Aquiles Reis é músico e vocalista do MPB4. Nascido em Niterói, em 1948, viu a música correr em suas veias em 1965, quando o grupo se profissionalizou. Há quinze anos Aquiles passou a escrever sobre música em jornais. Neste mesmo período, lançou o livro "O Gogó de Aquiles" (Editora A Girafa)

A primavera do poeta Dhenni Santos

Cantor e compositor celebra a nova estação no EP "Recomeço"

Publicado em 29/09/2020 às 15h37
Atualizado em 29/09/2020 às 15h39
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Capa de "Recomeço", disco de Dhenni Santos. Crédito: Reprodução

Os biomas da Amazônia e do Pantanal queimam, a educação definha, a diplomacia rasteja, uma vacina confiável não é descoberta, o novo coronavírus segue contaminando e matando... É, temos pouca coisa a comemorar. Mas eis que ao cantor e compositor Dhenni Santos ocorreu celebrar a... primavera. Para tanto lançou o EP "Recomeço" (em formato digital, distribuído pela Fina Flor/Trattore).

Mesmo com fascistas e milicianos dando as cartas, seguiremos cantando ao sol, o astro-rei, que o poeta imagina que nos aquecerá mais uma vez e sempre. Como os cães da rua, uivaremos à lua, coberta pela fuligem, e choraremos àquela fumarada como a desilusão que cobre tudo, como a solidão cravada no peito dolorido do poeta. Vadia é a dor da morte. E não adianta dormir... a dor não passa, companheiro.

A primavera bate à porta... impossível esquecer o que disseram Wilson Batista e José Batista, e que Paulinho da Viola cantou: “(...) Meu mundo é hoje/ Não existe amanhã pra mim (...)”. Sem ele, o presente não vingará.

Em seu novo trabalho, Dhenni Santos revira a alma de quem o escuta cantando o amor à primavera: músicas que nos rebuliçam por serem premonitórias. Os arranjos coletivos têm a magia de uma primavera, que florescerá ainda que no asfalto.

O EP independente abre a tampa com “A Primavera Chegou” (Dhenni Santos e Maria Olivia). Com uma formação instrumental enxuta, Dhenni canta acompanhado por Léo Santos (teclados) e Daniel Drummond (violão e mixagem): melodias e versos de uma beleza que de nostálgicos não têm nada. Ao contrário, têm um gosto bom de liberdade – lembrando que o futuro é um momento ainda a ver... o amor de corpos apartados, lágrimas secando e a dor atazanando a vida, que pode se esvair em poucos instantes, pelo vírus macabro. O vírus invisível quer a morte. Mas Dhenni canta à vida.

“Para Aprender Dançar Baião” (Dhenni Santos e Maria Olivia) Dhenni canta com a parceira. Ainda tem Kiko Horta na sanfona, Durval Pereira na percussão, Didier Fernan no baixo e Fabiano Medeiros na mixagem: a sanfona resfolega. A alpercata levanta poeira. Quem nunca experimentou o remelexo, que trate de assuntar por aí (ô trem bão).

“Recomeço” (Dhenni Santos e Fernanda Cunha) tem Dhenni ao violão, cantando em duo com a sua parceira, Kiko Horta na sanfona, Durval Pereira na percussão e Didier Fernan no baixo, enquanto Fabiano Medeiros fez a mixagem: assovio e o violão iniciam. Um samba lento manifesta desejos extravagantes. A vista se perde horizonte afora. Juntos é bom, abraçados é bem melhor. Os cantos em terças são sublimes, sem pressa. O vento sopra um adeus desesperante. Uma gaivota abre as asas. A fuga, em busca de outros saberes, traça o caminho da vida, desenhado na fé.

Seja bem-vinda a sua lembrança, Dhenni. Sua sensibilidade de compositor tira do fundo da alma o frescor prometedor da primavera. Sim! A hora é de buscar o que nos faça sorrir e cantar, algo que nos afirme que, assim como a primavera, a esperança há de frutificar.

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