É jornalista. Atualidades de economia e política, bem como pautas comportamentais e sociais, ganham análises neste espaço. Escreve às sextas

O que Bolsonaro pretende com os ataques ao sistema eleitoral

Não há nada no processo eleitoral brasileiro que possa justificar qualquer suspeição. Mas, mesmo assim, todos sabemos que ele não vai se afastar um centímetro do seu discurso alarmista

Publicado em 29/04/2022 às 02h00

Qualquer pessoa minimamente atenta aos acontecimentos políticos percebe que o presidente Bolsonaro tem a clara intenção de tumultuar o processo eleitoral de 2022. Sua pregação sistemática contra as urnas eletrônicas não tem outro propósito que não o de lançar dúvidas sobre os resultados das próximas eleições, tal qual fez Donald Trump com relação à eleição americana de 2020. Até hoje Trump alimenta o discurso que aquela eleição foi fraudada como tática de mobilização dos seus seguidores para turbinar as suas futuras pretensões políticas.

Bolsonaro vai mais além: ele diz que até mesmo nas eleições de 2018, na qual foi vencedor, houve fraude porque, no seu devaneio, ele teria tido mais de 50% dos votos no primeiro turno. É claro que ele inventa essa narrativa, tanto que nunca apresentou nem sequer uma prova disso, mesmo quando foi desafiado a fazê-lo pelo Tribunal Superior Eleitoral no ano passado. Bolsonaro não tinha, como não tem qualquer prova que sustente a sua versão estapafúrdia de que as urnas eletrônicas brasileiras podem ser violadas.

Mas mesmo assim, um dia sim e no outro também, Bolsonaro lança suspeitas vagas, genéricas, dúbias, que desnudam o seu plano de preparar terreno para acusar o TSE de fraude caso perca as eleições e, por mais absurdo que isso possa parecer, mesmo que seja o vencedor. Porque essa é a sua bandeira de luta, a de tentar peitar a Justiça como aconteceu no caso do deputado Daniel Silveira que teve seu crime perdoado por um decreto presidencial um dia após ser condenado pelo STF.deputado Daniel Silveira que teve seu crime perdoado por um decreto presidencial um dia após ser condenado pelo STF.

Bem faz o TSE que acaba de divulgar o seu plano de ação para dar maior transparência e segurança nas eleições, uma resposta civilizada, adequada e politicamente correta aos desvarios do presidente. O plano contempla a adoção de dez medidas que foram debatidas e aprovadas pela Comissão de Transparência que contou com a participação de instituições como universidades, Congresso, Polícia Federal, Forças Armadas, Fundação Getúlio Vargas, Transparência Brasil e OAB.

As ações que serão adotadas vão desde a avaliação dos códigos das urnas eletrônicas até a fiscalização da apuração dos votos em cada equipamento. Foi ampliado, para a comunidade acadêmica e especializada, o acesso ao código-fonte dos softwares eleitorais, assim como a quantidade das equipes de investigadores que avaliam o sistema. O TSE irá, ainda, publicar os arquivos dos registros digitais dos votos para facilitar a verificação da apuração em cada urna e compará-la com o boletim divulgado na seção eleitoral e na internet.

Enfim, não há nada no processo eleitoral brasileiro que possa justificar qualquer suspeição. Mas, mesmo assim, todos sabemos que Bolsonaro não irá se afastar um centímetro do seu discurso alarmista. Porque, o que ele pretende é, tão somente, criar o ambiente propício para acusar a Justiça Eleitoral de fraude e, quem sabe?, tentar arrebanhar adeptos para uma mobilização que possa resultar em um improvável – mas não impossível – golpe de Estado.

Isso, sabemos todos, é tudo o que o Brasil – um país tão cheio de problemas e desigualdades sociais – não precisa e não merece.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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