpresa com hora do banho, tornando necessária a constante presença do adulto para sanar todas essas dúvidas e anseios. E isso, além de estressante, pode ser extremamente improdutivo, o que nos torna muitas vezes ainda mais desanimados e acaba com nossa auto estima.

Já no adulto, ela pode se tornar uma excessiva carga mental. Andar por sua casa e perceber que está uma bagunça, que já não tem roupas para usar, que não troca roupa de cama ou de banho há mais de uma semana... Olhar no armário e não ter o que comer, perceber que há dias não bebe muita água ou percebe que não fez metade do que se propôs no começo da semana. Cada uma dessas coisas é um tijolinho a mais de desânimo, estresse e desespero que deixamos acumular, se tornando devagar em um muro que nos prende a energia no dia a dia. E conforme o tempo passa, cada dia mais você acorda com medo de olhar para essa lista, cada vez maior, de pesos e dificuldades na sua vida.

Mas, atenção, isso aqui não é um puxão de orelha, muito menos uma sugestão de hiper produtividade e organização na quarentena. Lembra que falei a palavra “equilíbrio”? Teremos dias que serão extremamente improdutivos, semanas que acumularão as tarefas de casa, períodos de desânimo que tomarão nossos dias. O que estou sugerindo é um ‘controle possível’, uma organização em que se basear para evitar ao máximo acumular problemas ao ponto de se tornar insuportável. É uma dica para que a gente possa buscar diminuir a frequência dos dias de desânimo, aumentar a autoestima e melhorar as sensações boas e bons sentimentos na quarentena.

Então vamos para uma sugestão: organize uma agenda, uma rotininha, já inspirada no que está acontecendo nos seus dias hoje. Organize um horário para comer, horário para sentar e respirar, horário para uma tarefa de casa, horário para brincar com as crianças sem se preocupar com trabalho, horários para trabalhar, horários para lazer, horário máximo para dormir. Não é para virar um robô, é apenas para se basear, organizar seu dia, torná-lo previsível e fácil de administrar.

Melhor do que comer achando que deveria estar trabalhando e trabalhar achando que deveria estar varrendo e varrer achando que deveria estar brincando com as crianças. Tenha tempo para cada coisa, e assim será sereno fazer cada uma delas. Seja com crianças ou sem, eu sugiro que você comece seu dia fazendo coisas que te fazem bem. Aqui eu começo dando um cheiro nos meninos, sentando para brincar, tomo logo um chá, olho a vista da janela e respiro fundo ouvindo os sons distantes da cidade. Sinto o cheiro delicioso de café dos apartamentos vizinhos, e penso coisas boas que desejo para aquele dia que inicia. Outro exercício legal é, nesse momento, pensar em tudo o que você tem com gratidão, em cada coisinha, e começar seu dia com pensamentos bons!

Trace algumas metas pro seu dia e comece com o coração tranquilo de que você vai dar o seu melhor, independente do que isso significar nesse dia específico. Conforme tenha o dia mais previsível, adultos e crianças devagar diminuirão suas ansiedades, e poderão desfrutar mais tranquilos cada dia, cada semana, deste período maluco e intenso que estamos vivendo. Assim, pensando no dia de hoje, no momento presente, sabendo o que esperar do dia, conseguimos focar no agora e ficar mais leves com relação ao futuro, porque não estaremos o dia inteiro só pensando nele.

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