É professor do mestrado em Segurança Pública da UVV. Faz análises sobre a violência urbana e a criminalidade, explicando as causas e apontando caminhos para uma sociedade mais pacífica. Escreve aos domingos

Um tapa no visual: como a estética das polícias afeta a segurança pública

Boa apresentação de policiais, viaturas e equipamentos públicos aumenta moral da tropa, influencia a percepção que o cidadão tem das instituições de segurança pública e tem impacto até sobre os criminosos

Publicado em 18/07/2021 às 02h00
Vitória
Viaturas elétricas que serão alocadas na Patrulha Escolar da Polícia Militar. Crédito: Hélio Filho/Secom

Poucas pessoas se dão conta da importância da apresentação e outros aspectos estéticos dos policiais, viaturas, unidades arquitetônicas e outros símbolos representativos institucionais. Claro que o fardamento, distintivos e outros elementos de identificação são indispensáveis para que o cidadão, os colegas de farda e outras autoridades saibam com quem estão tratando, porém a questão vai muito além.

A maneira como o profissional da segurança está trajado, a conservação do meio de transporte e do local de trabalho contribuem, antes de mais nada, para determinar o moral da tropa, a maneira como ela percebe a si própria, individual e coletivamente. Em outras palavras, uma boa ou má apresentação pode motivar ou desmotivar qualquer trabalhador e aos colegas.

Por outro lado, vai influenciar a percepção que o cidadão tem das instituições de segurança pública, dispondo-se a procurar o socorro quando vitimado, colaborar quando testemunhar algum crime etc.

Pode parecer estranho à primeira vista, mas esses aspectos também são inconscientemente percebidos pelos suspeitos/criminosos, influenciando na decisão, por exemplo, de se entregar sem resistência, acreditando que não será “esculachado”. Uma “presença” altaneira das polícias (quem ainda conhece esta palavra?) inibe crimes, impõe respeito, granjeia confiança e vai por aí.

Pesquisa realizada pelo aluno do Mestrado em Segurança Pública João Paulo Dominguez Carvalho revelou que a arquitetura e paisagística das unidades policiais influencia fortemente não apenas o clima de trabalho, mas também o sentimento da vítima que vai procurar ajuda. Um ambiente tranquilo, acolhedor, ainda que não luxuoso, contribui para que ela retome o equilíbrio espiritual ou, ao contrário, pode aumentar a percepção de opressão e tristeza.

Quem já foi liberar o corpo de um familiar no DML sabe bem o quanto isso pode ser um trauma à parte. Portanto, já não estamos falando em “garbo militar”, “apresentação pessoal”, “representação institucional”, mas, também, de humanização do ambiente policial e, portanto, do próprio funcionamento dessas instituições.

Sim, o cuidado com a estética no fardamento, nas viaturas e nos edifícios não apenas contribui para a boa prestação desse serviço, mas verdadeiramente pode transformá-lo aos poucos. Às vezes o policial nem percebe esse processo, muito menos o público externo, mas, subliminarmente, podemos caminhar para um crescente profissionalismo, para a realização pessoal do operário da segurança pública e para o orgulho e apuro com que desempenhará seu cargo, para uma maior aproximação com a comunidade e para a colaboração desta.

Até mesmo o criminoso, por estranho que possa parecer, muda, um pouco, o seu comportamento ao se deparar com um policial adequadamente fardado, com uma viatura bem conservada, com delegacias modernas.

Lastimavelmente, nem todos os governantes têm a devida atenção a essas questões, apenas porque elas não são tão obvias quanto a necessidade de armamento, munição e combustível. Não são óbvias, mas tão importantes quanto.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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