Mariana Reis é mestranda em Sociologia Política, Administradora , TEDex, Colunista e Personal Trainer

No pódio, a luta pelos nossos espaços

O que poderia ter sido um fracasso, se tornou uma potência na vontade de seguir e competir: o Brasil chega a trinta medalhas nos Jogos Paralímpicos de Tóquio

Publicado em 31/08/2021 às 02h00
atrícia, Daniel, Joana e Talisson no pódio do 4x100m livre
Aos atletas, deixo a minha admiração e gratidão por manter a chama da esperança acesa (principalmente) durante o período dos jogos, para encarar a jornada. Crédito: Alê Cabral/CPB

A pandemia levou muitas vidas embora, fragilizou o planejamento dos treinos e comprometeu a saúde da comunidade esportiva. Quase impossível imaginar uma paralimpíada acontecendo em meio a esse caos. O distanciamento impediu muitas trocas. Mas, o que poderia ter sido um fracasso, se tornou uma potência na vontade de seguir e competir: o Brasil chega a trinta medalhas nos Jogos Paralímpicos de Tóquio. Com dez ouros até o último domingo, o país retoma a sexta posição no quinto dia de competição. Esses resultados amenizam a densa poeira do retrocesso que o governo brasileiro inventa para as pessoas com deficiência. Alguém duvida que venha mais medalhas por aí?

Ser paratleta é superar dores, limites e recordes. Mas as maiores barreiras a serem vencidas são as comportamentais encontradas na sociedade. Driblar olhares de preconceitos, falta de acesso e estigmas é bem mais duro que nadar cem metros e bater recordes. Vamos relembrar como tudo começou? Voltamos para 1960, em Roma, Itália. Os jogos paralímpicos contaram com a participação de quatrocentos atletas, que representavam vinte e três países. Nessa época, as provas eram exclusivas para cadeirantes. Foi só a partir de 1976 que as pessoas com deficiência visual, intelectual, e pessoas com lesão medular puderam participar.

Nos tempos de hoje, é muito gratificante poder assistir a mais de cem horas de transmissão pela TV dos jogos paralímpicos. Os tempos sombrios vão dando espaço à luz que nós todos merecemos. Enquanto o ministro da Educação diz que a criança com deficiência atrapalha, a luta política e a ressignificação da vida vencem e vão ao pódio. Aqui usamos de todas as maneiras nossa capacidade de resistir e criar novos caminhos: usamos mãos, pernas, queixo, cotovelos, peito, os cinco sentidos e cabeça. Ah, e o coração, lugar que não mede esforços para as coisas acontecerem. A ele deixamos a tarefa de combater a discriminação e construir os afetos.

Aos atletas capixabas e brasileiros, deixo a minha admiração e gratidão por manter a chama da esperança acesa (principalmente) durante o período dos jogos, para encarar a jornada. Que a estreita abertura que o Brasil nos dá nos dias de hoje para passarmos com as nossas reivindicações, seja escancarada pela coragem, resiliência e felicidade que estamos presenciando em Tóquio.

Aqui não há espaço para afetos frouxos. O nosso treinamento é árduo e diário para transformar olhares tortos em mudanças. As Paralimpíadas nos dão prova de que esperança é força e que a vida é palco de um espetáculo fugaz e experiências eternas.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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