Cidade com fortes marcas da cultura italiana, Alfredo Chaves é conhecida por suas tradições, algumas vindas da Europa. Uma das mais singelas e, por isso mesmo, mais belas, é comemorar o dia de Santa Luzia (13 de dezembro) com doces para as crianças. Mas é na véspera que o ritual cultural-religioso se inicia.
Na noite do dia 12 (hoje), os pequenos costumam colocar pratinhos enfeitados com capim e milho, próximo à árvore de Natal ou na mesa principal da casa, para o “cavalinho” da santa, segundo a tradição. Em troca, as crianças ganham doces.
E por que o cavalinho? Há uma crença que a santa percorre a cavalo todas as residências onde existem crianças e distribui doces para elas, principalmente as que tiveram bom comportamento durante o ano e acreditam na lenda. O capim, segundo a tradição, é alimento para o cavalo, que merece um “lanchinho” devido ao cansaço em percorrer as residências do mundo inteiro.
TRADIÇÃO FAMILIAR
Na família Paganini, moradora de Gururu, na sede de Alfredo Chaves, a tradição atravessa cinco gerações. A aposentada Luizinha Parteli Paganini, de 83 anos, lembra que, quando criança, colocava o pratinho e recebia cavaco e biscoitos. O costume foi mantido com seus filhos e seguiu adiante.
Sua nora, a dona de casa Berdadeth Pietralonga, também cresceu em uma família que preservava o ritual e fez questão de continuar a tradição na nova família, repassando-a aos filhos e netos. Sua filha, Drieli, também segue com o legado com os filhos Sofia, Helena e Heitor.
Da mesma forma, a tradição atravessa seis gerações na família de Jalci e Ivanete Rosa, de 77 e 72 anos, respectivamente, moradores do bairro Cachoeirinha. Ivanete lembra que foi sua avó quem começou a incentivar o costume entre filhos e netos - e ela fez questão de manter o legado. “Temos muita devoção à santa, e essa tradição permanece viva em nossa família até hoje”, afirma.
Silvana, uma das filhas do casal, cresceu seguindo o hábito e o repassou à filha Nathália, que hoje transmite a devoção às pequenas Maria Sofia e Elora Maria. As netas aguardam a data com alegria e ansiedade, e fazem questão de colocar o pratinho não só em casa, mas também na residência dos avós e dos tios.
De acordo com o escritor e jornalista Hésio Pessali, o costume integra um cenário maior da tradição italiana, em que as celebrações, chamadas de festas do calendário católico, têm uma presença significativa.
“As celebrações, como a de Santa Luzia, tinham um aspecto não só religioso, mas também festivo, social e afetivo, de encontro de pessoas e famílias. Na manhã em que ganhavam os doces, as crianças se visitavam, ficavam mostrando o que haviam ganho e, conforme as preferências, trocavam doces umas com as outras”, relata.
O jornalista ainda descreve que alguns pais levavam um animal para andar no terreiro para obter a marca do "cavalinho", que ficava cravada no chão do terreno molhado pelo sereno da madrugada.
FÉ NA SANTA DOS OLHOS
Em diversas comunidades de Alfredo Chaves, Santa Luzia é homenageada e pelos seus muitos devotos. Na localidade de Quarto Território, por exemplo, uma capela foi construída há mais de 120 anos, em agradecimento a uma promessa atendida.
De acordo com um morador local, a família Lorencini construiu, na época, uma capelinha que anos mais tarde foi ampliada. A própria família trouxe a imagem da padroeira diretamente da Itália - na imagem está cravado o nome de Santa Lúcia, como é conhecida na Itália.
Todos os anos, no dia dedicado à santa, a comunidade celebra a devoção com missa e diversas festividades. A celebração atrai moradores do município e de cidades vizinhas, que aproveitam o momento para agradecer pelas graças recebidas, especialmente relacionadas à visão.
E para abençoar os nossos olhos para que a gente consiga enxergar com mais nitidez a beleza do mundo, nada melhor que repetir uma antiga oração popular: “Santa Luzia passou por aqui com seu cavalinho comendo capim". Amém!
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