Aquiles Reis é músico e vocalista do MPB4. Nascido em Niterói, em 1948, viu a música correr em suas veias em 1965, quando o grupo se profissionalizou. Há quinze anos Aquiles passou a escrever sobre música em jornais. Neste mesmo período, lançou o livro "O Gogó de Aquiles" (Editora A Girafa)

"Peguei a Reta", de Paulo Sérgio Santos, é uma paixão irresistível

Álbum instrumental conta também com os trabalhos de  Diego Zangado (batera e percussão) e Caio Márcio Santos (violões)

Publicado em 21/09/2021 às 16h00
Paulo Sérgio Santos
Paulo Sérgio Santos. Crédito: Divulgação

Hoje a música instrumental está na área. Para começo de conversa, vou logo avisando: não contem com a minha isenção para redigir uma resenha sobre o que venho ouvindo há algumas semanas – "Peguei a Reta" (Kuarup), o novo álbum do clarinetista Paulo Sérgio Santos. Por ser seu fã, minhas palavras serão sempre de júbilo em louvor ao talento do músico instrumentista brasileiro. Com Paulo Sérgio Santos estão Diego Zangado (batera e percussão) e Caio Márcio Santos (violões).

Não consigo me lembrar se conheço Paulo Sérgio Santos pessoalmente. O que posso afiançar é que aprecio o timbre de sua clarineta desde sempre – ao ouvi-la pela primeira vez, chapei.

A clarineta é um instrumento que permite ao bom clarinetista trazer à luz sons extranaturais. Aliás, reza a lenda que quando a clarineta se apaixona pelo clarinetista, tal fenômeno chama-se Paulo Sérgio Santos... Eu acredito piamente nesta assertiva – não fosse ela proclamada pelo autor deste texto, ora bolas.

A sonoridade da clarineta resta ainda mais encorpada ao soar embelezada pelos violões, pela batera e pela percussão. Os arranjos têm como que uma volúpia desconcertante. Escritos por Caio Márcio Santos, cada um traz o som para mais perto do ouvinte. Ao abraçá-lo, a alma de toda a gente agita – enquanto isso, o trio vibra na mesma frequência, num entrosamento de alta voltagem.

A tampa abre com “Apanhei-te Cavaquinho”. A obra-prima de Ernesto Nazareth e Ubaldo ganha ainda mais força quando, num arroubo virtuosístico, o andamento é multiplicado por mil. É como se o arranjo fosse uma montanha-russa: vem de leve, curtindo a melodia, engrandecendo a harmonia, num suingue que faz o pelo arrepiar.

Mas aos poucos o trio, suingado como ele só, vem como que subindo lentamente ao ponto mais alto da montanha-russa. Hora de prender a respiração. Os acordes sugerem que o trenzinho chegou e deu um tempo no topo... O arranjo parece sugerir que o ouvinte levante os braços e comece a gritar. O andamento sai em desabalada carreira. Sem respirar, chego a temer que os três tropecem na própria rapidez. Qual o quê, os três tiram de letra o affrettando mágico.

Um tempo para respirar e lá vão Paulo Sérgio Santos, Caio Márcio Santos e Diego Zangado levando o arranjo ao final. Sorridente, a clarineta lança um olhar apaixonado a quem lhe dá vida – paixão irresistível. Meu Deus!

Seguem-se as treze músicas do álbum, onde cada uma é como um passeio na praia. Desenhos, em uníssono ou abertos em notas, só fazem reafirmar que o trio soa à perfeição. O batera usa as peças de seu instrumento com sábio comedimento. Os violões se mostram prontos para sempre timbrar... E assim, o álbum expõe um primor de repertório e instrumentação.

Viva a música instrumental brasileira!

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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