Este é um espaço para falar de Política: notícias, opiniões, bastidores, principalmente do que ocorre no Espírito Santo. A colunista ingressou na Rede Gazeta em 2006, atuou na Rádio CBN Vitória/Gazeta Online e migrou para a editoria de Política de A Gazeta em 2012, em que trabalhou como repórter e editora-adjunta

Por que um candidato ou político apoia alguém que põe em risco o sistema eleitoral?

A urna que elege o presidente da República é a mesma que os delega as funções que almejam, a relevância e o poder que detêm

Vitória
Publicado em 12/08/2022 às 11h25
Bolsonaro no ES
Marcha para Jesus, em Vitória,  no último dia 23, virou ato político pró-Bolsonaro, com presença de candidatos e políticos eleitos que apoiam o presidente da República. Crédito: Carlos Alberto Silva

Na coluna anterior, ressaltei que o esforço pró-democracia e contra a autocracia que o presidente Jair Bolsonaro (PL) impõe a cada dia ao Brasil precisa ir além da esquerda, com a participação de setores como a centro-direita e a socialdemocracia, além daqueles cuja principal ideologia é o dinheiro.

Agora, quero falar dos apoiadores do presidente, não aqueles extremistas ou os tios e tias do WhatsApp, trato aqui dos que sempre pendem na balança, conscientemente, para quem está no poder, como os integrantes do Centrão.

Por que um prefeito, um candidato a governador, um deputado ou um senador apoiariam alguém que diz que o resultado das eleições pode não ser legítimo?

A urna que elege o presidente da República é a mesma que os delega as funções que almejam, a relevância e o poder que detêm.

Em um cenário em que a lógica eleitoral seja subvertida, tudo isso se esvai. 

É um tiro no pé, portanto.

O que esperam aqueles que festejam ou mesmo minimizam os riscos à democracia? Alguns surfam na popularidade do chefe do Executivo federal em alguns nichos, esperando conquistar votos. Outros, certamente, refestelam-se em emendas do orçamento secreto e outras benesses, enquanto o presidente está fraco.

Mas à medida que ganhe força a sanha antidemocrática, por quanto tempo isso vai durar? Em nenhum arremedo de ditadura o Congresso Nacional tem as prerrogativas mantidas.

O Judiciário, tampouco. Isso sem falar no Ministério Público. Ainda assim, nessas instituições, não por parte de todos os seus integrantes, obviamente, resiste um germe antidemocrático. 

As pessoas "comuns" saudosistas do passado – quando o regime ditatorial era mais que um arremedo – não raciocinam que, para avaliar se algo foi ou é bom é preciso ter informações confiáveis a respeito. Isso não havia com uma imprensa censurada. 

E tampouco vai haver com os sistemáticos ataques à liberdade de imprensa e a massificação da desinformação espalhada via redes sociais e, principalmente, em aplicativos de mensagens. Tudo coordenadamente maquinado.

Não estou dizendo que esse estado de coisas vai perdurar ou certamente se intensificar. Não tenho bola de cristal.

Apenas reforço que os que minimizam esse risco e alguns que esperam se beneficiar caso a derrocada da democracia se concretize no país podem estar otimistas demais.

Os alertas:

 - O presidente da República, Jair Bolsonaro, temendo ser derrotado no pleito de outubro, lança dúvidas infundadas sobre o mesmo sistema que o elegeu tantas vezes

- Integrantes das Forças Armadas, bem distantes de suas funções constitucionais, embarcam na tese e tentam influenciar o processo eleitoral

- Boa parte da classe política, também eleita pelas urnas eletrônicas, minimiza esse risco ou avalia que vai se beneficiar de um governo autocrata

- Parte da elite econômica segue pela mesma vertente

- O Ministério Público, fiscal da lei, jaz em silêncio, ao menos no que toca à Procuradoria-Geral da República, chefiada por um aliado do presidente da República

- Braços armados numericamente superiores ao Exército. à Marinha e à Aeronáutica, como as polícias militares, foram em grande parte cooptados pelo bolsonarismo. Isso sem falar nos CACs, civis armados que idolatram o presidente  da República em troca de conseguir mais ... armas

- Como já ocorreu em outros países, exemplificado no livro "Como as democracias morrem", exaustivamente citado ultimamente, a queda de regimes democráticos já não ocorre com tanques nas ruas e sim por meio daqueles que os corroem por dentro, como os próprios líderes eleitos democraticamente

- Mesmo que as eleições transcorram, com solavancos, mas mantendo a solidez, a naturalização do absurdo já está entranhada na sociedade, o que alimenta a corrosão interna da democracia

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