Aquiles Reis é músico e vocalista do MPB4. Nascido em Niterói, em 1948, viu a música correr em suas veias em 1965, quando o grupo se profissionalizou. Há quinze anos Aquiles passou a escrever sobre música em jornais. Neste mesmo período, lançou o livro "O Gogó de Aquiles" (Editora A Girafa)

"O que não se vê" é um álbum deslumbrante

Sexto disco solo de Elder Costa conta com participações de Zeca Baleiro e Milton Nascimento

Publicado em 06/10/2020 às 16h53
Elder Costa tocando
Elder Costa tocando "Pai João", do disco "O Que não se vê". Crédito: Fernando Freitas/YouTube

Hoje falaremos de Elder Costa compositor, violonista e cantor que lançou "O que não se vê" (independente), seu sexto disco solo. O novo trabalho, além de quinze músicas inéditas, algumas em parcerias, é muito bem gravado. Na mixagem atenta, desde os arranjos de extremo bom gosto, tocados por instrumentistas experientes, tudo reflete o apreço pelo ofício de músico.

O violonista César Bottinha produziu o CD e, junto com Sérgio Fouad, mixou o trabalho. Os dois e todos os instrumentistas dedicaram às músicas o cuidado afetuoso de um pai ao filho.

O instrumental “Pai João” (Elder Costa) conta com o violão de Elder e a percussão discreta de Emílio Martins. O violão expõe a beleza que frequenta as criações do violonista – afirmativa constatada ao longo da audição. As musicas que vêm têm as mesmas características da abertura: harmonias expressas em acordes bem armados, melodias que engrandecem a música e as levadas da diversidade musical brasileira. Ao ouvi-las, sente-se que o autor não está ali à toa, não.

Em “Eu Não Sei” (Elder Costa e Madhav Bechara), Elder canta enquanto Emílio Martins usa percussões bem colocadas. A intro antecede a entrada dos versos, pela voz emblemática de Elder cantador. A levada vem arisca. Feito um Mané Garrincha, que deixou todos os “Joãos”, gringos e brasileiros, boquiabertos com seus dribles, a melodia faz que vai, mas vem, ou nem vem... chiiii, já foi.

“Outono” (Elder Costa) tem em Milton Nascimento um gigante reverente à música – e é o próprio que inicia o canto. Logo Elder se ajunta a ele. O duo arrebata quem o escuta. Emilio Martins está na bateria e na percussão, Marcos Nimrichter no acordeom (o som de seu instrumento parece vindo das nuvens), Cesar Bottinha no violão de 12 cordas e Dunga no baixo. Show de bola!

“Meio Lá Meio de Cá” (EC e Madhav Bechara) tem a participação de Zeca Baleiro, cantando e vocalizando. Elder Costa, além de tocar violão, também canta e vocaliza com Zeca, apoiados por Emilio Martins (percussão) e Otávio Gali (baixo acústico). Zeca abre o canto. Elder vem com ele (o tom da música me pareceu baixo para Elder, as notas mais graves pesam um pouco em sua garganta). Vocalize aberto em vozes surpreende e agrada.

“Already There” (EC e Madhav Bechara) é um samba balançado, não fosse ele vibrado pela percussão do rei do samba-jazz, Joãozinho Parayba. Elder Costa nos violões divide o canto com o parceiro Madhav Bechara. Valéria Silva também canta, enquanto Robinho Tavares toca contrabaixo e Marcelo Martins (flautas), ele que fez o arranjo para elas, que ressoam com um sopro caloroso.

“Lázaro” (Elder Costa e Paulinho Pedra Azul) tem o violão e o canto de Elder, e o acordeom de Marcos Nimrichter. Comovente e comovido, Elder canta como se orasse com fervor. Uma prece em forma de moda de viola, tira lágrimas quentes do mais frio dos durões. Junto com “Pai João” (o instrumental da abertura), “Lázaro” surge como um dos momentos mais sublimes de um álbum admirável.

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