É psicóloga, psicanalista, entusiasta da maternidade, paternidade e mestre em Saúde Coletiva. Escreve sobre os bebês, as emoções, os comportamentos, os conflitos e dilemas contemporâneos do tornar-se família

O paraíso não é um lugar para as mães

O lugar das mães é na terra, nesse árduo e cotidiano manifesto de prover seres humanos melhores, mesmo quando as condições não são favoráveis

Publicado em 08/05/2021 às 02h00
Mãe e filho
A gente não cria, a gente cuida e educa um filho. Crédito: Freepik

Acredite, você já é a melhor mãe que o seu filho poderia ter.

Eu afirmo isso, mas você não acredita!

Sua gestação pode não ter sido planejada, a grande maioria dos bebês não nascem dos planos, mas dos desejos mais inconfessáveis.

Seu parto não foi orgástico – e eu compro a briga afirmando que isso não existe, parir é um gozo e precisamos saber diferenciar.

A amamentação é a escolha mais difícil de se fazer, de se manter, e o vínculo mais estreito de empatia e devoção que você e seu filho terão um com o outro.

“Criar” é um verbo difícil de engolir quando se trata dos aspectos da parentalidade. A gente não cria, a gente cuida e educa um filho, só os artistas criam. As crianças não são telas em branco, elas tem suas próprias alteridades, e nossos conflitos se dão justamente por não aceitá-las como seres humanos em sua integralidade.

Você constantemente lamenta os enormes buracos que o exercício da função materna provoca, e eu rio e digo que a melhor mãe é aquela que falha, a que falha sempre então, é a medalha de platina.

Ser mãe não é um trabalho invisível, ser mãe é uma função que por motivos inconscientes, mais que os conscientes, você escolheu.

Sim, escolheu, senão o seu pequeno não estaria na sua frente.

Se fosse trabalho, quem de nós não se demitiria na primeira oportunidade?

Você pensou em desistir, fugir, antes da pandemia, fantasiava em mudar de país, de estado, nas noites solitárias, nos dias exaustivos, nas dificuldades, mas se mantém, sabe Deus como, ali, com o seu melhor e também o seu pior, para essa criança que pôs no mundo. Pois ao fantasiar-se deitada na cama de algum lugar em silêncio, seu primeiro pensamento é em quem vai garantir a próxima refeição.

Você sofre e muito, quando se depara com o tamanho da violência que estar à disposição do outro provoca, o segundo nome próprio da mãe é juiz, dos mais exigentes da comarca.

O paraíso não é um lugar para as mães. Nem para padecer, e nem para viver. O lugar das mães é na terra, nesse árduo e cotidiano manifesto de prover seres humanos melhores, mesmo quando as condições não são favoráveis. E na grande maioria das vezes não são. 

Conheci mães de todos os tipos, das mais saudáveis às mais cruéis e continuo afirmando, que mesmo diante dos maiores graus de perversidade elas buscavam dar o melhor de si, e em algum momento até deram, embora pouco de bom tenham recebido quando estavam vulneráveis e desamparadas. A maldade não nasce do nada.

Portanto, nesse mais um domingo de nossas vidas, eu te digo, aceite, quem você é. O que você sente e o que deseja para o futuro dos seus filhos, te tornam a melhor entre todas, para essa criança em especial, e não permita que ninguém te diga o contrário.

E segue a vida.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

A Gazeta integra o

Saiba mais
Fique bem dia das maes

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.