É escritora de ficção e professora de cinema. Escreve às terças-feiras sobre livros, filmes, atualidades variadas e fatos contemporâneos

O Brasil é um país de muitos escritores e poucos leitores

Há cada vez menos leitores para muitos escritores. De quem é a culpa por essa inversão?

Publicado em 17/08/2021 às 02h00
Biblioteca Pública Thelmo Motta Costa, em Colatina
Biblioteca Pública Thelmo Motta Costa, em Colatina. Crédito: Renato Costa Neto/Prefeitura de Colatina

O ato da leitura está perdendo lugar no país. A quinta edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, feita pelo Ibope e pelo Instituto Pró-livro, mostra uma triste realidade: entre 2015 e 2019, mais de 4,6 milhões de pessoas deixaram de ler por aqui. Ao mesmo tempo, não deixa de ser curioso observar que, na contramão dessa perda, há um boom de gente escrevendo. São poucos leitores para muitos escritores. De quem é a culpa por essa inversão?

Há quem acuse a internet. De fato, a internet não escolhe. Qualquer pessoa que queira publicar seja lá o que for tem a seu dispor um arsenal de blogs, redes sociais etc. Por outro lado, é graças a internet que qualquer pessoa pode também consultar, em poucos minutos, a obra de escritoras e escritores ou diversificar a leitura em novos formatos (e-books, consultas a textos em pdf etc) nas plataformas mais variadas (computador pessoal, notebook, celular, tablet, kindle e por aí vai).

Na lista de culpados, aparece também o galopante aumento de editoras que se aproveitam das facilidades de tecnologias atuais de edição e se prontificam a captar o investimento de quem sonha com a publicação de um livro. Mas tudo que é demais dá sobra, como diz o antigo ditado. Não há garantias de que essa produção exuberante, que brota aos borbotões, seja lida e entendida.

É preciso pensar, porém, que isso não importa a quem se satisfaz apenas em ter o nome exposto como autora ou autor e com isso deseja colecionar encômios de parentes e amigos, dispostos a prodigalizar parabéns e emojis.

Nesse imbróglio, talvez o que primeiro ocorra seja considerar a necessidade de investimento pesado em políticas públicas educacionais para exercitar a competência de ler com prazer, coisa nem sempre presente em textos utilitários propostos por órgãos oficiais. A sorte é que existem iniciativas que tentam fazer da leitura uma experiência lúdica e prazerosa, através da literatura de ficção e de poemas.

E qual é a diferença? Os textos de leitura utilitária tratam de dados e informações que dizem respeito ao conhecimento técnico e objetivo. Os textos de leitura literária são fragmentos que tratam das derivas da imaginação, das dúvidas, contradições, dores e amores que cintilam pela existência dos seres humanos.

Enquanto os primeiros trazem ensinamentos práticos e imediatos, os segundos garantem o acesso a um tipo de conhecimento capaz de doar reflexividade, sensibilidade e compreensão diante de dores e amores, tristezas e alegrias, acertos e desacertos, tudo isso que acompanha a humanidade sobre este planeta.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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