Aquiles Reis é músico e vocalista do MPB4. Nascido em Niterói, em 1948, viu a música correr em suas veias em 1965, quando o grupo se profissionalizou. Há quinze anos Aquiles passou a escrever sobre música em jornais. Neste mesmo período, lançou o livro "O Gogó de Aquiles" (Editora A Girafa)

Alice Passos enaltece Ary Barroso em novo disco

A cantora Alice Passos divide seu segundo trabalho com os violonistas André-Pinto Siqueira e Maurício Massunaga

Publicado em 22/09/2020 às 20h15
Atualizado em 22/09/2020 às 20h15
André Pinto Siqueira, Alice Passos e Maurício Massunaga
André Pinto Siqueira, Alice Passos e Maurício Massunaga. Crédito: Helena Cooper / Divulgação

Como a prancha se ajusta ao pé do surfista, parecendo ser a extensão de seu corpo, o mesmo ocorre em Ary (Fina flor), o novo CD de Alice Passos, quando as cordas dos violões são como o prolongamento de suas cordas vocais. Alice é uma cantora que a cada dia me arrebata mais, entusiasmo que vem desde que ouvi e escrevi sobre o seu primeiro CD, em 2017: “Simples como habitualmente são as grandes obras; profundos como costumam ser os trabalhos que se perpetuam; simples como voo de passarinho; profundo como amor incondicional; singelo como canto de ninar; intenso como fogo de lamber a alma (...)”.

O Ary do título é simplesmente Ary Barroso. Ouvi-lo cantado por Alice Passos e tocado pelos violonistas André-Pinto Siqueira e Maurício Massunaga é um encanto. Com arranjos feitos a seis mãos (com exceção de dois, um de André-Pinto Siqueira, e o outro feito por Siqueira e Massunaga), o que se ouve é digno do genial ubaiense Ary de Resende Barroso.

“Na Batucada da Vida” (Ary e Luiz Peixoto) vem com intro com cordas presas do violão. Belo desenho. A levada é macia. Alice vai bem nos agudos. E logo ela se vê encaixada entre os dois violões que valorizam a sua voz e o toque de seu tamborim (sim, ela toca tamborim).

“Por Causa Desta Cabocla” (Ary e Luiz Peixoto) tem uma intro delicada dos violões. A voz de Alice é puro afeto. Os violões, em retribuição a tamanha beleza, se entregam a ela, que retribui devolvendo-lhes sua voz embalada para presente.

“Chorando” (AB) é um instrumental. Dupla perfeita, os violões iniciam. Separam-se. Belo arranjo. Um violão chama a atenção para a harmonia e o outro para a melodia. Ali está a essência do talento maiúsculo de Ary Barroso.

Em “Camisa Amarela” (AB), mais uma vez, enquanto os violões novamente desenham com cordas presas. Vem o tamborim de Alice. Uma fermata. Logo os violões arrasam e com Alice finalizam.

“Canção em Tom Maior” vem a seguir, trazendo mais uma preciosidade da verve de Ary. Romantismo que Alice trata com o devido carinho. Um breve intermezzo, e os três fazem brotar novas belezas em tom maior.

“Pra Machucar Meu Coração” (AB), uma das mais belas composições de Ary, encontra a voz respeitosa de Alice. Virtude que é compartilhada pelos violões. Seduzida pelo suingue das cordas, com elas ela ralenta e conduz ao final.

E por falar em suingue, “Morena Boca de Ouro” (AB) tem intro arrasadora dos violões. Quando entregam a melodia para Alice, a moça acrescenta malemolência ao clássico, dando-lhe nova e criativa roupagem.

“Na Baixa do Sapateiro” (AB) vem arritmo pela voz de Alice, que amplia o talento de Ary Barroso, lançando sua voz à frente. O ritmo vem através dos violões. Próximo ao final, vocalises de Alice realizam a proeza de acrescentar belezas ainda mais instigantes à obra-prima de Ary... Meu Deus!

Ouvindo o CD, vê-se que a voz de Alice e os violões de André-Pinto Siqueira e Maurício Massunaga geraram um álbum indispensável – referência da obra de Ary Barroso.

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