Biólogo, mestre em Gestão Ambiental, comentarista de Meio Ambiente e Sustentabilidade da rádio CBN Vitória

COP 30 vai ser a COP da verdade

Às vésperas da conferência em Belém (PA), o Brasil precisa decidir se será protagonista da economia verde ou refém do petróleo

Vitória
Publicado em 27/10/2025 às 04h00

A COP 30, que vai ser realizada em Belém, no Pará, em 2025, não será apenas mais uma conferência climática. Ela carrega um peso histórico: será a COP da verdade. Verdade no discurso, verdade nas metas e, sobretudo, verdade nas ações. O planeta não tem mais tempo a perder ou enfrentamos a crise climática com coragem e coerência, ou seremos lembrados como a geração que preferiu discursos a decisões.

Desde o Acordo de Paris, os países se comprometeram a conter o aquecimento global abaixo de 2 °C, tentando limitar esse aumento a 1,5 °C. No entanto, os relatórios do IPCC mostram que estamos perigosamente próximos de ultrapassar essa barreira já nas próximas duas décadas. Nesse cenário, os países desenvolvidos responsáveis históricos pela maior parte das emissões precisam ser cobrados com firmeza. Eles enriqueceram queimando carvão, petróleo e gás por mais de um século, e agora têm a obrigação moral e financeira de liderar a transição para uma economia de baixo carbono, apoiando os países em desenvolvimento com tecnologia e recursos.

Matéria de turismo na Amazônia feita por Elis Carvalho
Amazônia. Crédito: Elis Carvalho

Mas, enquanto apontamos o dedo, precisamos olhar para o próprio espelho. E é aqui que surge o grande paradoxo brasileiro: como exigir coerência global se, dentro de casa, autorizamos a exploração de petróleo na foz do Amazonas, uma das áreas mais sensíveis e estratégicas do planeta? A recente licença concedida pelo Ibama à exploração na costa amazônica levanta uma questão incômoda: que exemplo estamos dando ao mundo?

O discurso do desenvolvimento econômico, geração de empregos e arrecadação pode soar convincente, mas é também profundamente retrógrado. O mundo caminha a passos largos para a descarbonização, investindo cada vez mais em energias renováveis como a eólica, a solar e o hidrogênio verde. Especialistas apontam que, em 10 a 15 anos, o preço do petróleo deve cair e sua relevância econômica diminuirá drasticamente. Continuar apostando nesse modelo fóssil em plena transição energética global é como insistir em vender máquinas de escrever em plena era digital.

O Brasil tem tudo para liderar o novo paradigma econômico do século XXI: possui a maior biodiversidade do planeta, uma matriz energética já majoritariamente renovável e potencial extraordinário para se tornar uma potência verde. Mas isso exige coragem política, visão estratégica e coerência, valores que não se conciliam com a expansão da fronteira petrolífera em plena Amazônia.

A COP 30 precisa ser o marco de uma virada. Não basta cobrar dos países ricos; é hora de provar, com atitudes concretas, que estamos comprometidos com a sobrevivência do planeta e com o futuro das próximas gerações. O mundo estará olhando para Belém, e a pergunta será inevitável: queremos ser protagonistas de uma nova era sustentável ou continuar reféns de um modelo ultrapassado?

A verdade é que não há mais espaço para contradições. Ou somos parte da solução, ou permaneceremos parte do problema. E o tempo para decidir é agora. Diante das contradições do Brasil na agenda climática, qual caminho você acredita que o país deve seguir?

Apostar fortemente nas energias renováveis e abandonar gradualmente o petróleo; Buscar um modelo híbrido, explorando petróleo por tempo limitado enquanto investe em energia limpa; Priorizar a exploração petrolífera, aproveitando seu potencial econômico enquanto houver mercado.

Sugestões de leitura sobre transição energética e futuro climático: “Terra em Jogo” – Christiana Figueres e Tom Rivett-Carnac Escrito por dois dos principais arquitetos do Acordo de Paris, o livro mostra os bastidores das negociações climáticas e propõe caminhos práticos para evitar o colapso climático. “Como Evitar um Desastre Climático” – Bill Gates Uma visão direta e acessível sobre como podemos chegar a zero emissões líquidas, abordando tecnologias, políticas públicas e escolhas individuais que farão a diferença. “O Futuro que Escolhemos” – Christiana Figueres e Tom Rivett-Carnac Um guia poderoso e inspirador sobre as decisões que a humanidade precisa tomar nesta década crucial para garantir um planeta habitável.

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