Aquiles Reis é músico e vocalista do MPB4. Nascido em Niterói, em 1948, viu a música correr em suas veias em 1965, quando o grupo se profissionalizou. Há quinze anos Aquiles passou a escrever sobre música em jornais. Neste mesmo período, lançou o livro "O Gogó de Aquiles" (Editora A Girafa)

O dia em que Manu Cavalaro me pegou de surpresa

Cantora, pianista, compositora e educadora vocal apresenta seu segundo álbum autoral, "Canções para Iluminar o Mundo"

Publicado em 14/09/2021 às 12h35
A cantora Manu Cavalaro
A cantora Manu Cavalaro. Crédito: Divulgação

Para avaliar uma possível resenha, absorto, eu ouvia o canto de uma voz masculina. Surpreso, não percebi que o YouTube trocara a música que eu ouvia. Só então percebi que uma mulher cantava: que voz! Meu Deus! Quanta personalidade! Que timbre! Quanta afinação, quanto balanço... era Manu Cavalaro.

Cantora, pianista, compositora e educadora vocal, ela cantava uma das músicas de seu segundo álbum autoral, "Canções para Iluminar o Mundo" (independente), do Brazú Quinté, grupo que mistura a sonoridade erudita dos grupos camerísticos à guitarra elétrica, e do contrabaixista e violonista Franco Lorenzon. A mixagem e a masterização são coisas de craque.

“Primeira Estrela” (Luhli, Lucina e Sonia Prazeres) é o que se pode chamar de uma canção que fala ao coração. Um arranjo delicado expõe o conteúdo vocal de Manu. Como ela canta, meu Deus. Sua voz me surpreendeu pela forma como vem à luz, maestria de quem dá asas à voz e aos instrumentos em pleno voo. Todos afinados com a concepção alcançada em pleno ato do cantar. Seja com a voz se multiplicando em terças, ora ad libitum e suingada, Manu tem no rosto um semblante de paz.

“Canções para Iluminar o Mundo” (Manu Cavalaro). Cada canção vem à terra, limpa o céu, rompe barreiras e brota uma flor no quintal das casas. A cor chama a atenção de quem presenciou a mutação da tempestade em vida. O arranjo descobre mil e uma interpretações para violão, cello, baixo, percussão, piano violino e flauta. Atuações soberbas, dignas de aplausos em cena aberta.

“Baião de Oração” (Manu Cavalaro): embora a melodia seja suingada de tudo, ainda mais vestida para encantar como está, a levada faz sacolejar desde os nordestinos até os sulistas. Todos sacudindo os miolos, entorpecidos que parecem estar, vendo passar o vilão negacionista falar na TV.

“A Vida Que a Gente Leva” (Fátima Guedes) vem cuidadosa, como quem sai a passeio. Os instrumentos tocam à beleza, nunca à tristeza. Vida levada aos trancos e barrancos. Medo que nos põe à beira de um cansaço mortal, capaz de nos enterrar nesse mundo sem que pedíssemos.

Neste momento, quando a alegria parece ter dado vez à agonia, o destino traçado a ferro e fogo, e o tempo fugindo parecendo não querer voltar, sem rumo, somos governados por farsantes que, mesmo sabendo a dor da morte em vida, insistem em nos humilhar.

Mas não! Mil vezes não! Antes de sucumbirmos, vamos à luta cantando com Manu Cavalaro as canções que iluminam o mundo, e com Violeta Parra... “Gracias a la vida, que me ha dado tanto”.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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