
A federação entre União e PP, batizada de UP, foi oficialmente lançada no último dia 29. No Espírito Santo, como já estava previsto, o comando vai ficar com o deputado federal Da Vitória, presidente estadual dos progressistas. As duas siglas integram a base de apoio ao governador Renato Casagrande (PSB) e, em tese, a soma das forças beneficia o socialista. O PP, entretanto, tem um pé no Palácio Anchieta e outro no grupo adversário, liderado pelo prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos).
O tom dos discursos no lançamento da federação, se tiver impacto na prática, porém, é o que pode levar a uma reviravolta no tabuleiro político capixaba. PP e União fazem parte do Centrão e têm ministérios no governo Lula (PT), mas as lideranças nacionais deram sinais claros de afastamento em relação ao PT. E o PSB de Casagrande está com Lula.
O próprio Da Vitória, aliado de Casagrande, destacou, em entrevista à coluna, que, entre os líderes nacionais do PP, "não houve declarações favoráveis ao governo federal" no dia 29 e que, para o ano que vem, a federação pode impor certas restrições:
Da Vitória
Deputado federal e presidente estadual do PP
"Na eleição passada (2022), conseguimos sustentar a coligação com o PSB (com Casagrande) apesar de, nacionalmente, termos ficado com Bolsonaro. Mas em 2026 podemos ter uma imposição nacional"
Seria algo pouco comum. Via de regra, o Centrão gosta de embarcar no time que tem mais chances de vitória, sem qualquer constrangimento ideológico e ignorando contradições em relação ao palanque nacional.
Nos estados, não é de praxe o PP proibir coligações com partidos de centro-esquerda, como o PSB. No Espírito Santo, os progressistas concentram, majoritariamente, políticos de centro-direita que são, ao mesmo tempo, casagrandistas. Uma exceção é o deputado federal Evair de Melo, que faz oposição ao governador e é aliado de Pazolini.
Para a federação UP proibir coligação com o PSB em 2026, teria que desembarcar do governo Lula e abraçar de vez uma candidatura de direita à Presidência da República. Por enquanto, está "lá e cá", surfando tanto no governo quanto na oposição.
A federação, nacionalmente, será presidida de forma conjunta pelos presidentes do PP, Ciro Nogueira, e do União Brasil, Antonio Rueda. Ciro é ex-ministro do governo Bolsonaro e aliado do ex-presidente da República.
O União tem um potencial candidato ao Palácio do Planalto, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado.
O anúncio da federação não contou com representantes do PT. O presidente nacional do PL de Bolsonaro, Valdemar Costa Neto, por sua vez, estava lá, assim como o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ).
O manifesto divulgado pela federação defende um "choque de prosperidade” e menos intervenção do Estado na economia, o que contradiz o posicionamento histórico do PT e, ironicamente, também o do PP e do União, sempre ávidos por nacos de poder e de recursos públicos.
RICARDO FERRAÇO
No Espírito Santo, o União Brasil já declarou apoio ao vice-governador Ricardo Ferraço (MDB), principal aposta do grupo de Casagrande para ser lançado candidato ao Palácio Anchieta.
O PP, até agora, não seguiu o mesmo caminho, embora tenha reforçado os laços com o governo estadual.
"O PP não declarou apoio a ninguém. A relação com o governador é de parceria e vamos discutir com Casagrande o processo de 2026", afirmou Da Vitória.
Da Vitória
Deputado federal e presidente estadual do PP
"O PP quer participar da majoritária"
"Participar da majoritária" quer dizer ter candidato a governador, a vice ou ao Senado, mas a vice é algo quase descartado, no cenário atual. "Não sei nem se tem alguém no PP que teria interesse em ser vice", comentou Da Vitória.
O deputado federal, contudo, é um potencial candidato ao Senado. "Não descartamos candidatura ao governo ou ao Senado, mas está muito cedo", ponderou.
RIGONI E EUCLÉRIO
Ao menos por enquanto, o presidente estadual do União Brasil é o secretário estadual de Meio Ambiente, Felipe Rigoni. Antes de a federação se consolidar, o prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio, estava de malas prontas para se desfiliar do MDB e presidir o União no Espírito Santo.
Isso, agora, é incerto.
Rigoni, por sua vez, vai continuar no partido, mesmo que não presida a sigla. Em 2026, ele pretende disputar uma vaga na Câmara dos Deputados.
À coluna, o secretário estadual de Meio Ambiente reforçou que o partido continua ao lado de Ricardo Ferraço e vai defender isso nas conversas com o PP.
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