Aquiles Reis é músico e vocalista do MPB4. Nascido em Niterói, em 1948, viu a música correr em suas veias em 1965, quando o grupo se profissionalizou. Há quinze anos Aquiles passou a escrever sobre música em jornais. Neste mesmo período, lançou o livro "O Gogó de Aquiles" (Editora A Girafa)

"Cristóvão Bastos e Rogério Caetano": divertimento a quatro mãos

Em 11 faixas, músicos expõem a consideração que têm por seus instrumentos

Publicado em 01/09/2020 às 15h47
Cristovão Bastos e Rogério Caetano lançam álbum pela Biscoito Fino
Cristovão Bastos e Rogério Caetano lançam álbum pela Biscoito Fino. Crédito: Gabriela Pérez/Divulgação

Rogério Caetano (violão de sete cordas) e Cristóvão Bastos (pianista) lançaram o CD "Cristóvão Bastos e Rogério Caetano" (Biscoito Fino). Exímios instrumentistas, eles expõem a consideração que têm por seus instrumentos.

O repertório é autoral. O que o sete cordas e o piano soam é pura brasilidade. Tocam com tal tranquilidade, com tal prazer que, a cada duo, a cada improviso ou solo, vê-se ali um virtuosismo impecável.

Mas não pensem vocês que, por serem “impecáveis”, eles fazem dos seus recursos e dos seus instrumentos algo asséptico, tipo limpinhos, burocratas: não, longe disso. Com quebradeiras suingadas, eles proporcionam ao ouvinte o sabor imaginário de ouvir um naipe com apenas dois instrumentos. É como se tocassem ao vivo.

A sensação é que estão brincando de procurar belezas. E os dois amigos não perdem a chance de tocarem juntos. Caramba, logo ali há um piano e um violão de sete cordas! Entreolham-se. Sorriem. Verificadas as devidas afinações, caem dentro. E tocando desanuviam o semblante, indo até uma descontração afetuosa – a música é a alma revelada.

Uma fermata. O caso é o seguinte: pode ser que nem todos saibam quem são Cristóvão e Rogerinho. Por isso me darei ao desfrute de identificá-los, valendo-me de um disco solo, já gravado, de cada um.

Por exemplo, o CD "Avenida Brasil", de Cristóvão Bastos. A cada faixa ouve-se um piano magistral. Algo como se seu timbre primoroso, tocado por dedos ágeis e resolutos, fosse alçado a níveis inimagináveis – façanha que só os gênios do instrumento alcançam.

Outrossim, um dos CDs de Rogério Caetano é um trabalho para se ouvir atento às baixarias marcantes do violão de sete cordas. Virtuosismo que faz de Rogério Caetano protagonista em toda música que toca.

A maturidade aflorou e hoje os dois se reuniram para tocar em louvor ao trabalho do gigante Rafael Rabello, violonista de sete cordas que morreu ainda jovem – homenagem feita com notas amorosas.

“Um chorinho em Cochabamba” (Rogério Caetano e Eduardo Neves) abre o tributo. Piano e sete se ajuntam e tocam um desenho em uníssono. O piano sai, o sete sola. Os dois alternam improvisos. Para arrasar, os solistas têm como base belas melodias criadas pelos não-solistas: eu as vejo como refinadas e solidárias. Tal concepção permite enobrecer ainda mais os arranjos.

Talvez ainda haja quem diga ser temerário juntar o violão ao piano, já que são instrumentos de harmonia. Se, de fato, havia tal (digamos) barreira, é possível constatar que ela caiu.

Os temas vêm com tudo: “Forró das Palmas” (Rogério Caetano) soa como alpercata no chão de terra; “Choro Saudoso” (Cristóvão Bastos e Paulo César Pinheiro) é um belo choro instrumentalizado pelos dois gênios; “Milena” (Rogério Caetano) é um suspiro em meio às sacudidas; “Sem palavras” (Cristóvão Bastos) tem o DNA de mais uma bela composição de Cristóvão.

Assim é este disco: onze músicas registradas por músicos que sabem bem o que tocam, pois têm o poder de sacralizá-las.

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