Nessa coluna, Nanda Perim fala de sua experiência como psicóloga e educadora parental, dando seu parecer sobre questões atuais da educação infantil, trazendo dicas, humor e muita novidade boa!

Autocuidado dos pais é uma forma de cuidar de nossas crianças

Mas primeiro, segundo a psicóloga Nanda Perim, precisamos ressignificar algo: se cuidar não é se arrumar

Publicado em 23/04/2020 às 08h16
Atualizado em 24/04/2020 às 08h59
Homem gritando
Que atire a primeira pedra quem nunca gritou com a criança. Crédito: https://unsplash.com/

Que atire a primeira pedra quem nunca acabou gritando com a criança e se arrependendo profundamente depois. Aliás, que atire a primeira pedra quem gritou e depois simplesmente percebeu que descontou na criança algo que poderia ter cuidado. Vou te dar um exemplo na minha vida: eu fui tentar esse negócio de jejum intermitente. Sem querer entrar a fundo no tema, a ideia é que você passe mais tempo no dia sem comer do que comendo e que tenha apenas algumas horas todos os dias em que você realmente coma. Bom, lá fui eu testar e, como acordo com fome, quando fui ver, lá estava eu brigando com todo mundo e extremamente estressada. Meu marido me chamou e disse “acho que você precisa comer alguma coisa”. Gente, fiquei chocada. Como não percebi? Absolutamente tudo me irritava, tudo me incomodava dentro da casa e eu não fazia ideia de que era fome!

Não que o jejum não dê certo, você só leva um tempo para se acostumar. E nesse tempo eu precisaria ficar trancada num quarto sozinha. Como sou mãe, em resumo, eu não poderia fazer jejum ainda. Enfim, os motivos por que briguei com meus filhos eram meus, totalmente controláveis, e então fui fazer minha reparação, reconhecer, pedir desculpas, como já mencionei aqui em outra coluna. É isso! Muitas vezes temos dores e machucados que são de outras coisas da vida ou de nossa história, dos dias que levamos. E se não cuidarmos desses machucados acabamos ‘sangrando’ nos nossos filhos, que são os mais vulneráveis e que mais buscam nosso amor e aprovação. Tão injusto, porém tão comum, são eles que ficam com o pior de nós, muitas vezes.

Por isso, te digo, autocuidado dos pais é também uma forma de cuidar de nossas crianças. Nossa saúde emocional e equilíbrio mental são absolutamente prioridade enquanto estamos convivendo com crianças. Na verdade, são e serão sempre, mas quando estamos com crianças as consequências de não cuidar disso são ainda mais graves. Mas uma coisa eu quero deixar claro: seu autocuidado não pode ser em detrimento do cuidado da criança. Me dá arrepios quando vejo gente justificando deixar criança na escola em tempo integral ou ficar fazendo treinamentos absurdos de sono em bebês em nome da saúde emocional dos pais. Isso não faz qualquer sentido! Como podemos preterir a saúde emocional do ser mais vulnerável para cuidar daqueles que conseguem se cuidar sozinhos? Se alguém pode segurar as pontas por um período somos nós, não eles. Então, que fique claro que minha sugestão é que as mães e os pais se cuidem, cuidem de seu emocional - e já vamos falar como fazer isso - e que isso seja concomitante com os cuidados com a saúde emocional da criança.

Entendido isso, como pais e mães podem praticar o ‘se cuidar’? Primeiro, precisamos ressignificar algo: se cuidar não é se arrumar! Nós mulheres ouvimos a vida toda que se cuidar é ir ao salão, é mexer nos cabelos e fazer unha. Não estou falando disso. Estou falando de conseguir cuidar da sua mente, da sua autoestima emocional, da sua paz interna e de suas ansiedades e medos. Estou falando de parar para respirar fundo e sentir seus pés no chão. Sentir um cheiro gostoso, fechar os olhos e curtir, sem pressa, sem preocupação. Estou falando de organizar uma rotina, de saber o que vai ser do seu dia, de conseguir fazer cada atividade concentrada nela, porque sabe que terá tempo para cada uma das coisas quem terá para fazer naquele dia.

Autocuidado é organizar sua vida para conseguir tomar um banho sem pressa, para fazer todos os dias uma coisa que você ama, que você priorize notícias boas, comidas boas e boas companhias. Que a pilha de louças não te atrapalhe a ter uma ou duas horas só para você todos os dias. Que a divisão do trabalho doméstico te permita ser mais uma pessoa que mora na casa e não alguém sobrecarregada. Que você consiga respirar fundo, ver o pôr do sol da janela, ler um livro ou ver um filme, ter conversas boas e curtir seu tempo livre. Que você tenha tempo livre na sua agenda todos os dias. Uma dica: coloque sua criança para dormir por voltas das 20h, assim você terá duas horas para si e ainda poderá dormir cedo para que não te acumule cansaço para o próximo dia! Percebe que quando falo de rotina, de dormir cedo, de priorizar, estou falando de autocuidado enquanto uma filosofia no dia a dia? E assim, você terá tempo para se cuidar, para estar bem consigo, e então você também estará bem quando estiver com suas crianças. E isso é o melhor dos cuidados que você pode ter com filhos!

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