Mariana Reis é administradora de empresas e educadora física. É pós-graduada em Gestão Estratégica com Pessoas e em Prescrição do Exercício Físico para Saúde. Atua como consultora em acessibilidade e gestora na construção e efetivação das políticas públicas para a pessoa com deficiência em Vitória

Meu desejo para nós: deixar 2021 fluir

Fomos obrigados a mergulhar dentro de nossas casas, nadar de braçadas nos cômodos internos da nossa alma para frear uma rotina insana e automática. A chegada desse ano novo nos faz repensar nossas vidas sem fogos de artifícios

Publicado em 29/12/2020 às 05h00
casal maduro viajando, liberdade
Desejo que o fulgor dos nossos corações unidos intensifique a manifestação de um ano novo repleto de vitórias, liberdade, acessibilidade, resistência, cura e respeito. Crédito: shutterstock

Chega pra cá, 2021. Novos tempos, novas expectativas. É hora de encerrar mais um ciclo nesta semana, de encher os olhos de lágrimas e, com o coração embaralhado de sentimentos, entregar esse ano tão desafiador e cheio de mudanças – no mundo e em nós.

Das lições do isolamento e das dores da separação, aprendi que é preciso coragem para comemorar as conquistas que sempre desejei, sem que pessoas importantes estivessem mais aqui. Que é preciso força para seguir e muita disposição para praticar a vida após o luto. No meu caso, lutos.

Não foram poucas as pessoas que enterramos em 2020. Famílias, amigos e personalidades como Moraes Moreira, Aldir Blanc, Nicette Bruno, Rubem Fonseca e as mais de 190 mil pessoas que foram para outro plano, nos deixando a certeza da impermanência, nos exigindo coragem para fazermos dessa dor uma possibilidade de aprendizado e reconstrução. Aprendi também que não há outro caminho para encarar o sofrimento do que ajudar o próximo e compartilhar das experiências.

Passamos por um ano intenso em todos os sentidos. Do econômico ao social. Do abraço ausente à lavagem de mãos por quase um minuto. Fomos obrigados a mergulhar dentro de nossas casas, nadar de braçadas nos cômodos internos da nossa alma para frear uma rotina insana e automática. A chegada desse ano novo nos faz repensar nossas vidas sem fogos de artifícios. E a pandemia nos obriga a refletir sobre nós mesmos e o nosso papel neste mundo e, principalmente, das pessoas que realmente nos importam.

O ano de 2020 me fez entender a liberdade que tinha quando acordava cedinho para ir ver o sol nascer e depois parar na padaria e tomar um café com leite no copo americano e pão na chapa. Uma liberdade tão preciosa e tão desejada. Quisera eu poder fazer novamente das minhas manhãs uma saída por aí. O ano de 2020 me fez enxergar fundações vigorosas que sustentam situações em mim que jamais imaginaria conseguir. Camuflar sentimentos e adiar soluções não foram opções nestes tempos tristes.

Dos presentes e conquistas fiz meu estímulo. Das verdades escancaradas, meu motor de arranque. E o medo do que estava por vir me fez arregaçar as mangas e romper com padrões de comportamento inúteis. Ano da reviravolta pessoal e coletiva. Um ano que pode parecer perdido mas não foi. Tudo está em ebulição nos exigindo ações inovadoras, tolerância e investimentos em nós mesmos.

Nessa tempestade que todos estamos, cada um tem a sua forma de atravessar e deixar fluir a renovação que o ano novo trará. Fernando Pessoa em seu poema Ano Novo diz:

Ficção de que começa alguma coisa!

Nada começa: tudo continua.

Na fluida e incerta essência misteriosa

Da vida, flui em sombra a água nua.

Curvas do rio escondem só o movimento.

O mesmo rio flui onde se vê.

Começar só começa em pensamento.

Fluir é passar pelas curvas do rio. Fluir é movimento. É assim que eu vou receber 2021, desbravando o meu mundo de dentro para fora com uma maior consciência da irregularidade, com alma desarmada, por caminhos escuros sem esperar sucessos ou fracassos, certa de que a vida é imprevisível e que tudo flui na misteriosa essência dela.

Dois mil e vinte um chegou e vai exigir espaço para as mudanças necessárias. Sejamos corajosos para dizer à vida que de fato queremos ser felizes; que queremos viver cada dia, cada hora e cada minuto em sua plenitude, como se fosse o último. Aliás, uma das grandes lições aprendidas no ano que passou: não cometermos os mesmos erros que nos impediram de evoluir sob as várias direções. A felicidade, por exemplo.

Agradeço a todos que estiveram aqui juntos comigo, na coluna Livre Acesso, acompanhando o conteúdo desse espaço, compartilhando dessa caminhada e aprendizados. Desejo que o fulgor dos nossos corações unidos intensifique a manifestação de um ano novo repleto de vitórias, liberdade, acessibilidade, resistência, cura e respeito.

Feliz e fuido 2021!

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