É artista e escritora, e como observadora do cotidiano, usa toda sua essência criativa na busca de entender a si mesma e o outro. É usuária das medicinas da palavra, da música, das cores e da dança

Crônica: Mulheres da minha vida

Se fêmeas já são essencialmente corajosas, intuitivas, instintivas e devotas à família, então elas se tornam insuperáveis quando unidas. É como no velho dito: por traz de uma mulher forte, há sempre outra mulher mais forte ainda

Publicado em 28/11/2021 às 02h00
Mulheres unidas
Convenhamos: não estamos sozinhas – nem mesmo quando estamos. Crédito: Freepik

Enquanto escrevo a coluna, crianças correm e gritam (por que gritam tanto?) pela casa afora. Os corredores são grandes circuitos, um gran prix doméstico da diversão sem fim. Hoje não tem escola, é feriado. E assim sendo, com filhos pequenos, como se sabe – ou se ainda não sabe, fique sabendo – ninguém fica parado. Começou cedo, tipo gincana mesmo: acorda, faz leite com Nescau, misto quente (“Ah, mãe! Queria só queijo!) – tira o presunto do meio, faz café, espreme laranja – acordou o bebê! – dá colo, prepara mamadeira, “meu amor, o café tá pronto?”

E assim o dia vai passando (digo, atropelando) e a gente não consegue nem fazer xixi.

Mas não tem novidade: mulheres sofrem a singela pressão de ser tudo para todos.

É, as demandas não têm fim. Mas, convenhamos: não estamos sozinhas – nem mesmo quando estamos.

Tem na geladeira aquele empadão que dona Benedita deixou; as roupas estão passadas e nas gavetas porque dona Geralda arrumou; o trabalho está andando porque Amandla me ajudou; o projeto saiu do papel porque Carminha executou; o bebê está seguro (e agora eu posso escrever) porque dona Neuza chegou – e se hoje eu escrevo é porque Mariana me incentivou; meu filho mais velho foi brincar com o amigo porque Fernanda convidou; e se eu dou conta de me virar em mil, foi porque minha mãe me ensinou.

(Ufa!)

Se fêmeas já são essencialmente corajosas, intuitivas, instintivas e devotas à família, então elas se tornam insuperáveis quando unidas. É como no velho dito: por traz de uma mulher forte, há sempre outra mulher mais forte ainda.

Mães, filhas, avós, netas, irmãs, amigas, ajudantes, vizinhas, noras, sogras, comadres, companheiras, parceiras, aliadas – mulheres indispensáveis em nossas vidas. E não é só isso: quanto mais conectadas com as verdadeiras forças primitivas da essência feminina (falo da força vital, da robustez e da lealdade) mais potentes nos tornamos ainda. (“Girl power”, sororidade, irmandade, amizade, família).

Inato: mulheres têm o dom da cura. Trazemos as rezas, as canções, os temperos, as vidências, as histórias e os segredos. Somos vísceras dilatadas e o cheiro de café de manhã cedo. Somos a mão que espalma e o abraço que recolhe. Somos colo, pernas, braços e mãos. Somos garras, cabelos, olfato apurado e olhos por todos os lados. Somos a dança em volta da fogueira, o balanço do aconchego, a voz que acalenta na madrugada e a mão que mexe o caldeirão.

Quem tem uma mulher de verdade como aliada, tem o caminho e a chegada. Aliás se existe uma coisa literalmente imprescindível em nossas vidas é a presença de uma alma feminina. Minhas mulheres, minhas meninas e minha mãe: base de tudo, incubadora do meu mundo, amor fundante e desmesuradamente profundo.

Fêmeas... Que cultivemos entre nós a primitivíssima sabedoria. Que não sejamos rasas, nem mesquinhas, nem mornas, nem egoístas. Que estejamos juntas nas frustrações e, sobretudo, nas vitórias. Que saibamos sempre nos enfeitar (primeiro por dentro) com brilho de mar azul e cheiro de rosas. E que sigamos unidas, chorando ou sorrindo, mas sem nunca deixar de honrar a beleza de podermos ser tu-do uma para a outra, quando preciso.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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