Na vida não se faz nada sozinho. Como diz o líder indígena e membro da ABL Ailton Krenak, a cultura indígena valoriza tanto o sentimento do coletivo que os indígenas das diversas etnias chamam uns aos outros de parentes. Mas para atuar coletivamente precisamos de consensos, o que não elimina as discordâncias, mas une a maioria em torno de algumas ideias comuns.
Nosso sentimento é o que de vivemos em um país e mundo altamente polarizados. Esse sentimento deriva dos modelos das redes sociais, que aprenderam que as notícias que causam indignação provocam maior atração, cliques e lucros do que as notícias moderadas. Isso faz com que as redes priorizem as informações e análises que causem fúria e mobilização na direita ou na esquerda, criando um ambiente de postagens polarizadas, que por serem maioria, passam a impressão de que a polarização tomou conta da sociedade.
A polarização existe, mas somos em média uma sociedade polarizada? Ou essa é uma percepção que vem das vozes extremadas que dominam os debates, e que reduzem a um falso silêncio aqueles que expressam ideias moderadas, que por não gerarem cliques não aparecem, passando a ideia de que não existem?
Inúmeras pesquisas mostram que a maioria da população brasileira não se identifica com os polos ideológicos da direita e esquerda, e que gostaria de soluções moderadas e robustas para o país em áreas como segurança, saúde, desenvolvimento, desigualdade econômica e meio ambiente. É uma maioria que foi subtraída dos debates, a ponto de parecer não existir. Como dar visibilidade e voz a essa maioria, de modo a que tenha força para impulsionar um caminho para o país que atenda aos seus anseios?
A temática socioambiental é uma das que mais provoca polarização, tendo o Brasil sido um dos países mais afetados por isso.
Mas, curiosamente, foi justamente no Brasil que diversos segmentos da área socioambiental tiveram a maturidade de construir processos em que essa maioria moderada vem conseguindo caminhar junta, apesar das diferenças individuais, e construir processos que podem não apenas trazer soluções, mas servir de inspiração a outras áreas e países.
O exemplo mais marcante é o da Coalizão Brasil Clima Florestas e Agricultura, movimento único do gênero no mundo, que completou 10 anos. Criada em 2015, é um processo de diálogo e busca de consenso composto por mais de 400 representantes do setor privado, financeiro, academia e sociedade civil, que atuam juntos em prol de uma economia de baixo carbono, competitiva, responsável e com justiça social.
Tem entre seus órgãos principais um grupo estratégico, composto por 21 membros dos diferentes setores, um grupo executivo e secretaria executiva que lhe dão sustentação e 12 forças-tarefas, focadas em temas específicos prioritários que demandam aprofundamento. Nesse contexto, a coalizão busca promover a sinergia entre as agendas socioambientais das áreas agrícola, florestal e econômica, com foco não apenas nas políticas públicas, como no desenvolvimento econômico e social e na preservação do meio ambiente.
Tendo dado enorme contribuição à elaboração dos compromissos brasileiros na COP 15, em Paris, continuou a atuar não só em relação às COPs posteriores, como a recente COP30, mas ao desenvolvimento dessas agendas no país.
A Coalizão serve como referência positiva do que o país é capaz. Muitas vezes temos a impressão de que o “mal” predomina em diversas dimensões, o que causa desânimo e vontade de desistir. Organizações como a Coalizão e inúmeras pessoas em diversas áreas servem como referências positivas de um Brasil que dá certo, dando-nos o ânimo necessário para continuar a lutar pelo país que queremos e podemos ter.
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