Aquiles Reis é músico e vocalista do MPB4. Nascido em Niterói, em 1948, viu a música correr em suas veias em 1965, quando o grupo se profissionalizou. Há quinze anos Aquiles passou a escrever sobre música em jornais. Neste mesmo período, lançou o livro "O Gogó de Aquiles" (Editora A Girafa)

Dante Ozzetti e Luiz Tatit mostram seu talento em "Abre a Cortina"

Os dois deram de comemorar 25 anos de estradas tortuosas

Publicado em 19/10/2021 às 19h20
Dante Ozzetti e Luiz Tatit
Gal Oppido / Divulgação. Crédito: Gal Oppido / Divulgação

Tudo começa de modo quase espiritual: a mente vagueia; avassaladora, a energia emerge do corpo; a cabeça tonteia; a memória vacila; a lágrima seca; o estupor impressiona. Abrindo caminho por entre neurônios encandecidos, imagens surgem de forma abstrata e a beleza se amostra inteira. É assim que tudo vem à tona.

Tudo agora é um recado à alma. Ela que se deixa abraçar no CD "Abre a Cortina" (Circus), a partir de senhas cultivadas na terra. Dois personagens são os protagonistas do álbum, com o qual derrubam cercas e incentivam fantasias: o compositor, arranjador e violonista Dante Ozzetti e o professor, escritor e compositor Luiz Tatit.

Os dois deram de comemorar 25 anos de estradas tortuosas, por onde caminham com as costas voltadas para o pôr do sol, andando em busca do raiar do momento seguinte à noite.

Todas as composições de Abre a Cortina são de autoria de Dante Ozzetti e Luiz Tatit. Eles cantam juntos e cantam em duos com diferentes parceiros, todos à altura das músicas inéditas.

Capa do disco
Capa do disco "Abre a Cortina", de Dante Ozzetti e Luiz Tatit. Crédito: Divulgação

A meu pedido, detalhes do trabalho me vêm por Tatit e Ozzetti. Digam aí, rapazes: “Os arranjos com bases, ora em piano, ora em violões, têm como linha que permeia todo o disco um naipe formado por fagote (Fabio Curi), cello (Adriana Holtz), viola (Fabio Tagliaferri) e flauta (Marta Ozzetti). Esse naipe, além de dar unidade, oferece um tom orquestral, quando trabalha nas extremidades com dois instrumentos de sopro e no centro com dois instrumentos de cordas”. Meu Deus do céu, o que é aquilo!?

Tudo ali tem sabor de genialidade. “Ao Menor Sinal” tem a primazia de abrir a porta da sutileza – beleza que tem o dom de confrontar a sandice das mortes provocadas por malfeitores, genocidas, que parecem matar por míseros dinheiros.

O carimbó vem assanhado pela união de díspares caminhos musicais. A ligeireza do andamento da música, ao menor sinal de sua concepção, gera a expressão que tem compromisso com a vida. Assim é que desponta o sinal, diante do qual o ouvinte se põe a matutar. E assim o ritmo ganha a força e a velocidade emprenhadas de soluções harmônicas. Tudo no aguardo de um período mais que perfeito, sem vidas desperdiçadas. Mãos que não se largam.

Dante: “(...) O fagote usado como parte da linha de baixo. (...) Sua razão remete à tuba. Os detalhes dos contrapontos são feitos pelo clarinete, que faz um desenho rítmico especial, com o fagote, tocado por Zezinho Pitoco”.

A fantasia utópica, vinda a nós desde o Brasil escravagista, carrega a riqueza musical que nos engrandece, ilumina e protege. Para tanto, a música de Dante e Tatit reverencia a brasilidade, esmererilando-a em mil e uma sonoridades.

Busquem o CD Abre a Cortina, físico ou digital, nalguma plataforma de música ou numa boa loja. Encante-se com a envergadura musical de Luiz Tatit e Dante Ozzetti. Suas canções nos trarão a esperança de que, ao abrirmos a cortina, nos depararemos com o sol de um novo dia: onde o sinônimo de vida é alma, nunca morte.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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