Nessa coluna, Nanda Perim fala de sua experiência como psicóloga e educadora parental, dando seu parecer sobre questões atuais da educação infantil, trazendo dicas, humor e muita novidade boa!

Estar cansado de "quarentenar" com os filhos não é estar cansados deles

Depois de  seis meses com crianças em casa, com uma rotina completamente mudada,  faz todo sentido que você esteja cansado, de saco cheio, no seu limite. Mas lembre-se: sua criança também está no limite dela

Publicado em 17/09/2020 às 10h38
Um ano de cansaço
O cansaço é real, mas podemos, devagar e com todos os cuidados, renovar nossas energias em lugares e com pessoas que nos fazem bem. Quem sabe buscar retomar a ajuda de nossa rede de apoio ou proporcionar às crianças encontros com um ou dois amigos que estavam de quarentena. Crédito: Divulgação

Para você que é pai e mãe e está de quarentena com suas crianças, estou passando para te lembrar que já são seis meses consecutivos sem escola, sem rede de apoio e sem poder sair pra passear. Faz todo sentido que você já esteja cansado, de saco cheio, no seu limite.

Sua criança também está no limite dela, se tem mais de um filho, eles também estão cansados um do outro. O convívio intenso é algo extremamente demandante, e não é de se admirar que estejamos todos extremamente esgotados de tanto tempo enfurnados, mesmo que com pessoas que amamos muito! O amor é incondicional, o saco cheio, não.

Mas essa coluna é muito mais do que só um abraço e um colo para você que já não aguenta mais essa quarentena. Primeiro, eu quero te lembrar da importância dela, e segundo, te lembrar que devagar isso está começando a passar. E, em terceiro, quero reforçar que ainda não passou e que não podemos abusar! E depois, um aviso especial.

Sim, está começando a passar essa fase mais difícil e pesada de quarentena. Lembra que estávamos tentando atrasar o pico da onda? Lembra que quem pôde buscou fazer isolamento social para manter a segurança de sua família e daqueles a sua volta? Pois bem, funcionou e a onda começou a cair agora. Passamos do pico e, devagar, começamos a sentir o ar da esperança de ter nossos dias de volta. Quer dizer, novos dias, porque não sabemos como será. O ‘novo normal’, como dizem, com muito aprendizado - espero - e também com esperança e mais empatia.

Segundo dados de A Gazeta, em nosso Estado temos agora taxa de transmissão 0.48, o que significa que precisam de dois infectados para transmitir para uma pessoa. Ou seja, se estamos de máscaras e tomando cuidado, usando álcool em gel, devagar vai ficando cada vez menor o risco de entrar em contato com o vírus. No entanto, precisamos lembrar que esses números estão baixos, mas que ainda podem aumentar novamente se não tomarmos cuidado. Como mencionei em coluna anterior, acredito que seja importante que as crianças ainda não voltem para as escolas, e também que se mantenham ao máximo todos os cuidados.

Na Inglaterra, o primeiro-ministro Boris Johnson fez uma declaração, reforçando que as pessoas se encontrem em pequenos grupos, que evitem aglomerações para evitar a necessidade de um segundo lockdown ou o risco de uma segunda onda. Precisamos estar atentos a isso e não relaxar demais com a melhoria das taxas.

Então como alinhar todas essas coisas? Eu sugiro, devagar, começar a encontrar apenas aquelas pessoas que você sabe que estiveram também em quarentena como você. Não participar de aglomerações e, quando for preciso, ir a lugares muito cheios, como mercados, tomando todos os cuidados e evitando ao máximo ficar muito tempo neles.

Segundo uma pesquisa apresentada por Átila Iamarino, doutor em virologia, os riscos maiores estão em ambientes fechados, por longos períodos e com pessoas sem máscaras. Quanto mais aberto o ambiente, com uso de máscara e quanto menor a duração do passeio, mais seguro é. Podemos, então, com isso em mente, buscar devagar renovar nossas energias em lugares e com pessoas que nos fazem bem, quem sabe buscar retomar ajuda de nossa rede de apoio ou voltar a ter pequenos encontros com uma ou duas crianças que estavam de quarentena. E, devagar, começar a ajudar essa ‘saturação’ toda que estamos vivendo a ‘desaturar’. Buscar situações e lugares que nos fazem bem da forma mais segura possível para que possamos cuidar de nossa saúde emocional e a de nossos filhos, sem abrir mão da segurança.

Convívio intenso, diário e por meses não é da nossa natureza. Somos seres que gostamos de ar livre, sol, água salgada. Somos mamíferos que precisam de atividade física, de encontros sociais, de tempo para si mesmos e sua individualidade. Faz todo sentido estarmos cansados disso. Mas quero finalizar com um aviso bem especial: as crianças estão pagando o pato! Sim, como denunciei na minha coluna do Setembro Amarelo, precisamos urgentemente cuidar de nós para não sobrar para nossos pequenos lidar com a parte de nós que não sabemos lidar. 

Você está estressado, cansado, bravo, receba meu abraço. Mas sua criança não precisar pagar por isso, ela não deve, não é justo. Ela nem tem maturidade pra isso. Aproveite esse momento para aprender a olhar para suas emoções, acolher suas dores, cuidar de seus desafios e aprender a lidar com suas emoções. Aprenda a fazer reparações por seus erros, a pedir desculpas, a exercer o  autocontrole em família. E não exigir da criança uma maturidade emocional que nem você tem. Não descontar suas faltas nela. E, por fim, desenvolver sua responsabilidade emocional. Se você perde a cabeça quando tem raiva, grita, bate e explode, a responsabilidade é sua e de mais ninguém. Analise seus gatilhos, conheça suas feridas, acolha suas dores e comece sua jornada de cura. Para conteúdos sobre isso, acesse minhas redes sociais, você vai encontrar muita coisa legal! (@psimamaa)

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