Mariana Reis é administradora de empresas e educadora física. É pós-graduada em Gestão Estratégica com Pessoas e em Prescrição do Exercício Físico para Saúde. Atua como consultora em acessibilidade e gestora na construção e efetivação das políticas públicas para a pessoa com deficiência em Vitória

No fio da esperança

Iniciamos a semana com a aprovação da vacina e isso é uma das maiores vitórias desde que mergulhamos nessa tempestade

Publicado em 19/01/2021 às 02h00
Em São Paulo
Um bálsamo no coração é derramado quando assistimos a Mônica Aparecida Calazans ser a primeira mulher negra, da linha de frente, ser vacinada no Brasil. Crédito: Reprodução | Arquivo pessoal

Foram dias desafiadores e isso não significa que não tenham sido bons. Aliás, durante esses dias de ano novo e aniversários – comemoro dois no mesmo dia – produzi textos. Escrever me ajuda a encontrar um sentido, a despertar.

Iniciamos a semana com a aprovação da vacina e isso é uma das maiores vitórias desde que mergulhamos nessa tempestade. Um embolado de sentimentos no peito, uma sensação de que tudo pode melhorar, um suspiro na esperança e que apesar da escuridão percebemos que há luz.

Não tem sido fácil viver na prática esses momentos de dor e sofrimento, isolamento, obscurantismo em que se depara a nossa ciência e o negacionismo da doença real e presente entre nós. Eis que um bálsamo no coração é derramado quando assistimos a Mônica Aparecida Calazans ser a primeira mulher negra, da linha de frente, ser vacinada no Brasil. Acho que assim conseguimos enxergar a beleza em tantos raios e trovões dessa tempestade. Uma heroína de verdade.

Confiar é um desafio diário

A aprovação da vacina chega junto a marca que jamais gostaríamos que fosse real: a de 236 pessoas com deficiência que morreram só aqui no estado, contaminadas pela covid-19. É cruel e é difícil encarar que nem no grupo prioritário fomos incluídos. A invisibilidade e a falta de gestão ainda fazem sangrar as feridas causadas pela necropolítica também a esse grupo de pessoas.

Só quem se perde no deserto sabe o valor de uma gota de água. Só quem tem o vento sabe o valor de inspirar e expirar. A asfixia desgovernada na qual estamos submersos está nos impedindo de desenvolver nossa capacidade de confiar na vida. Parece que isso é coisa para gente grande pois manter a calma quando tudo está de pernas pro ar só sendo muito grande mesmo de espírito e grau alto de evolução. Nos falta o ar.

Mariana Reis

Educadora física

" A asfixia desgovernada na qual estamos submersos está nos impedindo de desenvolver nossa capacidade de confiar na vida"

Vencer o medo tem sido uma prática diária nos mergulhos que faço para dentro de mim mesma desde que começou tudo isso. E é aqui dentro que encontro um um lugar de paz, onde me sinto segura. Um lugar que é capaz de me tirar deste cenário infernal, de notícias ruins, de perdas repentinas, mentiras e caos na saúde. Refletir sobre o momento atual me faz entender que nada nos ensina mais do que quando estamos dentro de um cenário trevoso e histórico. É quando crescemos e aprendemos.

Despertar é acordar com luz

Gosto da palavra despertar e tenho muita gratidão pelos desafios nela contidos. Despertar e estar vivo e chegar até aqui sem se contaminar por vírus nenhum considero uma benção. Com tudo isso que continua acontecendo tento exercitar a aceitação de peito aberto, ampliei o foco da vida e tenho vivido na mais plena presença. Já entendendo uma das grandes lições do “novo mundo”: o agora.

Que com as boas novas da semana possamos nos transbordar de esperança, de compaixão, ter mais sensibilidade com os detalhes. É isso que nos traz vida. Há de se ter silêncio para entender o tumulto e aguardar o que o mundo sabe fazer de melhor: dar voltas e se renovar. Façamos a nossa parte também.

Que arte do abraço, aquela sem palavras e cheia de afeto possa tão breve chegar. Que haja vida e que venha oxigenada para nos revigorar. Que haja fé. Um povo que respira com liberdade e que acredita, é um povo mais saudável e forte. Viva a ciência, viva a vida.

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