Isabela Castello, administradora e designer, apaixonada pelo universo criativo, sua coluna aborda conteúdos sobre arte, design, arquitetura e urbanismo.

"Ambientes e móveis multifuncionais são prioridades na casa", diz Andrea Bisker

A cientista de consumo fala sobre hábitos de consumo, modos de vida, maneiras de lidar com a natureza e utilizar inovações em um mundo de mudanças

Publicado em 29/08/2021 às 02h00
Andrea Bisker
Andrea Bisker é cientista de consumo. Crédito: Divulgação Andrea Bisker

Essa é uma edição especial da Coluna Terra. Entrevistei, com exclusividade, Andrea Bisker, cientista de consumo. Atualmente ela lidera a operação brasileira da Stylus, empresa inglesa de inteligência de mercado, e fundou a Spark: off, consultoria de inovação e tendências. Atua como conselheira na plataforma de empreendedorismo feminino, Aladas, e como investidora anjo em quatro startups.

Andrea foi uma das palestrantes da segunda edição do Connectarch Summit, maior evento digital sobre design e arquitetura, promovido pelas marcas Eliane e Decortiles, que contou com grandes nomes nacionais e internacionais abordando temas sobre arquitetura, design, criatividade, ciência, tendências, tecnologias e comportamento, e provocaram reflexões sobre hábitos de consumo, modos de vida, maneiras de lidar com a natureza e utilizar inovações em um mundo de mudanças.

A pandemia fez a humanidade rever nosso modo de produzir, de comprar, de consumir e de nos conectarmos com as pessoas. Como essas mudanças afetaram e afetarão nossos valores? Que sociedade deve emergir após a pandemia?

Certamente a pandemia nos obrigou a ter um outro olhar para a forma como produzimos, compramos, nos relacionamos e até como moramos. Por exemplo, um dos movimentos que vimos ser acelerado de maneira muito forte durante o último ano foi o localismo. Nunca tivemos uma apreciação tão grande pelo local, tanto pelo desejo dos consumidores de apoiarem negócios locais como em função da escassez da cadeia de suprimentos que forçou essa valorização da produção local. Neste sentido, um senso de comunidade foi aflorado. E este é só um dos muitos exemplos de mudança de valores que vimos durante os últimos meses. Durante o isolamento social, muitas prioridades foram revistas. Não à toa que estamos observando um movimento chamado The Great Resignation mundo afora, onde muitos trabalhadores estão se demitindo de seus empregos após entenderem o que importavam para eles. Só nos Estados Unidos, 4 milhões de pessoas pediram demissão em abril. Um número recorde. De acordo com o estudo Work Trend Index de 2021 da Microsoft, 41% das pessoas globalmente considerarão deixar seus empregos no próximo ano. Os consumidores estão muito mais conscientes em relação à saúde, tanto pessoal quanto ambiental. Isso porque, de acordo com a Ipsos, 71% dos adultos em todo o mundo concordam que, a longo prazo, a mudança climática é uma crise tão séria quanto o Covid-19.

Como a pandemia afetou a relação das pessoas com suas casas? Quais são as tendências do Morar pós-pandemia?

Durante a pandemia, nossa casa era nosso templo, o espaço onde tudo acontecia. Isso levou as pessoas a revisitarem a funcionalidade de seus espaços. Agora ambientes e principalmente móveis multifuncionais são prioridades. Com o trabalho remoto chegando para ficar, as pessoas estão buscando projetos arquitetônicos mais versáteis. A ideia é acomodar toda a família, sem deixar de lado a privacidade e a individualidade. Também não podemos deixar de citar a priorização do bem-estar dentro do nosso lar. A dificuldade de separar o ambiente pessoal e profissional aflorou muito a busca por um respiro. Neste sentido, a biofilia é um grande aliado. Todas as gerações estão convergindo para um interesse comum quando o assunto é morar: o wellness deve estar cada vez mais próximo de casa. Espaços como horta comunitária, piscina, cozinha gourmet, spa e estúdio para prática de atividades físicas passarão a integrar as áreas comuns de grandes edifícios, reduzindo a necessidade de deslocamento.

Como a pandemia impactou o varejo presencial? Quais são as tendências para os projetos arquitetônicos dos espaços comerciais?

Com o varejo físico sendo obrigado a fechar durante a pandemia do Covid-19, a aceleração digital foi inevitável. Mas isso não significa que deixaram de ter oportunidades para o varejo presencial. Nos últimos meses, já vimos e estamos vendo sinais das mudanças maiores que estão para acontecer no varejo. O crescimento da omnicanalidade integrando varejo físico e online, os serviços sendo alavancados e até a aposta no Live Commerce são algumas destas manifestações. Há muitas oportunidades para pontos de venda físicos. Eles precisam parar de serem tratados como simples espaços para transação, mas sim como a extensão do e-commerce, uma plataforma para a criação de conexão com os consumidores e um espaço para experiências imersivas. Isso irá revitalizar o varejo.

A pandemia evidenciou uma profunda desigualdade econômica e social, que já existia em nossa sociedade. E ainda aprofundou essa desigualdade. Como a humanidade vai lidar com essa desigualdade?

Como já estamos observando, a pandemia afetou diversos valores dos consumidores e eles estão muito mais conscientes. Vimos como os movimentos sociais foram pauta nos últimos meses. Os consumidores – principalmente os mais jovens da Geração Z, conhecida por seu ativismo – querem ver mudanças acontecendo e irão exigir cada vez mais que as marcas exerçam um papel nessa mudança na sociedade porque elas acreditam muito mais nas marcas do que nas organizações. Isso fica muito claro quando olhamos para dados de estudos como o Trust Barometer da Edelman que mostra que, globalmente, 62% dos consumidores acreditam que seu país não passará por essa crise sem que as marcas desempenhem um papel crítico na abordagem dos desafios causados pela pandemia. E o Future Consumer Index da EY aponta que 73% dos consumidores globalmente acreditam que as marcas têm a responsabilidade de fazer uma mudança positiva no mundo.

A pandemia provocou um aumento da consciência das pessoas sobre a sustentabilidade. Como as marcas devem agir para se adequarem a essa tendência?

A pandemia evidenciou fragilidades, passar mais tempo em casa expôs quanto lixo é gerado, o isolamento social realçou a poluição gerada pelo trânsito e pelas manufaturas. O último ano potencializou a preocupação pela sustentabilidade nas prioridades dos consumidores e uma nova pesquisa da Accenture sugere que a pandemia intensificou o interesse no “consumo consciente”. Já não basta que as marcas falem apenas de responsabilidade, elas precisam adotar práticas ambientais, sociais e de governança (ESG). E mais do que isso, os consumidores esperam que as empresas os auxiliem a fazer escolhas mais sustentáveis e éticas. Um ótimo exemplo é a linha de produtos naturais da marca alemã Stop the Water While Using Me! (em tradução livre: desligue a água enquanto me usa!) que tem um logotipo forte e instrutivo. Ele age como um lembrete diário, pedindo aos usuários a fazer uma mudança simples e responsável.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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