Aquiles Reis é músico e vocalista do MPB4. Nascido em Niterói, em 1948, viu a música correr em suas veias em 1965, quando o grupo se profissionalizou. Há quinze anos Aquiles passou a escrever sobre música em jornais. Neste mesmo período, lançou o livro "O Gogó de Aquiles" (Editora A Girafa)

Dois compositores, dois instrumentistas e uma cantora

Colunista explica o trabalho de Michel Friedenson, Teco Cardoso e Anna Setton nas composições de Moacyr Zwarg e Luiz Millan, presentes no álbum "Dois por Dois"

Publicado em 11/08/2020 às 15h35
Atualizado em 11/08/2020 às 15h36
Michel Freidenson e Teco Cardoso – 'Dois por Dois' (Luiz Millan & Moacyr Zwarg)
Michel Freidenson e Teco Cardoso – 'Dois por Dois' (Luiz Millan & Moacyr Zwarg). Crédito: Reprodução/YouTube

Preparem-se para notar a qualidade de um belo CD instrumental. Tentarei o que é quase impossível: descrevê-lo em palavras. Só que não há palavra que entenda a linguagem musical, muito menos um termo exato que a qualifique.

Bem, por este início, acho que deixei clara a minha condição de ser um mero ouvinte metido a besta. Mas há um atenuante para tanta ilusão... eu adoro ouvir música!

Ouvi-las é um prazer que busco, semana a semana, para levá-las até vocês que leem o que escrevo. Outro atenuante, para minha “metidez”, está no fato de eu tentar ser sempre muito honesto em minhas opiniões. Pois todo disco embute as certezas de quem o gravou: registros do seu melhor. 

São trabalhos emprenhados da esperança de serem candidatos ao alto da glória musical. Não há nenhum, eu disse nenhum, disco que, em maior ou menor escala, não tenha momentos de grande valor composicional.

Isso posto, vamos nos por em sintonia para a audição de Dois por Dois (independente). O primeiro “Dois” reúne o pianista e arranjador Moacyr Zwarg e o compositor Luiz Millan. Já o segundo “Dois” conta com o pianista, compositor e arranjador Michel Freidenson e o flautista e saxofonista Teco Cardoso. E a ótima cantora Anna Setton gravou a única música com letra. Seleção esta que, como eu já disse, é toda de Millan e Zwarg. Os ótimos arranjos são de Freidenson, além das colaborações de Teco Cardoso já do estúdio.

“Quem Sabe...” abre a tampa. Com um suingue daqueles de fazer sacolejar o esqueleto, Cardoso e Freidenson dão pinta total do que está por vir. A intro do sax com o piano é breve, mas logo eles dão um show conjunto de beleza. O samba vem com tudo. Os instrumentos provam que se dão bem e arrasam. E mais, no compasso seguinte, um andamento acelerado é a dica para, primeiro o sax e em seguida o piano, demonstrarem seus improvisos (coisa boa!). A bela melodia, encaixada numa rica harmonia, tem o piano indo em frente até o retorno do sax. Ambos desdobram o andamento e levam a um final porreta.

Três temas são homenagens dos autores aos que fizeram por merecê-los. Um trio que certamente sentiu-se acarinhado pelos compositores. Por exemplo, “Craque Michel”, um samba lento, foi feito para Michel Freidenson. O piano faz a cama pro sax. Logo este assume o protagonismo. A seguir, os dois se juntam e finalizam.

“Frevo pra Léa” (para Léa Freire) tem o sax se esbaldando. O piano, suingando, assume o som. Volta o sax. Logo o piano reassume. Em duo agitado, vão ao tema.

“Primeiro Amor” tem piano e flauta em sol. Os dois realçam a sobriedade do belo tema. A flauta improvisa... ô trem “danadibão”, sô.

“Janeiro de 76” é a hora de Anna Setton brilhar. Ótima cantora que é, ela canta a letra que vem a bordo de uma harmonia bem cuidada. Piano e flauta tratam a voz de Setton com desvelo. Ela canta em suave ad libtum. Os agudos vêm afinados... Som de responsa.

Dois por Dois é o compasso exato para a música instrumental brilhar.

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