Pré-candidato à Presidência da República, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), abraçou de vez a pauta da segurança pública, a exemplo de outros opositores do presidente Lula (PT).
O mineiro concedeu entrevista exclusiva à coluna neste sábado (8), em Vitória. Na esteira da operação policial que deixou 121 mortos no Rio de Janeiro, Zema definiu a ação como "impecável".
E foi além. Para ele, o modelo de segurança pública adotado em El Salvador é "um exemplo para o Brasil".
"É só você ir lá e conversar com as pessoas na rua, nas comunidades, que foi o que eu fiz (...) Não escutei ninguém falando que a vida piorou", afirmou o governador, que visitou o país da América Central em maio.
Em um ato falho, o governador de Minas chegou a se dizer "totalmente contrário aos direitos humanos". Mas se corrigiu: "Favorável aos direitos humanos, totalmente favorável".
Boa parte da população salvadorenha, diante de altíssimos índices de criminalidade, aceitou abrir mão de liberdades individuais e direitos básicos, como a presunção de inocência, o sigilo das comunicações e até a liberdade de reunião e associação (reuniões podem ser proibidas).
A taxa de homicídios foi reduzida drasticamente, mas El Salvador vive, desde 2022, sob um regime de exceção imposto pelo presidente Nayib Bukele. Há denúncias de execuções extrajudiciais e prisões de inocentes baseadas em denúncias anônimas ou disputas pessoais.
Na entrevista à coluna, Zema também falou sobre o fato de haver diversos pré-candidatos de direita à Presidência da República e negou que tenha convidado Rodrigo Pimentel, ex-integrante do Bope e capitão da reserva da PM do Rio, para ser vice ou compor eventual ministério.
Pimentel é um dos autores do livro Elite da Tropa, que deu origem ao filme Tropa de Elite.
Zema, em Vitória desde sexta-feira (7), quando palestrou no Fórum Liberdade e Democracia, do Instituto Líderes do Amanhã, participou neste sábado de um evento do Novo, em que foi lançado como pré-candidato a presidente, ato similar ao que já foi realizado em São Paulo.
O vereador de Vitória Leonardo Monjardim foi lançado pré-candidato a senador.
Confira a entrevista com Romeu Zema:
A sua pré-candidatura à Presidência da República já foi lançada em São Paulo e, agora, aqui em Vitória. Vai ter isso em outros estados também?
Teremos. Eu vou ter um lançamento daqui a uma semana na minha cidade natal, Araxá, até por uma questão de prestigiar Minas Gerais, a minha região. E vou estar participando de diversos outros lançamentos em outros estados, juntamente com o lançamento dos pré-candidatos a governador.
Vou estar no Maranhão, vou estar no Ceará e vamos ter eventos mesmo aonde não teremos candidatos a governador. Vou estar lá para estar prestigiando o senador que nós vamos lançar, os deputados federais. Então vamos ter uma série de eventos em todo o Brasil.
Há outros pré-candidatos a presidente que são de direita e governadores, como o senhor. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, é um deles e afirmou na quinta-feira (7), em Vitória, que é melhor haver diversos pré-candidatos de oposição mesmo. O senhor concorda?
Plenamente. Quanto mais candidatos a direita tiver, mais votos ela vai trazer. Com certeza no estado dele (Caiado) ninguém seria tão bem votado quanto ele; em Minas Gerais, eu; Ratinho Jr. no Paraná.
Isso traz mais votos no primeiro turno e também mais chances de transferi-los no segundo turno para o candidato que passar para o segundo turno. Então, faz todo sentido. A direita se fortalece com mais candidatos, não se enfraquece.
Por que o senhor, especificamente, quer ser presidente da República?
Primeiro que eu estou na minha segunda gestão, já não posso prolongar o meu mandato, e acho que encerrou um ciclo em Minas Gerais.
Outro ponto extremamente importante é que nós assumimos um estado arruinado pelo PT, que foi a gestão do Fernando Pimentel. Mostramos que é possível reparar os estragos que o PT faz e é o que está acontecendo no Brasil nesse momento.
O próximo presidente, independentemente de quem vier a ser eleito, vai ter muitas dificuldades, principalmente no que diz respeito às contas públicas. Esse atual governo não tem feito nenhum esforço no sentido de controlá-las, deixando a dívida numa direção de total descontrole.
Então, o próximo presidente terá de ser um presidente que faça ajustes. E é o que nós já mostramos que é possível fazer em Minas Gerais.
O senhor esteve com Rodrigo Pimentel, ex-Bope, na quinta-feira. Nos bastidores, cogita-se que o senhor poderia convidá-lo para ser vice ou integrar sua equipe, de alguma forma. Isso procede?
Nós temos consultado ele bastante no que diz respeito a temas de segurança pública. Ele é uma referência nessa área e é um dos temas que o próximo presidente do Brasil terá também de atuar muito.
Nós aqui no Brasil nos acostumamos a achar normal mais de 40 mil homicídios por ano e isso não é normal. Somadas todas as guerras que existem no mundo, talvez não se mate nem a metade disso. E aqui para nós isso virou normalidade.
Então é necessário fazer algo. Isso tem um custo social enorme. São pais de família, pessoas jovens que se vão por causa da violência. E isso também tem um custo econômico gigantesco. Pessoas na idade produtiva que deixam o mercado ou então ficam incapacitadas. É também um custo gigante pro sistema de saúde.
Tive a oportunidade de ver pessoalmente, meses atrás, numa missão que nós fizemos a El Salvador. Nós vimos que o país mais violento das Américas, que era El Salvador, hoje é o segundo mais seguro, ficando atrás apenas do Canadá.
Mas o senhor acha que El Salvador é um exemplo pro Brasil?
Um exemplo. É só você ir lá e conversar com as pessoas na rua, nas comunidades, que foi o que eu fiz. Eu não fui lá só para poder escutar as autoridades, não.
Fiz questão de ir em comunidades e perguntar para as pessoas que sofriam como que está a vida delas hoje, se melhorou, piorou. Não escutei ninguém falando que a vida piorou.
O senhor sabe que El Salvador vive um regime de exceção?
E por que que será que 300 mil salvadorenhos quiseram voltar para lá? Parece que as pessoas estão em um lugar que ficou mais seguro, caso contrário eles estariam indo embora.
Então o senhor defende que o Brasil tenha um regime similar ao de El Salvador?
Eu estou defendendo segurança pública, que é prender criminosos. Isso eu defendo. Agora, se tem denúncias que sejam apuradas.
Sou totalmente contrário aos direitos humanos, entende? A operação no Rio de Janeiro...
O senhor é totalmente contrário aos direitos humanos?
Favorável aos direitos humanos, totalmente favorável.
A operação no Rio de Janeiro, a população lá da comunidade deu 80% de aprovação, de endosso, porque eles estão sendo extorquidos.
Eles pagam mais caro pela energia, eles pagam mais caro pela conta de água, de internet. Eles, que sofrem, estão endossando.
Agora, quem fica aí num gabinete ou só abrindo livros, achando que entende de segurança pública, fala que cometeram uma barbaridade lá.
Pessoas que vivem situações desesperadoras aplaudem até medidas desesperadas. Mas o que o senhor propõe como solução efetiva e não ação pontual de combate ao crime ou a instalação de um regime de exceção?
O que nós vimos no Rio de Janeiro acho que não é nenhum regime de exceção. O que aconteceu no Rio de Janeiro foi uma operação para prender criminosos que tinham mandados de prisão, assassinos.
Vale lembrar, muitos se entregaram, estão detidos. Aqueles que revidaram foram alvejados. Prender assassino é ir contra o Estado de Direito? Na minha opinião, não.
Voltando ao Rodrigo Pimentel, o senhor falou com ele sobre ele ser vice ou ocupar alguma outra função na área de segurança em uma eventual gestão no governo federal?
Não. O Rodrigo Pimentel está dando consultoria para o partido Novo nas questões de segurança pública.
Ele não tem interesse em ser candidato. Ele tem diversas atividades e não é candidato. Isso ele mesmo já declarou.
LEIA MAIS COLUNAS DE LETÍCIA GONÇALVES
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.
