Nessa coluna, Nanda Perim fala de sua experiência como psicóloga e educadora parental, dando seu parecer sobre questões atuais da educação infantil, trazendo dicas, humor e muita novidade boa!

Confinamento: um mergulho em nós mesmos

Nanda Perim explica que esse período pode ser de enfrentamento ou de fuga, mas ressalta a importância de apresentarmos a melhor versão de nós mesmos para quem amamos, principalmente para as crianças

Publicado em 02/04/2020 às 13h16
mãe e filha se abraçando
Muitas vezes, o que a criança quer é só amor e carinho. Crédito: shutterstock

Nesse período de quarentena em que estamos vivendo, muitas mudanças estão chegando em nossas vidas. Muitas delas, mudanças que vieram de forma temporária, como por exemplo ficar trabalhando de casa e cuidando de criança ao mesmo tempo, passar o dia todo, todos os dias, trancado em casa com cônjuge e filhos, a angústia do confinamento, a ansiedade pelo que vem pela frente... Mas algumas mudanças vêm pra ficar, como a nova forma em que você vê suas crianças, essa nova maneira de enxergar aqueles que você ficou tantos dias sem ver, um novo olhar pro mundo que se mobilizou, uma nova apreciação ao sair de casa, encontrar pessoas, sentir o cheiro da natureza ou colocar os pés descalços na areia.

Depois dessa experiência, muita coisa vai mudar dentro de nós. O convívio não está sendo intenso apenas com as pessoas ao nosso redor, como também com a casa em que moramos e, principalmente, com a mente que habitamos. É o momento em que entramos em contato com nossas maiores sombras, enfrentamos muitos medos, descobrimos medos que nem sabíamos que tínhamos. É um mergulho em nós mesmos esse tempo de confinamento, e pode ser um período de enfrentamento ou de fuga. Eu entendo quem está achando esse período intenso demais para ainda querer enfrentar a si mesmo, é pesado, obscuro e difícil. É necessário, mas tem coisas mais urgentes pedindo sua atenção, e pode não ser a hora para isso. Mas é legal reconhecer essa necessidade, saber que ela está lá e que um dia, quando puder, vai topar olhar para a cara dela. Se estiver difícil demais para enfrentar, ao menos reconhecer sua existência já é um grande passo.

Isso porque nos nossos dias corridos de antes sobrava pouco tempo para esse olhar pra dentro, e quando confinados com aquelas mesmas pessoas ao lado, nossas maiores dificuldades ficam mais claras. Nossa pior versão pode dar as caras nesse momento, e ficar tão óbvia que fica difícil de ignorar e fingir que não existe, como era feito outrora.

Mas não é só na nossa pior versão emergente nesses tempos de pandemia que eu quero falar, mas sim que não é só a sua pior versão que está vindo à tona.

Quero te lembrar que todas as pessoas que estão dividindo essa experiência com você estão vivendo a mesma dificuldade. Estão sentindo não só a sua pior versão na vida deles, como também tendo seus momentos de pior versão mostrados para você! Porque em tempos de crise, ansiedade e medo, nosso corpo aciona o modo sobrevivência e nós reagimos com nosso cérebro primitivo ao invés do racional. Acontece que esse cérebro vai aparecendo de forma mais frequente conforme sinta que aquele corpo está em alerta constantemente.

Esse ciclo de primitividade pode ser especialmente difícil para quem está confinado com crianças, visto que, além do lado primitivinho delas vir à tona bem frequentemente por sua imaturidade emocional, também são seres que nos demandam o dia inteiro, precisando de nós enquanto precisamos trabalhar, descansar, tomar um banho ou sentar para relaxar. É como se o seu cérebro primitivo fosse constantemente convidado a dar as caras! E o que essa criança mais precisa é exatamente o oposto: que você consiga respirar fundo, contar até dez, retomar sua melhor versão para que, essa sim, converse com a criança. É tudo o que ela quer de você. E vou te dar uma dica: nesses dez segundos, olhe bem pras mãozinhas dela. Lembre como são pequenas, como é novinha, como quer de você só amor e carinho. Devagar a gente vai percebendo que o estresse de nossas vidas nos atrapalha a ver. Passamos a enxergar com outros olhos, e essa mudança vai com a gente pra sempre.

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