Nessa coluna, Nanda Perim fala de sua experiência como psicóloga e educadora parental, dando seu parecer sobre questões atuais da educação infantil, trazendo dicas, humor e muita novidade boa!

Peça desculpas para seu filho e mostre que você também erra

A psicóloga Nanda Perim explica que na educação tradicional a criança precisa ser e fazer muitas coisas para ser amada, e que os pais sempre estão certos

Publicado em 09/04/2020 às 18h06
Pai e filho brincam no sofá
Pai e filho brincam no sofá. Crédito: Shutterstock

Há uma revolução acontecendo entre pais e mães, repensando a educação tradicional. Aquela hierárquica, autoritária, em que crianças apanham e são colocadas de castigo como se a violência ensinasse alguma coisa além de mais violência. Nessa revolução, de que faço parte, uma das coisas que ressignificamos fortemente é o pedido de desculpas. Você já percebeu que na educação tradicional hierárquica os pais têm muita dificuldade de pedir desculpas e dizer te amo? Isso acontece porque quando enxergamos uma hierarquia, vemos a aproximação e a intimidade enquanto fraquezas que nos tiram a autoridade e o poder naquela relação. Admitir um erro também é mal visto pelos adultos porque seria descer de um pedestal e se colocar no mesmo ‘nível’ daqueles hierarquicamente inferiores.

Acontece que a relação de pais e filhos é para ser segura, para ser saudável, para nutrir essa criança de suas necessidades básicas. Por isso, precisa necessariamente ser uma relação de intimidade e amor incondicional. A criança precisa se sentir vista, amada, ouvida, e precisa saber que esse amor não precisa ser merecido, nem precisa ser conquistado, ele é seu por direito, por natureza, incondicional e incontestável.

Mas não é o que vemos na educação tradicional. O que vemos é uma criança que precisa ser e fazer muitas coisas para ser amada, para merecer tempo com os pais, para merecer um sorriso e até mesmo um carinho. Essa criança está sempre errada até que provem o contrário, e aos olhos dos pais está sempre os testando ou manipulando, como se a natureza da infância fosse maléfica. Essa forma ultrapassada de ver a infância foi o padrão na vida de muitos nós e de nossos pais que assim aprenderam e assim o fizeram. Uma educação em que se ouve poucos ‘te amo’ e poucos ‘desculpa’. Em que sentimos que a culpa era sempre nossa, e que estávamos sempre errados. Nossos erros recebiam atenção absoluta enquanto nossos acertos eram obrigações, e nesse ritmo a criança ou desiste ou se esforça absurdos para ter o orgulho desses pais.

Aqui na minha coluna ainda vamos falar muit dos detalhes que nós não percebemos sobre nossas infâncias, que não só muito nos machucaram -  e, às vezses, sequer lembramos - como também acabam fazendo com que acabemos machucando nossas crianças. E o assunto que quero abordar na coluna de hoje é: precisamos aprender a perdoar, e principalmente, a pedir perdão. Precisamos admitir erros, pedir desculpas, e mais do que tudo: aprender a nos perdoar e nos cobrar menos.

As coisas nem sempre serão como gostaríamos e agora, mais do que nunca, não estamos sendo nós mesmos. Cansados e estressados, estamos, sim, cometendo muitos erros. É minimamente humano que façamos isso. Mas é extremamente necessário que a gente possa reconhecer, que possamos entender nosso erro e reparar nossas relações, entendendo que faz parte, mas que é também oportunidade de aprendizado.

Ensine seus filhos que você erra, sim, e pede desculpas. Através do seu modelo eles se tornarão mais humanos, e entenderão que cometer erros é oportunidade de aprender, que pedir desculpas é oportunidade de se engrandecer. Que a gente esqueça aquele medo da educação tradicional e entenda de uma vez por todas que não perdemos valor ao pedir desculpas, mas agregamos, aprendemos, crescemos! E vale uma dica importante: pedido de desculpas não é convite para sermão. Além de aprender a pedir, precisamos aprender a ouvir sem fazer a pessoa se arrepender de pedir desculpas para nós. Não é só pedir desculpas que demanda maturidade, como também para concedê-la. Nesse processo de amadurecimento aprendemos a perdoar mais nossos próprios erros e também a pedir desculpas para nós mesmos. Devagar a gente começa a ter menos medo dos erro e devagar a gente começa a se curar dessas infâncias. Mesmo com a melhor das intenções nossos pais nos deixaram com muitas pendências.

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