Doutora em Epidemiologia (UERJ). Pós-doutora em Epidemiologia (Johns Hopkins University). Professora Titular da Ufes. Aborda nesta coluna a relação entre saúde, ciência e contemporaneidade

Três motivos para dizer sim à vacina contra a gripe

É preciso entender o objetivo da vacina. Algumas vacinas têm a função de proteger contra a infecção e outras têm a função de proteger contra a gravidade da doença

Publicado em 17/04/2025 às 03h00

Todos os anos, desde 1999, quando foi introduzida no Sistema Único de Saúde (SUS), a vacina contra a gripe está disponível para a vacinação no Brasil. Discuto aqui três dos principais motivos para que você se vacine.

Primeiro, o Programa Nacional de Imunizações (PNI), da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, é responsável por definir estratégias e normas técnicas para a utilização de imunobiológicos, com base na vigilância epidemiológica das doenças.

Há mais de 50 anos, dá as diretrizes para o calendário básico de imunizações, voltado sobretudo às crianças. Com o tempo e o sucesso alcançado em suas campanhas, o PNI decidiu incorporar outras áreas de atuação, selecionando novas doenças e grupos etários para programa como: idosos, gestantes, trabalhadores de saúde.

Para fazer essas escolhas, muitos critérios são considerados. Inicialmente, definem-se as prioridades que se tem na saúde pública, considerando, entre outros elementos, a vulnerabilidade de uma doença frente à imunização, analisando dados epidemiológicos e a relação entre o custo e a efetividade da vacina.

Segundo, é preciso entender o objetivo da vacina. Algumas vacinas têm a função de proteger contra a infecção e outras têm a função de proteger contra a gravidade da doença. Em relação à vacina contra a gripe, o grande objetivo é evitar o agravamento de casos de síndrome respiratória aguda grave.

O imunizante está disponível nas unidades básicas de saúde de todo o Brasil e foi recentemente incorporado no calendário regular de vacinação para crianças de 6 meses a menores de 6 anos (5 anos, 11 meses e 29 dias), gestantes e idosos com 60 anos ou mais de idade.

Há também grupos chamados de especiais, que incluem: puérperas, povos indígenas, quilombolas, pessoas em situação de rua, trabalhadores da saúde, professores do ensino básico e superior, profissionais das forças de segurança e salvamento, profissionais das forças armadas, pessoas com deficiência permanente, caminhoneiros, crabalhadores de transporte coletivo rodoviário para passageiros urbanos e de longo curso, trabalhadores portuários, trabalhadores dos Correios, população privada de liberdade e funcionários do sistema de privação de liberdade, adolescentes e jovens de 12 a 21 anos sob medidas socioeducativas, pessoas com doenças crônicas não transmissíveis e outras condições clínicas especiais, independentemente da idade.

Vale lembrar que, em 1999, quando de sua introdução, a campanha de vacinação contra a gripe visava apenas pessoas com mais de 65 anos, porque esse foi o grupo entendido como o que receberia maiores benefícios com a vacinação. Em 2000, a campanha foi estendida aos maiores de 60 anos.

Embora outros grupos pudessem ser beneficiados com a imunização, optou-se apenas pelos mais fragilizados devido ao alto custo da vacina. Hoje, com o investimento em pesquisa e inovação, a vacina comprada pelo PNI vem do Instituto Butantan, o que permitiu essa expansão. Esses grupos juntos (rotina + especial) somam quase 80 milhões de brasileiros e brasileiras.

Terceiro, um importante ponto de virada foi a criação do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe), implantado em 2000 para monitoramento do vírus influenza no país, a partir de uma rede de vigilância sentinela da síndrome gripal (SG). Em 2009, com a pandemia pelo vírus Influenza A(H1N1) foi implantada a vigilância da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e, a partir disso, o Ministério da Saúde vem fortalecendo a vigilância dos vírus respiratórios.

Essas bases de dados cumprem o propósito da notificação destes casos agudos até o seu desfecho direto (alta hospitalar ou óbito), o que permite entender a evolução e possível mudança no perfil e padrão dos vírus que estão circulando no Brasil - informação usada, também, para atualizar as vacinas anualmente.

vacina contra a gripe
Vacina contra a gripe. Crédito: Shutterstock

Com base nessas informações, em 2023, pela primeira vez no Brasil, foram adotados calendários de vacinação distintos para a região Norte e para as demais regiões do país, respeitando o perfil epidemiológico da doença. Enquanto nas demais regiões a gripe é mais comum durante o inverno tradicional, na região Norte a incidência aumenta no chamado 'inverno amazônico', que ocorre entre o final do ano e o mês de maio, período marcado pelo aumento das chuvas. Por isso, nessa região, a vacinação tem sido antecipada para setembro.

Em fevereiro de 2025, foram criadas as Diretrizes sobre Covid-19 e outros vírus respiratórios, incorporando, pela primeira vez, a vacina da doença na vigilância integrada dos vírus respiratórios. Trata-se de um fruto dos aprendizados da pandemia, que evidenciou a necessidade de coordenação e diálogo entre os entes do SUS. Temos agora, no país, diretrizes consolidadas para o enfrentamento de vírus respiratórios, o que representa um avanço significativo para a saúde pública

Assim, esses três motivos precisam ficar bem nítidos: há uma estratégia embasada na ciência para a escolha dos grupos pelo PNI; a vacina contra gripe protege contra casos graves; e há um sistema de vigilância dos vírus que monitora e informa quais vírus estão circulando – sendo essas informações utilizadas para aprimorar as vacinas.

Se você ainda não está convencido da importância da vacina, digo ainda mais uma: segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 5% a 10% da população mundial é infectada com o vírus influenza a cada ano, o que equivale a pelo menos 1 bilhão de pessoas anualmente. Destas, entre 3 a 5 milhões podem desenvolver sintomas graves, e até 650 mil podem morrer - a maioria nos grupos definidos como prioritários pelo Ministério da Saúde.

Considerando os óbitos por SRAG no Brasil, no ano de 2024, em todas as faixas etárias, foram registrados 9.906 óbitos, sendo 5.059 (51,1%) com resultado laboratorial positivo para algum vírus respiratório; 4.039 (40,8%) negativos, 171 (1,7%) e ao menos aguardando resultado laboratorial.

Portanto, a informação que vem de mais de 50 anos de experiência com as vacinas no Brasil é clara: elas salvam vidas. Aproveite quando for à unidade de saúde e veja se sua vacina contra Covid-19 também está em dia. Proteja sua vida e vacine-se!

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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