Após pedir a convocação até de foragidos da Justiça, o senador Marcos do Val (Podemos) quer levar o rapper Oruam à CPI do Crime Organizado.
No requerimento destinado ao presidente da CPI, Fabiano Contarato (PT), Do Val justificou que "torna-se imprescindível que esta CPI investigue também os mecanismos de influência cultural, social e comunicacional utilizados por facções para ampliar seu alcance e legitimidade, especialmente entre jovens em situação de vulnerabilidade social".
Mauro Davi dos Santos Nepomuceno — nome oficial do rapper — está preso preventivamente em Bangu 3, no Rio de Janeiro. Foi indiciado pela Polícia Civil por associação ao tráfico de drogas, resistência qualificada, dano ao patrimônio público e desacato.
Oruam está longe de ser um dos maiores criminosos do país, apesar de ter sido classificado como de “alta periculosidade” no sistema prisional.
A notoriedade que recebeu, na verdade, vem do fato de ser cantor e compositor e, sobretudo, filho de Márcio dos Santos Nepomuceno, conhecido como Marcinho VP. Este é apontado como uma das principais lideranças do Comando Vermelho.
Do Val, de acordo com o requerimento, quer colocar a "indústria musical" no alvo.
Para ele, Oruam "encontra-se no centro do debate público nacional sobre a infiltração de facções criminosas na cultura e na indústria musical, tema essencial para que esta CPI compreenda o aparato de expansão social das organizações criminosas".
O depoimento do rapper serviria para esclarecer fatos, confrontar dados, compreender a "relação entre cultura e facções" e identificar "eventuais mecanismos de financiamento".
O senador registrou, ainda no requerimento, que a convocação não tem caráter acusatório:
Marcos do Val (Podemos)
Senador
"A convocação não possui caráter acusatório ou persecutório, mas sim estritamente investigativo"
O rapper virou título de leis, as "Anti-Oruam", em diversos municípios e estados, para proibir a contratação com dinheiro público de artistas e shows que façam apologia ao crime, ao uso de drogas ou à violência.
Uma linha tênue para chegar à censura. Afinal, quem vai considerar o que é apologia e o que é liberdade de expressão?
É curioso, aliás, que essas iniciativas legislativas partam, justamente, dos que pregam a liberdade de manifestação irrestrita, mas apenas para si mesmos. Para os outros, a lei.
O requerimento de Do Val ainda tem que passar pelo crivo dos demais membros da CPI do Crime Organizado e pode ser aprovado ou rejeitado. Então, ainda não está certo se Oruam vai mesmo prestar depoimento ao colegiado.
Os demais requerimentos do senador do Podemos, que envolvem foragidos, ainda não foram analisados pelo grupo, o que provavelmente vai ocorrer na semana que vem.
Em tempo:
Confesso que, até o surgimento das leis Anti-Oruam, eu nem tinha ouvido falar no rapper carioca.
Pesquisando, descobri que uma de suas músicas mais famosas é "Oh Garota Eu Quero Você Só Pra Mim", com participação de Zé Felipe, a quem interessar possa.
Trata de temas comuns a outros funks. O refrão cita a "tropa do Oruam", é fácil de memorizar, de forma que agora estou cantarolando isso mentalmente.
Um trecho da letra da canção é quase um crossover com a CPI das Bets: "Bota a bunda com o dinheiro do Tigrin".
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