Mariana Reis é mestranda em Sociologia Política, Administradora , TEDex, Colunista e Personal Trainer

Mãe é coletivo de força

Este movimento, que acompanho estarrecida pela inércia do poder público, acontece em frente à Prefeitura da Serra, onde as mães estão acampadas há trinta dias. Sem diálogo e sem nenhum gestor que negocie poderes e decisões

Publicado em 07/09/2021 às 02h00
Mulher protestando
Graças a este movimento, que resiste à chuva, sol, fome, frio, vento e calor; que podemos dar um suspiro em nossa capacidade de pensar onde está nosso poder. Crédito: Freepik

A escritora Carolina de Jesus já registrou em seu famoso livro Quarto de Despejo (1960): "quando um político diz nos seus discursos que está ao lado do povo, que visa incluir-se na política para melhorar as nossas condições de vida pedindo o nosso voto prometendo congelar os preços, já está ciente que abordando este grave problema ele vence nas urnas. Depois se divorcia do povo. Olha o povo com os olhos semicerrados. Com um orgulho que fere a nossa sensibilidade".

É assim que o coletivo de Mães e Pais de estudantes com deficiência se encontra no momento: divorciado do poder público para debater sobre o abandono de seus filhos com deficiência nas escolas. Trouxe a escritora Carolina de Jesus para o texto de hoje, pois ela nos revigora a esperança de pensar sobre a força dos movimentos sociais. Quem acha que eles estão inoperantes, se engana. Graças a este movimento, que resiste à chuva, sol, fome, frio, vento e calor; que podemos dar um suspiro em nossa capacidade de pensar onde está nosso poder, nossa atitude de agir/fazer para além das urnas em tempos eleitorais, da nossa participação da vida política e dos aprendizados que a escola produz.

Este movimento, que acompanho estarrecida pela inércia do poder público, acontece em frente à Prefeitura da Serra, onde as mães estão acampadas há trinta dias. Sem diálogo e sem nenhum gestor que negocie poderes e decisões.

Abandonadas tal como todo sistema educacional brasileiro, essas mães representam a nossa força pela luta por direitos e pela produção efetiva da cidadania. As Mães Eficientes resgatam a cultura de uma nação. Essa que parece ser “invisível”, mas que conta com mais de quarenta e seis milhões de brasileiros com alguma deficiência.

A pauta do coletivo de mães e pais é pela falta de professores, estagiários e cuidadores na educação inclusiva. E o descaso pela volta às aulas não obrigatória para as pessoas com deficiência. Portanto, uma pauta concreta e de reivindicações legítimas, baseadas nos seres humanos e não na necessidade de mercado.

Num dia especial como hoje, em que comemoramos a conquista de um Brasil democrático, e a partir deste espaço da coluna, peço que o compromisso ético exercido em resistência por essas mães, e pelo protagonismo reforçado ao longo desses trinta dias, possam reverberar nos gabinetes da Prefeitura da Serra e que retornem em vontade política, para aniquilar exclusões e injustiças, ampliando as possibilidades de mudar o rumo das questões, sob um novo olhar para pensá-las e interpretá-las.

Lembremos da Convenção Internacional sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, na qual o Brasil é signatário. É preciso que sejam respeitados os direitos de cidadania, dando forma aos direitos humanos. Pois é sobre isso que estamos falando.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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