Doutor em Doenças Infecciosas pela Ufes e professor da Emescam. Neste espaço quer refletir sobre saúde e qualidade de vida na pandemia.

Vacinei contra a Covid e não tenho anticorpos. E agora?

Muitas pessoas vacinadas correm para fazer o exame de detecção de anticorpos no sangue e... surpresa! O anticorpo não aparece ou está em níveis mínimos

Publicado em 29/07/2021 às 02h03
As vacinas servem para estimular o sistema imunológico que passa a reconhecer agentes que causam doenças produzindo anticorpos
Não temos medida perfeita para aferir a variação individual de resposta à vacina, que com certeza existe. Crédito: Freepik

Chegamos ao fim de julho e os hospitais estão menos sufocados de casos de Covid. Felizmente, enfim, mais calmos. Em parte porque a variante Delta, mais contagiosa, ainda não se disseminou entre nós, mas principalmente em virtude do avanço da vacinação nos grupos idosos mais vulneráveis. Acontece que muitas pessoas vacinadas correm para fazer o exame de detecção de anticorpos no sangue e... surpresa! O anticorpo não aparece ou está em níveis mínimos. E agora?

É compreensível a ansiedade despertada por uma doença nova e o desejo das pessoas de ter um “comprovante” de segurança para voltar à vida normal. No entanto quando vacinamos para gripe, tétano, meningites ou HPV, para citar alguns exemplos, não fazemos exames para saber se a vacina funcionou. Aliás, a única doença imunoprevenível em que existe esta prática é a hepatite B, na qual há um correlato de proteção estabelecido de anti HBs.

No caso do coronavírus, a avaliação da capacidade de neutralização do vírus por anticorpos tem como método de referência (padrão ouro) o ensaio de neutralização em placas, com o cultivo in vitro do vírus em células vivas e manipulação do próprio vírus, o que é inviável em laboratórios comerciais. Os testes sorológicos comerciais tentam estabelecer um correlato de proteção, que na verdade ainda não foi estabelecido com certeza para coronavírus.

Pessoas com valores muito elevados nos testes (supostamente felizardos) não podem relaxar totalmente porque além de não existirem valores definidos com certeza de proteção, estes testes foram calibrados com antígenos das variantes originais do vírus e não com as variantes Gama (hoje frequente) ou Delta (nossa provável próxima visita..). Aqueles com valores baixos ou indetectáveis (os abandonados pela sorte...) não precisam entrar em desespero porque, além de não se saber os correlatos exatos de proteção, os testes não medem a imunidade celular e células de memória, que têm papel definitivo na resposta imune contra o coronavírus.

O Food and Drug Administration (FDA) enfrenta situação similar nos EUA e soltou um memorando em maio último alertando aos médicos americanos para não solicitar dosagens de anticorpos pós vacina, lembrando que estas dosagens de anticorpos servem apenas para avaliar infecção passada, com ressalvas. Aqui entre nós, a Anvisa também elaborou nota técnica (33/2021) com recomendações semelhantes.

Então vamos acelerar a vacinação, ótimo! Mas não temos medida perfeita para aferir a variação individual de resposta à vacina, que com certeza existe.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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