Aquiles Reis é músico e vocalista do MPB4. Nascido em Niterói, em 1948, viu a música correr em suas veias em 1965, quando o grupo se profissionalizou. Há quinze anos Aquiles passou a escrever sobre música em jornais. Neste mesmo período, lançou o livro "O Gogó de Aquiles" (Editora A Girafa)

"Amuleto" é resultado da obstinação de Rafael Alterio e Celso Viáfora

Novo álbum de Rafael Alterio simboliza a música brasileira do século XXI

Publicado em 15/09/2020 às 15h23
O músico Rafael Alterio
O músico Rafael Alterio. Crédito: Instagram/@rafaelalteriomusica

Após ouvir "Amuleto", CD independente de Rafael Alterio, disponível nas plataformas digitais, dei no pira: “Meu Deus, o que é isso?”

Por considerá-lo um retrato fiel da concepção do disco, conto o que conta Celso Viáfora: “Gravando no Estúdio Gargolândia (estúdio localizado numa bela fazenda onde mora Rafael Alterio), sentado na varanda, (Viáfora) olhou o céu e tudo o mais que havia abaixo dele, reparou na contemplação tranquila e reflexiva de Rafael Alterio admirando a noite, respirou fundo aquele ar cheirando a mato e música, muita música. A partir daí, começava a tomar vida uma ideia que, criada e apurada ao longo de três anos, resultou no disco Amuleto (...)”.

Pois bem, "Amuleto" tem nove melodias de Alterio com letras de Viáfora. Dois gigantes! Não os perceber como geniais é fruto de uma visão mesquinha dos “donos” do mundo da mídia.

Abrindo a tampa, “Amuleto”, música que nomeia o CD, trata da força do sincretismo religioso dos brasileiros. “Ateu É Tu” é a História contada com a verve poética de Viáfora. “Cara ao Sol” abre a roda para Viáfora fazer um duo vocal com Alterio; “Doutor de Mim” troça com o gosto pela automedicação”.

“Fogo no Tacho” tem a melodia ajustada a uma crônica de Viáfora. “Hoje e Nunca Mais” louva a vida em suas múltiplas faces. “Predador”, na qual os versos de Viáfora vibram em sintonia com o mundo presente.

“Simples e demais” é homenagem às companheiras Rita Alterio e Eliane Viáfora, esposas dos dois artesões da delicadeza. “Sinhá Vovó”, única música onde há a colaboração de um terceiro compositor, Bezão, com quem Rafael dividiu a criação da melodia para letra de Viáfora, conta com o coro de Rita Alterio (esposa) e de Mariana Alterio (filha).

Como não existe obra-prima fonográfica sem músicos instrumentistas, nem técnicos, nomeio-os todos por justiça: Webster Santos (violão de aço, guitarra e ukelelê); Tó Brandileone (guitarra); Betto Correia (piano Rhodes e sanfona); Fi Maróstica e Itiberê Zwarg (baixo); Pedro Alterio (violão de aço, guitarra e baixo); Gabriel Alterio (bateria e percussão); Guilherme Kastrup (percussão); Rita e Mariana Alterio (coro); Keco Brandão (piano elétrico); Mikael Mutti (piano acústico, piano elétrico e sanfona) e Rafael Alterio (piano elétrico).

Todos pilotados pela sensibilidade de Mosca (técnico de gravação), Tó Brandileone (mixagem), Carlinhos Freitas (masterização), Rafael Fioravante Alterio (diretor fonográfico), Alê Ciqueira (diretor musical) e Pamela Munhoz (criadora da linda capa).

O novo álbum de Rafael Alterio simboliza a música brasileira do século 21 – feita por compositores que nem todos conhecem, mas que perseveram, criam beleza do imprevisto e têm uma triste sina: ser quase invisível aos ouvidos populares. Ironia: tal destino é de dar dó de quem não os conhece.

Rafael Alterio e Celso Viáfora – dois músicos brasileiros que fazem da música a sua fé –, batem à porta do povo brasileiro que merece ouvi-los. Simples assim.

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